Na semana que passou, foi organizada em Brasília uma reunião de ex-ministros da Fazenda a propósito da comemoração dos 200 anos do dito ministério. Três dias de festa. Os dois primeiros com ex-ministros de todo tipo, alguns há muito sumidos do noticiário; o terceiro com economistas de perfil heterodoxo, alguns no governo.
A condução dos trabalhos exibiu doses de ecumenismo que não se via desde a “Era Palocci”. Foram várias manifestações ressaltando a cumulatividade da história, que não teria começado em janeiro de 2003 e a que todos os presentes, cada um à sua maneira, teriam contribuído para que chegássemos onde estamos.
Mas nem todos os ex-ministros entraram nesse clima. Um ou outro fez uma declaração mais espetada, revivendo a sua experiência, o que talvez tenha transmitido ao leitor, no dia seguinte, a sensação de assistir a um videoteipe condensado dos grandes pacotes econômicos que o Brasil já viveu.
Não por outro motivo, o mestre Chico Caruso publicou uma charge majestosa, usando a imagem do videoclipe “Thriller”, com o ministro Mantega caracterizado como Michal Jackson e, como figurantes dançarinos, os ministros Bresser, Delfim, Zélia, Galveas e Dornelles, e a também professora Maria da Conceição Tavares.
Foi, contudo, da professora, cuja influência sobre os citados está longe de ser pequena, e da ministra Dilma que vieram as declarações mais contundentes. Tinha sido anunciado o socorro financeiro às securitizadoras americanas Fannie May e Freddie Mac, e o sarcasmo estava em toda parte, afinal, era uma estatização em pleno governo Bush.
À esquerda, todavia, a notícia gerou enorme excitação, como se grandes intervenções estatais, anticíclicas, tipicamente, ou por ocasião de crises bancárias, não fossem parte do acervo de políticas públicas em qualquer democracia liberal no Ocidente e também no Oriente.
O fato é que a professora Conceição declarou, com sua verve habitual, que o neoliberalismo estava morto, o que constrangeu diretamente o ministro Mantega. Na mente do ministro, a porção pragmática deve ter perguntado: “Em que planeta, professora?”. E, na porção responsável, a que impede as autoridades de falar demais, o conselho deve ter sido o de calar sobre o assunto, e por dois bons motivos: não existe propriamente um protocolo “de esquerda” sobre como atuar em crises bancárias e, ao fim das contas, Mantega é a prova viva de que a professora está enganada.
Provocado a comentar a intervenção, o ministro foi sucinto: “Foi pragmatismo responsável”.
(Folha de SP – 13/09/2008)
Excelente artigo.
Lembro- uma certa vez que o Sr. Gustavo Franco fez uma citação de conduta, mais ou menos assim:
Hard no agir e Soft no tratar.
Seria possível rememorar isto?
Grato,
Jordão