O tema é antigo e complexo. Os dados continuam denunciando uma estagnação na produtividade do trabalhador brasileiro. Como os outros países melhoram, vamos ficando cada vez mais para trás. O intrigante é que a estagnação continua, apesar do aumento do nível de escolaridade da população e do aumento significativo dos recursos para a educação. Esse foi o tema da mesa redonda de que participei na data de hoje, em Florianópolis, no IV Fórum Liberdade e Democracia, promovido pelo Instituto de Formação de Líderes de Santa Catarina. O leitor pode acessar aqui os dados que apresentei no evento.
Onde estão os entraves da produtividade no Brasil? Como no filme Casablanca, vamos aos suspeitos habituais: a educação e o mercado de trabalho.
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No campo da educação, a comparação do perfil da força de trabalho me parece mais relevante do que a comparação dos níveis de escolaridade. A grande diferença entre o Brasil e os países de maior desempenho se relaciona com a proporção da força de trabalho com nível médio de ensino, especialmente com nível médio técnico. A formação técnica ministrada nos países mais produtivos ensina não apenas habilidades relevantes, mas prepara os jovens para uma vida produtiva. O Brasil continua patinando nessa área, com a retórica e ambiguidade prevalecendo sobre o bom senso e a razão. A discussão sobre os recursos do Sistema S poderia mudar de patamar se essas instituições se responsabilizassem pelo todo ou parte significativa do atendimento dessa modalidade de ensino. Competência não lhes falta. Outra importante diferença é a absorção de doutores nas áreas de ciência e tecnologia pelo setor privado.
O outro suspeito habitual é o mercado de trabalho. No mundo atual, e no cenário mais provável, as empresas que avançam qualificam os seus trabalhadores como condição de sobrevivência. E os países que avançam possuem políticas que incentivam as empresas a qualificar seus trabalhadores, por meio de empregos e carreiras “qualificantes”. O índice de adoção de robôs por países e empresas parece ser um bom indicador – a hipótese é que os desafios para utilizar e operar esses equipamentos estimulam os trabalhadores a se manter atualizados. Sem estímulos adequados e com mão de obra desqualificada, as empresas se acomodam no que a literatura econômica chama de “low skills trap”.
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Entre os dois suspeitos estão as pessoas – especialmente os jovens. Esta situação é particularmente dramática no Brasil. A primeira aposta é no tipo e no nível de escolaridade mais promissores para um indivíduo – faltam-nos bons mecanismos de informação e sinalização para ajudar os jovens a estimar suas chances na escola e no mercado de trabalho. Terminado o estudo, um bom primeiro emprego aumenta a chance de uma carreira promissora. E os jovens são os que mais têm dificuldade de conseguir emprego – especialmente o primeiro. E os demais empregos estão fortemente associados à qualidade do primeiro. A maioria das políticas de criar empregos “faz-de-conta” – iniciativas tipo PRONATEC, que quase sempre “qualificam” para empregos que não existem, estágios de curto prazo e tantos outros “programas de impacto” – ou “programas de geração de emprego e de renda”, tão caros ao oportunismo político, apresentam resultados nulos ou negativos. Uma competente avaliação do programa Jovem Aprendiz, por outro lado, sugere que os jovens que permanecem no primeiro emprego por pelo menos dois anos, e especialmente os que trabalharam em empresas de porte maior, logram mais benefícios ao longo do tempo. Ou seja: existem instrumentos que, se bem calibrados, poderiam contribuir para nos ajudar a tirar o pé do barro.
O país carece de uma política de formação de capital humano.
Fonte: “Veja”, 14/03/2019