A implantação de escolas do Ensino Médio em tempo integral (sete ou mais horas escolares diárias) faz parte hoje de uma política pela melhora da qualidade do ensino público no Brasil. Tais escolas foram inspiradas no chamado modelo de Pernambuco, iniciado há 14 anos, que colocou o estado na primeira posição do ranking nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ensino Médio. Pernambuco é também a rede de ensino de menor taxa de abandono escolar no país.
Outra experiência exitosa nessa mesma direção – de escolas de Ensino Médio em tempo integral – foi a do estado do Rio de Janeiro, que incluiu no currículo escolar, de forma intencional, o desenvolvimento das chamadas habilidades socioemocionais, numa parceria com o Instituto Ayrton Senna. Um dos resultados verificados foi o salto fantástico de qualidade do ensino público do estado do Rio de Janeiro no período de uma única gestão governamental, saindo da décima para a quarta posição no ranking do Ideb acima aludido.
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A escola que serviu de referência para a implantação desse modelo foi o Colégio Estadual Chico Anysio, mais conhecido como CECA, localizado no bairro de Andaraí, na cidade do Rio de Janeiro. O CECA foi a segunda escola mais bem posicionada no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), entre as escolas estaduais do Brasil de mesmo nível socioeconômico.
Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, fez uma simulação para responder que impacto isso teria na posição do Brasil no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), caso viesse a adotar em todo o país tal modelo de escolas de tempo integral com educação integral. E a resposta foi surpreendente. O Brasil sairia das últimas posições desse ranking, mostrado em vermelho no quadro abaixo, para uma posição intermediária – em amarelo –, superior à posição de vários países, dentre eles os Estados Unidos.
Isso mostra que podemos superar, tendo vontade política e recursos, o atual quadro de baixa qualidade do ensino público em nosso país.
Contudo, é preciso também reconhecer que não podemos imaginar, ao menos no curto ou médio prazo, uma política universal de escolas em tempo integral, não só pelos custos envolvidos, mas também por considerar os diferentes interesses e projetos de vida de nossos jovens.
Por outro lado – até para não confundir tempo integral com educação integral –, faz-se necessário, aí sim, universalizar uma política de educação integral para todas as nossas escolas, na perspectiva de não ampliar as atuais desigualdades educacionais. É dentro desse contexto que o Instituto Ayrton Senna se coloca para, em colaboração com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, desenvolver uma política de educação integral em escolas de tempo parcial dos anos finais do Ensino Fundamental.
Fonte: “IstoÉ”, 23/05/2018