Apesar de Brasília enfrentar a pior crise da história, o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, aumentou em mais da metade o consumo de água nos últimos dois anos. A elevação chegou a 64,18% entre os anos de 2015 e 2016.
Segundo relatório obtido pela Lei de Acesso à Informação ao G1, só com água, o Alvorada gastou no ano passado R$ 1,6 milhão – R$ 640 mil a mais do que em 2015. Desocupado, o imóvel aguarda a mudança definitiva do presidente Michel Temer e família, sem previsão para ocorrer.
Até agosto de 2016, o Palácio era ocupado pela então presidente Dilma Rousseff. Em nota, a gestão atual informou que, após a mudança de governo, em setembro do ano passado, adotou medidas para reduzir o consumo de água.
“Foram adotadas medidas para a redução dos gastos, envolvendo, por exemplo, a conscientização dos funcionários para o uso racional da água, troca de torneiras e acompanhamento contínuo para verificar a existência de vazamentos”, diz o comunicado.
A nota afirma que, em novembro de 2016, “foi identificado e corrigido um vazamento na rede principal do Palácio”. O governo disse também que vai fazer mudanças no sistema de manutenção e moderniazar hidrômetros e aparelhos sanitários.
Crise hídrica
A crise hídrica na capital do país se arrasta pelo menos desde agosto de 2016, quando o nível dos dois reservatórios que abastecem o Distrito Federal – Santa Maria e Descoberto – começaram a apresentar quedas significativas. O racionamento imposto a parte dos moradores completa um mês nesta quinta-feira (16).
Localizado em área nobre de Brasília, à beira do Lago Paranoá, o Alvorada não foi atingido pelos cortes sistemáticos de água. A área é abastecidada pela bacia do Santa Maria que, apesar da crise, ainda não foi submetida ao regime adotado pelo governo do DF para conter as perdas.
O corte, em vigor desde 16 de janeiro, atinge apenas às regiões abastecidas pelo Descoberto. Juntas, elas constituem áreas de baixo índice de desenvolvimento e somam mais de dois terços da população total do DF – que tem 2,9 milhões de habitantes.
A política de racionamento do DF é alvo de crítica entre os estudiosos em gestão de recursos hídricos. Para o especialista da Universidade de Brasília Sérgio Koide, os prédios do governo deveriam “dar o exemplo para a população”.
“Quando o Palácio da Alvorada ao invés de diminuir o consumo ele aumenta, mostra que há, no mínimo, um descuido dos órgãos públicos”, afirma o professor.
De acordo com Koide, o governo deveria investir em reformas na estrutura dos prédios para poupar água, além de propor um “pacto para abaixar o consumo”. Não só o Palácio da Alvorada, mas todo o governo deveria se unir, um mecanismo que olha o sistema como um todo”, diz.
Símbolo do desperdício
Outro prédio público do DF que se tornou um símbolo de desperdício de água é a Residência Oficial de Águas Claras. Apesar de inabitado desde 2015, o local em que deveria morar o governador da capital consumiu cerca de 750 mil litros de água em 2016.
O volume corresponde ao consumo estimado de 75 casas de médio porte. Essa quantidade seria suficiente para abastecer uma escola com até 500 alunos.
Já a sede do GDF, o Palácio do Buriti conseguiu reduzir significativemente o consumo de água durante o período de crise hídrica na capital. Na comparação de novembro e dezembro de 2016 com o mesmo período de 2015, o consumo foi reduzido em 67,3%.
O G1 pediu também os gastos com água do Palácio do Jaburu, onde mora atualmente o presidente Michel Temer, mas não recebeu resposta.
Palácio da Alvorada
Projetado por Oscar Niemeyer, o Palácio da Alvorada, atualmente desocupado, é a residência oficial do presidente da República. A estrutura é composta por quatro suítes, salão de jogos e sala de cinema. O Palácio tem também um espelho d’água e uma piscina.
O Alvorada foi ocupado pela ex-presidente Dilma Rousseff de janeiro de 2011 até novembro de 2016. Após o impeachment de Dilma, o Palácio vem sendo reformado para receber o presidente Temer. O custo das obras foi de R$ 20.279,65.
Fonte: G1.
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