Dentro de pouco tempo o povo brasileiro vai ser chamado a exercer o ato cívico mais relevante em uma democracia: votar. Pensando nestas eleições é que me veio à memória o famoso sermão para o dia de São Bartolomeu, daquele que foi o maior orador sacro de nossa língua e um dos seus maiores vultos literários – o grande Padre Antônio Vieira – sermão este pregado em Roma por ocasião da escolha de cardeais.
Os princípios morais pregados por Vieira naquela memorável oração, de mais de três séculos atrás, são tão atuais que merecem ser trazidos à meditação dos leitores. Dizia o exímio vernaculista, tratando da eleição: “Todo exemplar se reduz a três regras: primeira, com quem se há de fazer a eleição? Segunda, quais devem ser os eleitos? Terceira, quantos se hão de eleger?”. Em três perguntas. Com quem? Quais? Quantos?
E continua sua profunda análise, respondendo ele mesmo à primeira pergunta: “Com quem se hão de fazer as eleições. Com os parentes? Com os amigos? Com os interessados? Não e sim. Não com os parentes, mas com o mais parente. Não com o com os amigos, mas com o mais amigo. Não com os interessados, mas com o mais interessado. Com Deus, In oratione Dei”. Quer dizer Vieira, com estas palavras, que devemos votar de acordo com nossa consciência. Não por influencia deste ou daquele. Não para agradar amigos ou parentes. Mas sempre de acordo conosco, seguindo nossa própria decisão.
Passemos à segunda questão, ainda com Vieira: “Quais devem ser os eleitos?”. Responde Vieira: “Os maus? Claro que não. Logo os bons? Não digo isso. Nem os maus nem os bons, senão os melhores”. Grande ensinamento do mestre. Votar nos melhores.Votar no homem. Votar nos que têm melhores ideias. Nos que tem melhor passado. Não reeleger naqueles que descumpriram suas promessas. Não desperdicem, pois, seu voto. Não o anulem. Não votem em branco. Aqui, pois, fica o segundo pensamento do Mestre: votem no melhor candidato.
Finalmente, a terceira e última questão levantada por Vieira: “Quantos se hão de eleger?”. Responde o pregador com a palavra de Cristo: “Nem poucos, nem muitos: doze”. E mais adiante: “Não basta só eleger o número, senão elegê-lo e declará-lo”. Com isso, quis ele ensinar que a quantidade deve ser preestabelecida, os cargos perfeitamente determinados e, mais importante do que isto, eleitos devem ser empossados. Felizmente, no Brasil, a Justiça Eleitoral cumpre excelentemente este preceito.
Todos brasileiros devem meditar nas santas palavras do incomparável pregador, que conosco conviveu tanto tempo. Na hora sagrada da decisão, na escolha dos que vão representá-los cumpre ter em mente que esta é a hora da verdade: os Governos devem ser julgados, os que se querem eleger devem ser analisados, e os que prometeram e não cumpriram devem ser afastados.
Democracia só se aperfeiçoa na seleção cada vez mais apurada dos que vão representar o povo, porque a honra e credito maior de uma comunidade é que faltem lugares e sobejem beneméritos.
No Comment! Be the first one.