Com quase dois anos de atraso, a presidente Dilma Rousseff embarca no próximo dia 30 para uma viagem que, se tivesse sido feita na hora certa, poderia ter ajudado a suavizar os efeitos da crise econômica que o país atravessa. Isso, naturalmente se a política internacional do Brasil não estivesse contaminada pela ideologia bolivariana que infestou a América do Sul nos últimos anos. Dilma irá aos Estados Unidos, país que a receberia em outubro de 2013 numa visita de Estado. Trata-se, na tradição americana, de uma honraria diplomática dispensada aos visitantes mais importantes e indica o mais elevado grau de interlocução do governo dos Estados Unidos. Na ocasião, o compromisso foi cancelado porque Dilma e seus acólitos ficaram irritados com informações passadas por um ex-funcionário de baixíssimo escalão do governo dos Estados Unidos, Edward Snowden. Segundo o rapaz, espiões americanos andaram xeretando as comunicações por e-mail do governo brasileiro. A espionagem teria alcançado mensagens da conta da própria presidente.
[su_quote]Acordos mais vultosos envolvendo corporações americanas e europeias dispostas a investir e gerar empregos no Brasil foram abandonados pelo governo brasileiro[/su_quote]
Dilma e seu séquito tinham todo o direito de se irritar e pedir a Washington esclarecimentos sobre a prática denunciada por Snowden. Foi exatamente o que fez a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, outra chefe de Estado que teria sido alvo da arapongagem. Berlim protestou e marcou sua posição, mas preferiu se valer do problema para obter vantagens no relacionamento bilateral com os Estados Unidos. O Brasil, não. Preferiu fazer birra e abrir mão de uma oportunidade que não se repetirá enquanto Dilma estiver no Planalto. A viagem do próximo dia 30 será do tipo mais corriqueiro e o tratamento dispensado à presidente do Brasil equivalerá ao que é dado aos governantes de segunda grandeza no cenário mundial.
Anão diplomático
É lamentável. Mas a verdade é que, nos últimos anos, o Brasil se apequenou no cenário diplomático mundial com a opção primeiro de Lula e depois de Dilma de virar as costas para o mundo desenvolvido e cortejar os vizinhos latino-americanos e algumas ditaduras africanas. Nada contra o relacionamento com os países de menor expressão — que, a despeito de ter rendido alguns negócios para empresas brasileiras, deixou um rastro de suspeitas com a utilização de dinheiro do BNDES para financiar obras em Cuba, Venezuela e Argentina.
O proselitismo do atraso
Já os acordos mais vultosos envolvendo corporações americanas e europeias dispostas a investir e gerar empregos no Brasil, que sempre pautaram a diplomacia comercial do Itamaraty, foram abandonados pelo governo brasileiro. Que preferiu subordinar os interesses econômicos do país aos destemperos ideológicos do falecido Hugo Chávez e seus amigos. Agora, com Europa e os Estados Unidos em franca recuperação econômica e o Brasil imerso numa crise que ameaça impedir seu crescimento por um bom tempo, fica claro o tamanho do equívoco da opção bolivariana. A viagem ao Estados Unidos pode ser uma boa oportunidade de retomar o diálogo e tentar colocar a situação nos eixos. Desde que, naturalmente, Dilma não queira mais uma vez fazer o proselitismo do atraso em lugar de defender os interesses do país.
Fonte: Hoje em Dia, 07/06/2015.
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