O economista Edmar Bacha, um dos formuladores do Plano Real e que também participou do Plano Cruzado, diz que o Brasil ainda não consegue exportar de forma vigorosa, atividade que também não foi prioridade na reação à crise do petróleo. Para ele, os resultados do choque de 1973 foram tão sérios por causa da resposta brasileira: sem ajuste nem promoção de vendas externas.
O que aconteceu com a economia brasileira em 1973?
A economia brasileira vivia o milagre econômico e uma das implicações era a dependência do petróleo. Já estávamos com déficit na balança comercial antes mesmo do choque, mas era aparentemente manejável. Além disso, já financiávamos as importações excedentes com dívida externa, mas tudo dentro de um limite. A inflação era crescente, mas os índices eram controlados. A economia já vinha excedendo seus limites, mas adotava uma política que escondia seus problemas. Quando veio a crise do petróleo, foi um choque extraordinário.
Houve erro na estratégia para lidar com a crise?
A opção foi enfrentar o momento com substituição de importações. Em vez de se combater a inflação, aperfeiçoou-se a indexação. O problema (da crise do petróleo) se tornou tão sério por causa da resposta. Em vez de ajuste, o governo resolveu deixar a inflação e o endividamento dispararem. A Coreia do Sul fez uma política certa de ajustamento, seguida por promoção de exportações. Ela resolveu exportar para o mundo e isso deu muito resultado. Fizemos a política errada: pau na máquina e indexação. Aqui, tentou-se contrair as importações, mas foi pouco. Mesmo com o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) a economia perdeu gás. Com o segundo choque, aí é que a gente quebrou mesmo. Os juros dispararam nos Estados Unidos e estávamos endividados até o nariz. Era uma dívida impagável. O assunto só se resolveu nos anos 90. O Brasil parou: um longo período perdido.
Há futuro para a indústria no Brasil?
Que importância o pré-sal pode ter para a economia brasileira?
Quando o pré-sal apareceu, parecia uma abundância extraordinária. De lá para cá, no entanto, muita coisa mudou. O pré-sal parece não ser essa maravilha toda. O leilão recebeu poucos investidores e apareceram reservas de petróleo em novos locais, além do gás de xisto ter surgido como alternativa. Ou seja, a preocupação sobre a escassez do petróleo arrefeceu. Além disso, o regime de partilha pode ter tido influência, ao trazer incertezas.
A economia brasileira ainda carrega marcas da época do choque?
Continuamos sem conseguir fazer uma atividade vigorosa de exportação e somos submetidos a uma contínua substituição de importações com essa política de conteúdo nacional. O aumento de exportações visto nos últimos anos foi baseado em commodities. Sem indústria exportadora, não se incorpora tecnologia nem se tem escala. A ideia de promoção de exportações é central para tornar-se um país desenvolvido.
Fonte: O Globo
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