As provocações do Ministro da Educação, o contingenciamento de recursos do MEC e as vigorosas passeatas e demonstrações de descontentamento em todo o país marcam o fim de uma era. Os otimistas acham que o Brasil seguirá o destino da Grécia, mas se esquecem de que por lá existia o colchão da Comunidade Europeia. Não faço ideia do que pensam os pessimistas.
Os movimentos de rua deixaram claro que o tema da educação aglutina os mais diferentes grupos de interesse. Esses movimentos, como em 2013, foram apropriados para expressar diferentes descontentamentos – não necessariamente relacionados com a educação. O que parece unir a todos é a unanimidade a respeito de que recursos para a educação não devem ou não podem estar sujeitos a limitações.
A má notícia é que essa era chegou ao fim. Independentemente das convicções dos governos municipais, estaduais e do governo federal sobre a importância e mérito da área: a situação financeira do país não vai conseguir atender a todas as demandas – por mais justas que sejam. A Reforma da Previdência é apenas o boi de piranha, mais sangue irá ocorrer nas próximas décadas. O estrago causado à economia e aos bons costumes foi gigantesco.
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A crise financeira é apenas parte do problema. A outra decorre das mudanças demográficas: hoje temos 63,8 milhões pessoas de zero a 20 anos de idade e 20 milhões acima de 65. Em 2060, teremos respectivamente 48,3 e 57,6 milhões. Crianças não votam, idosos votam, vociferam e morrem se não houver atendimento imediato. E as condições de diálogo e debate se tornam cada vez mais rarefeitas.
Assim, as vias de saída para melhorar a educação se tornam cada vez mais estreitas.
Recursos para melhorar a qualidade só ocorrerão com aumento da eficiência. Aumento de recursos só virá de aumentos da produtividade da economia, refletida em aumento do PIB.
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A crise econômica e as mudanças demográficas puseram fim à era do mais – mais escolas, mais professores, mais vagas, mais recursos. Essa era permitiu um crescimento vertiginoso da oferta de matrículas e de recursos para o setor. Permitiu a formação de impensáveis e improváveis consensos. Agora começa a disputa pelo que sobrou. Ou pelo que vier a sobrar. Cherchez la femme!
Fonte: “Veja Online/Educação em Evidência”, 17/05/2019