Nesta semana esteve no Brasil a educadora Joanne Weiss, que coordenou, no governo Obama, o esforço de elaboração de orientações curriculares da pré-escola ao último ano do ensino médio. O esforço foi apoiado por incentivos para estados que a ele aderissem e envolveu mais do que apenas redigir o conjunto de competências que se esperava que os alunos alcançassem a cada ano de escolaridade. Incluiu capacitação de professores, modelos de avaliação e materiais de apoio aos docentes.
Ao ouvi-la falar sobre acertos e erros da estratégia americana, em que 46 estados acabaram adotando o que ficou conhecido como Common Core, pensei na nossa realidade. Em meio à maior crise fiscal e institucional dos últimos anos, quando há poucas possibilidades de um diálogo equilibrado envolvendo interlocutores com visões políticas diferentes, uma iniciativa pública avança de forma consistente: a criação de uma Base Nacional Comum, prevista na Constituição de 1988, que deverá fixar o que os alunos devem aprender.
Diferentes ministros, desde 2015, participaram do esforço, e o documento, depois de ampla consulta e duas versões depois, está agora no Conselho Nacional de Educação (CNE) para ser analisado. Corretamente, o CNE decidiu realizar audiências públicas regionais para ouvir sugestões, antes da decisão final.
Mas, segundo Joanne, esta é a parte fácil do trabalho: redigir o que deve nortear o trabalho das escolas, estabelecendo direitos de aprendizagem dos alunos em termos de competências que se espera que desenvolvam. O difícil será a implementação, sem falar que ainda não estamos analisando a parte referente ao ensino médio, talvez a mais difícil e polêmica.
Não adianta ter uma Base apenas para mostrar aos visitantes. Ela precisa acontecer na sala de aula e isso requer envolver Estados, municípios e escolas na tradução da Base em currículos, preparar, com os professores, materiais instrucionais alinhados à Base, sejam livros, aulas digitais ou cadernos pedagógicos, e promover avaliações que forneçam informações aos docentes e aos gestores sobre a aprendizagem dos alunos.
No entanto teremos perdido uma grande oportunidade se não aproveitarmos este momento para rever a formação de professores no país. As licenciaturas estão ainda muito distantes da prática docente e não preparam para uma profissão, enquanto a formação continuada em serviço não valoriza a equipe de trabalho na escola e reforça o academicismo da formação inicial.
Se não enfrentarmos essa questão com coragem, como fizeram os países que contam com bons sistemas educacionais, continuaremos patinando. Precisamos educar melhor as futuras gerações.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 23/06/2017.
No Comment! Be the first one.