“A educação ainda está longe de ser uma prioridade em nosso país. O que se entende por qualidade ainda não está claro para a maioria dos brasileiros. Para alguns, qualidade pode representar acesso à escola e uma boa merenda. Por outro lado, o aumento dos anos de estudo da população brasileira e a maior presença dos órgãos de controle na busca de maior eficiência, eficácia e efetividade começam a mudar essa percepção. Há dez anos, a educação encontrava-se na sexta posição na ordem das prioridades nacionais, e hoje está na terceira posição, muita próxima da segunda colocada – a segurança pública. Perde apenas para a saúde.
[su_quote]Sem bons professores, nenhum país terá um futuro sustentável[/su_quote]
A educação é o principal vetor capaz de alinhar o desenvolvimento econômico com o social – um dos grandes desafios brasileiros. Portanto, valorizar a oferta de uma educação de qualidade, e não de qualquer educação, é um passo decisivo para um país mais justo. Isso significa oferecer a todos uma educação básica que leve o aluno a aprender o que é esperado a cada ano escolar, que o possibilite a concluir o ensino médio na idade correta, aos 17 anos de idade; e que o capacite a dar prosseguimento aos estudos, no ensino superior ou na formação que escolher para se preparar para o mundo do trabalho. Para isso é preciso ter professores valorizados e bem formados: sem bons professores, nenhum país terá um futuro sustentável. É preciso também estruturar um currículo que dialogue com os desafios do século XXI, alinhando o desenvolvimento de competências cognitivas com o daquelas que preparam para a vida – as chamadas habilidades socioemocionais –, e provendo nossas escolas com os equipamentos e insumos necessários para que esse desenvolvimento se dê.
Em um país de tamanho continental e federativo como o Brasil, não é possível vencer esses desafios sem colocar em prática o regime de colaboração entre as três esferas administrativas – federal, estadual e municipal. O trabalho em colaboração desempenha um papel estratégico nestes novos tempos, especialmente levando-se em conta as estreitas margens de recursos financeiros da larga maioria dos municípios e a escassez de quadros técnicos para elaborar e implantar projetos e programas.
Para um país que deseja ser protagonista no século XXI, é preciso entender que a educação básica é apenas uma etapa do desenvolvimento formativo ao longo da vida. É fundamental que os nossos jovens deem prosseguimento aos estudos.
Nas duas situações – da educação profissional e do ensino superior –, o Brasil ainda precisa fazer um grande esforço para ampliar as matrículas, não obstante o crescimento notável verificado nos últimos anos. A implantação dos programas governamentais Prouni e Fies de financiamento para o acesso ao ensino superior vem permitindo uma notável expansão das matrículas. Entretanto, a atual crise econômica e política por que passa o país pode ser um impeditivo para que as metas previstas para os próximos dez anos sejam atingidas, de acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE).
As universidades, em particular, têm ainda um desafio adicional: o da internacionalização de suas atividades. Isto significa, por exemplo, pensar na oferta de cursos e disciplinas bilíngues, de forma que possa ampliar a presença de professores e alunos estrangeiros nos seus quadros. Nesse cenário, é preciso que as universidades sejam menos burocráticas na revalidação de diplomas e estudos obtidos em universidades fora do Brasil.
É preciso fazer um exercício de prospecção, pensando nas grandes mudanças que podem ocorrer no mundo e na educação num futuro não muito distante – o ano de 2030. E, a partir daí, tratar a educação de um ponto de vista sistêmico e buscar uma visão de futuro. A educação de boa qualidade é fundamental como elemento de libertação e de justiça social. Por isso devemos dar à educação brasileira um clamor de urgência nacional, de total prioridade. Mesmo que alguma eventual crise ocorra, como agora, essa agenda é inadiável!”
Fonte: Época, 20/10/2015.
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