Ao nos debruçarmos nos reflexos da cotação do dólar para as pequenas empresas, vemos efeitos positivos e negativos. Enquanto as exportadoras planejam aumentar a fatia das vendas no exterior, as importadoras estão apreensivas. É o caso da publicitária Ana Simões, da A&S, que importa produtos de decoração, papelaria e cozinha com apelo naquilo que o mercado convencionou chamar de ‘fun design’. A empresária, que começou o negócio em 2011, afirma que o sobe e desce da moeda norte-americana dificulta muito sua operação.
“Não podemos mexer na tabela mensalmente. Acabamos perdendo rentabilidade ou não ganhamos nada se vender”, lamenta Ana, que já chegou a cancelar pedidos de produtos cujos preços, simplesmente, inviabilizariam as vendas. Por isso, para a empresária, 2015 será o ano da sobrevivência – sem perspectivas de crescimento e com faturamento próximo ao alcançado por ela no ano passado, cerca de R$ 1 milhão.
Para o primeiro semestre de 2016, a empresária também não planeja nenhum grande investimento. “Acho que o principal problema é a instabilidade, não saber se o dólar vai aumentar mais, vai baixar, se a Dilma vai cair, se não vai. Essa instabilidade gera insegurança nos próprios clientes. Muitas vezes, eles não caíram em vendas, mas é uma coisa tão psicológica que ele tem medo de efetuar compras porque vai que amanhã para ou mês que vem piora.”
Por outro lado, a Nugali Chocolates planeja aumentar a fatia das exportações no faturamento. O plano é crescer dos atuais 6% para 20% em até três anos. “Apesar da gente não acreditar na estratégia de só depender da cotação da moeda, naturalmente o câmbio ajuda quando estamos tentando abrir novos mercados e a marca não é tão conhecida. Facilita as coisas”, analisa Ivan Blumenschein, que é sócio do negócio com a mulher Maitê Lang.
A empresa de Pomerode, em Santa Catarina, investe na exportação de chocolates com características do Brasil, como o crocante de açaí. Atualmente, a Nugali está em processo para iniciar as exportações para os Estados Unidos. Mas mesmo no País, o empresário afirma que não sentiu grande retração. “A gente sabe que em toda crise sempre penaliza mais, e primeiro, quem tem menos. Nosso público-alvo está disposto a pagar pela qualidade”, afirma Ivan.
Potencial
Para quem está de olho no mercado internacional, o gerente de exportação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Christiano Braga, alerta que a companhia precisa estar preparada para esse tipo de venda – não deve se empolgar apenas com a cotação do dólar. Para manter um plano de exportação sustentável, a empresa precisa melhor o produto, adaptá-lo, se necessário, e investir na equipe de vendas.
A Apex mantém o Projeto Extensão Industrial Exportadora (Peiex) justamente para ajudar quem pretende investir no mercado internacional. Essa experiência faz com que a agência estime em um intervalo grande – entre oito meses e dois anos – o tempo necessário para que o negócio faça todas as adequações visando as exportações.
O professor de finanças da Fundação Vanzolini, Roberto Lima, também defende a preparação do negócio como meio para garantir que o processo seja contínuo. Ainda segundo o professor, as exportadoras também podem se beneficiar de um adiantamento dos contratos de câmbio para financiar sua produção – já que existe restrição de crédito – e da redução do custo de mão de obra. “Ninguém sabe o que vai acontecer com o dólar, mas não existe expectativa para uma redução muito grande. São taxas atrativas dentro dessa configuração de exportação”, afirma.
O estilista Vitor Zerbinato, por exemplo, está na fase de estudar o mercado e se preparar para começar as exportações no ano que vem. Ele já conseguiu descobrir a preferência das mulheres francesas pelo preto e azul e sabe que a compradora de Dubai busca opções coloridas e estampadas. Para ganhar ainda mais segurança, o estilista ainda vai visitar duas feiras em Paris para analisar o mercado e enxerga caminhos para emplacar suas criações, principalmente, nos mercados russo, chinês, japonês e nos Emirados Árabes. “Meus vestidos são atemporais”, pontua.
Para entender
Por que a alta do dólar?
Vários são os fatores que explicam a recente volatilidade da moeda norte-americana. Além das questões políticas e econômicas internas, há também a questão envolvendo os juros nos Estados Unidos.
O que esperar do futuro?
Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora, não se arrisca a estimar uma cotação futura do dólar e acredita que qualquer palpite é mera especulação. “Não tem piso, não tem teto e nem preço técnico.”
Basta exportar?
Não é bem assim. A Apex estima intervalo grande, entre oito meses e dois anos, como tempo necessário para a empresa se preparar para o mercado externo.
Fonte: O Estado de S.Paulo.
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