No painel “América Latina em debate: esquerdas em crise?”, realizado, nesta manhã desta quarta-feira, 4 de março, no Centro de Convenções da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo, Gustavo Franco, presidente do Conselho de Governança do Instituto Millenium, e Eduardo Suplicy, ex-senador, defenderam a democracia. Franco fez uma crítica aos regimes econômicos que vigoram no mundo, considerados por ele “pouco democráticos, autoritários, repressivos e antiéticos”. Já Suplicy defendeu a importância de programas sociais para garantir a todos o exercício de valores democráticos, como liberdade e dignidade. Clique aqui e assista ao vídeo do debate.
Segundo Gustavo Franco, com a Queda do Muro de Berlim, em 1989, foi revelado o extraordinário fracasso econômico do socialismo como uma ideia redentora, já que possibilitou ao mundo ver a desigualdade econômica que se passava por trás da Cortina de Ferro e nas economias do Leste Europeu. “O fracasso dessa ideia tinha um impacto muito relevante para o que era ‘ser de esquerda’ e se ‘ser de esquerda’ era buscar esse suposto paraíso que era uma fraude”. Em seguida, houve a reforma desses países, que apresentavam sérias distorções econômicas. “Anos depois, o que hoje nós temos na Rússia, o principal elemento do império soviético, não é bem uma democracia, não é bem um capitalismo, talvez seja um hipercapitalismo governado por máfias, onde o banditismo se entranhou na máquina estatal, que continua grande e poderosa como antes. O serviço secreto migrou para o setor privado e se tornou um elemento perturbador da ética e da organização econômica do país. Nada de melhor é possível dizer sobre a China”, criticou ele.
Para Franco, o Brasil viveu, no começo dos anos 1990, “sua queda do muro” porque foi o momento de quebra de paradigmas. “Iniciamos um processo de reformas em várias áreas”, disse. O economista falou sobre a elaboração do plano de ações para estabilização da economia, que apresentava altas taxas de inflação, de 25% a 30% ao mês: “A nação estava ansiosa para que algo fosse feito, mas não do jeito como foi tentado antes”.
Suplicy abriu o debate defendendo que para oferecer liberdade e dignidade real é preciso uma renda básica mínima para todos. Ele explicou a origem e a importância de programas de renda mínima associados à educação, adotados a partir dos governos Fernando Henrique e Lula. “Nem todos estão recebendo a renda básica de cidadania hoje porque a lei diz que será em etapas, começando pelos mais necessitados, até que um dia todos nós, não importa origem, raça, gênero, idade, condição civil e socioeconômica, teremos o direito inalienável de participarmos da riqueza comum de nossa nação. Isso provavelmente acontecerá nos países da América Latina, nas três Américas e no mundo”, disse o ex-senador.
Suplicy explicou que, ao contrário do que muita gente pode pensar, existe no mundo um lugar que pague dividendos iguais para todos. Ele contou a história de uma pequena vila de pescadores no Alasca, cujo prefeito, nos anos 1960, instituiu um imposto de 3% sobre o valor da pesca para criar um fundo que pertencia a todos. “Deu tão certo que ele se tornou governador do Estado do Alasca. (…) Existem várias aldeias de pescadores no Brasil. Isso poderia ter sido feito aqui”, disse.
O ex-senador ainda defendeu as liberdades democráticas e que as conquistas ocorram de forma pacífica. “Sempre que eu dialogo com os jovens sobre as diversas manifestações, eu sempre defendo que todos os manifestantes não se utilizem de formas violentas”, disse.
O debate integrou a programação da Semana de Relações Internacionais e Economia da FAAP e foi a 45ª edição do programa ‘Imil na sala de aula’, que visa discutir com jovens universitários valores importantes para a construção de um Brasil mais próspero e livre.
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