Embora 57 cidades brasileiras estejam com o processo eleitoral em curso até o dia 29 de novembro, data escolhida para o segundo turno, já é possível fazer uma análise do cenário desenhado no pleito do último dia 15, com destaques para vitória da centro-direita, alto índice de reeleição e recorde nas abstenções.
Segundo dados divulgados pela BBC Brasil, o PSL, mesmo com a saída do Presidente Jair Bolsonaro, triplicou de tamanho, passando de 30 para 90 prefeituras até agora; o Avante passou de 15 para 80; o Republicanos, de 104 para 208; e o Democratas, um dos grandes vencedores desse pleito, cresceu 72%, de 265 para 465 prefeituras, com destaque para as capitais: Salvador, Florianópolis e Curitiba, com possibilidade de vitória também em Macapá e Rio de Janeiro, o que seria uma conquista histórica para a legenda.
Leia mais
Foi dada a largada para as eleições municipais; veja o que muda
“A propaganda eleitoral não é gratuita nem para os políticos”, diz advogado
O cientista político Murilo Medeiros fala que em 2018 as urnas se moveram em função do ressentimento pela política, por isso a polarização e extremismos. Já em 2020, houve priorização de candidatos que representassem mudanças seguras e alternativas moderadas. Ouça o podcast!
“Houve uma clara reacomodação dos partidos políticos em 2020. Partidos tracionais como MDB e PSDB, que sempre lideram a quantidade de prefeituras eleitas, foram reduzidos. O MDB continua liderando, mas os dois partidos perderam muito, tanto na quantidade de prefeitos, quanto na de vereadores. Juntas, as duas legendas, perderam cerca de 530 cidades governadas”, disse.
Os partidos tradicionais de esquerda: PSB, PDT, PT e PCdoB, também perderam força, mas em paralelo, o PSOL ocupou um espaço que antes era ocupado pelo PT entre a juventude e novas lideranças. Já no primeiro turno, a legenda dobrou o número de prefeituras, passando de duas para quatro. E hoje disputa o segundo turno em duas capitais, São Paulo e Belém.
Reeleições
O ambiente criado pela pandemia de Covid-19 influenciou o que os especialistas chamam de eleições mantenedoras, ou seja, em que há alto índice de reeleição. Apesar de ainda aguardarmos o segundo turno, a taxa de reeleição já oscila entre 75 a 80%, contra aproximadamente 60% em 2016.
Nas capitais o exemplo fica claro, os 6 prefeitos eleitos no primeiro turno vieram de reeleições, e em Salvador, o candidato eleito era o vice-prefeito, o que caracteriza continuidade. Para o segundo turno, a disputa nas capitais São Paulo e Rio de Janeiro também contam com candidatos que buscam se reeleger.
“A pandemia se tornou um fator importante na eleição municipal. O ambiente de cuidados sanitários deu protagonismo aos prefeitos, trouxe moderação, exigiu responsabilidade dos gestores públicos, diminui a polarização ideológica e resgatou a importância do exercício da política”, explicou.
Abstenção recorde
Desde 2012 que o fenômeno da abstenção tem sido uma crescente no país e este ano, segundo dados do TSE, tivemos o maior número já registrado nos últimos 20 anos: o total de 23,1%.
Apesar de anos anteriores o desinteresse político ter sido um dos principais motivos, em 2020 a crise sanitária foi o principal fator. Em 2012, o número registrado foi de 16,4% e em 2016 de 17,6%.
“Na cidade de São Paulo, que é um caso bem emblemático, 30% do eleitorado se absteve de votar. Se somarmos o número de votos dos dois candidatos mais votados, Bruno Covas (PSDB), com 1,8 milhões de votos, e Guilherme Boulos (PSOL), com 1 milhão de votos, quase atingimos o número de pessoas que se abstiveram, aproximadamente 2,6 milhões”, destacou.
+Eleições 2020 são tema de podcast no Clube Millenium. Assine e confira!
Influência do Presidente e 2022
Ao contrário do esperado graças aos resultados em 2018, o Presidente Jair Bolsonaro não conseguiu transferir votos. Dos 12 candidatos a prefeito apoiados por ele, apenas 4 foram eleitos ou chegaram ao segundo turno.
Entre os principais motivos, destacam-se o fato do governante ter limitado suas declarações de apoio a algumas lives pontuais, a pandemia, que diminuiu a polarização, consequentemente, a onda bolsonarista, e também pelo Presidente estar sem partido, o que dispersou os apoiadores por diversas legendas.
“A falta de um partido político prejudicou muito a estratégia eleitoral do Presidente da República, o que é um alerta para 2022. O centro político emergiu muito mais fortalecido, embora ainda não tenha um nome que personifique uma alternativa eleitoral. E, sem dúvida alguma, as eleições 2020 deixam um cenário aberto e interessante”, finalizou.