Foi quando trabalhava numa multinacional que fabrica produtos de segurança virtual, como anti-spam e serviços de proteção de dados, que o carioca Daniel Lemos, então com 30 anos de idade, teve a ideia de criar sua própria startup.
Ele ocupava um cargo de gerência na área de pós-vendas e tinha como função diária entender se os clientes estavam satisfeitos ou não com as soluções da empresa.
Depois de três anos de experiência na companhia, ele chegou à seguinte conclusão: “Estão comprando um bom produto, mas lhes falta conhecimento para lidar com o dia a dia da ferramenta”. A maior parte achava (e parcela significativa ainda acha) que apenas comprar o produto é o suficiente. Ignoravam o acompanhamento diário.
Assim, em 2005, quando segurança virtual ainda não era prioridade nas companhias, Lemos criou uma empresa que presta serviços de segurança gerenciada. A proposta: vender o produto fabricado por empresa parceiras e o acompanhamento numa oferta só.
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Não foi simples. “Antes, era muito difícil vender projeto de segurança, porque as empresas achavam que nunca iam ser alvo de ataques”, diz Lemos. A melhor forma de defender a importância do serviço, então, era apelar para o argumento mais básico de todos. “Se você for atacado, você não vai conseguir atender seus clientes”, ele dizia.
Os últimos dez anos, no entanto, mudaram a percepção do “não vai acontecer comigo”. Uma série de empresas caiu em ataques cibernéticos nesse período.
O Yahoo, por exemplo, anunciou que hackers roubaram milhões de credenciais de usuários em três ocasiões distintas (2012, 2013 e 2014) — só em 2013 foram 3 bilhões de contas hackeadas. Também foram atacadas a Sony, a Visa, a Mastercard, a Adobe, o JP Morgan Chase, a Equifax e a Target, para ficar em alguns nomes.
O caso Cambridge Analytica, ao lado dos interrogatórios a executivos de tecnologia no Congresso americano e das leis europeias acerca da proteção de dados, reforçou ainda mais a preocupação das empresas com a segurança virtual. Além disso, em pesquisa do Fórum Econômico Mundial, o risco cibernético apareceu como o principal risco mundial na visão de líderes empresariais, à frente do terrorismo.
Não é à toa que a Real Protect, como foi batizada a startup, vai encerrar 2018 com 370 clientes ativos e cerca de R$ 33 milhões em receita, 65% mais do que em 2015.
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A companhia, que tem sede no Rio de Janeiro e escritório em São Paulo, vende serviços de monitoração do ambiente virtual, proteção de nuvem, proteção de internet, entre outras coisas.
Lemos fornece uma plataforma na qual o cliente consegue acompanhar em tempo real o que está acontecendo na empresa. Seu sistema identifica de modo automatizado as atividades online incomuns e as repassa ao time da Real Protect para avaliação.
Para 2019, a companhia planeja um faturamento de R$ 40 milhões (frente os R$ 33 milhões previstos para este ano). E 2020 será o momento de expansão internacional, segundo Lemos. “Possivelmente, começaremos pelo Chile e depois vamos a mercados como Estados Unidos e Europa”, diz.
Não será uma conquista repentina, como se vê. A empresa tem 13 anos de trajetória e um histórico de crescimento gradual. Ao lado de um cofundador que não está mais na companhia, Lemos começou a empreitada com R$ 50 mil que conseguiu de um investidor anjo conhecido de sua família.
O lucro apareceu já no primeiro ano de operação, ao contrário do que ocorre com a maior parte das startups, que custa chegar ao azul. Em razão de sua experiência anterior, ele já havia identificado bem que existia um problema a ser atacado.
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O crescimento da companhia, naturalmente, não foi e não será exponencial como o de uma startup famosa, já que não se trata aqui de uma solução disruptiva. Lemos identificou um problema latente no mercado e, desde o início, ofereceu-se como uma solução complementar para resolvê-lo. Um caso com um forte quê de praticidade.
A empresa não fabrica nenhum dos softwares que vende junto com seus serviços. Entrega um serviço, no entanto, que vai cada vez mais ao encontro dos interesses das companhias, que buscam terceirizar diversas partes de sua estrutura, incluindo a segurança virtual.
Prevenção é o melhor remédio
A Real Protect não é a única empresa a fornecer serviços de segurança gerenciada. Hoje, até empresas de telecom atuam nesse mercado, como uma forma de compensar a queda na receita com o serviço de telefonia.
A Vivo anunciou suas soluções no setor em 2017 e a Oi, em 2018. Lemos diz que busca diferenciação no quesito qualidade. Em 2013, a companhia obteve o certificado internacional UCS (Unified Certification Standard), que atesta a capacidade de uma empresa de seguir os 10 princípios essenciais de uma organização que fornece serviços de tecnologia.
Os próximos passos, segundo Lemos, incluem investimento em inteligência artificial para aumentar ao máximo o poder de detecção de ameaças ao ambiente virtual das empresas. Já se nota, hoje, que comportamentos de usuários que fogem ao padrão podem ser indícios de armadilha, como um clique num link que direciona a uma página criada há apenas um dia. Mas o cruzamento desse ato com outros comportamentos ou interpretações mais sofisticadas ainda não é algo explorado com intensidade. É nisso que ele pretende trabalhar.
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Hoje, diversas organizações são atacadas por hackers diariamente. Um dos métodos que os criminosos usam é o ataque aleatório, que consiste num ataque automatizado a diversos computadores ao mesmo tempo.
Nesse caso, o hacker nem sabe quem ele está atingindo. Mas, quanto mais ampliar o ataque, mais chances há de que um funcionário morda isca (seja um malware enviado em forma de arquivo ou um link que direciona a um site falso). Outro tipo de ataque é o direcionado, quando o hacker tem a intenção de entrar no sistema de uma empresa em particular. Este é o mais difícil de ser detectado.
É por isso que empresas de serviço de segurança gerenciada trabalham com a máxima de que é melhor prevenir do que remediar. O custo anual para reparar problemas ocasionados pelo cibercrime no mundo será de US$ 6 trilhões em 2021, segundo estimativa da Cybersecurity Ventures.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”