O sofrimento de famílias com enchentes e deslizamentos se repete sempre nesta época do ano, na temporada das chuvas. Boa parte desses desastres poderia ser evitada ou amenizada por obras de contenção, mas a lógica do governo tem sido outra. Reportagem do “Bom Dia Brasil” mostrou, com base em levantamento da Contas Abertas, que gasta-se mais para arrumar o que a chuva estragou do que em prevenção.
No ano passado, do total de R$ 1,7 bilhão desembolsados em programas de gestão de risco e de resposta a desastres, quase 65% (R$ 1,1 bilhão) foram usados em ações de resposta. Só 35% para ações preventivas.
Nos últimos seis anos, só 10% das obras de contenção de encostas foram concluídas. Dados do Ministério das Cidades mostram que entre 2010 e 2016, o governo investiu apenas 22,6% da verba prevista para obras de prevenção do deslizamento de encostas.
Dessa forma, de 83 contratos em execução, oito foram concluídos. Existem também 325 contratos em andamento para obras de drenagem urbana, dos quais, apenas 126 foram concluídos.
O Ministério explica que é apenas o gestor dessas obras, isto é, libera os recursos à medida que fica comprovado que as etapas das obras concluídas. A execução é responsabilidade de estados e municípios.
Para o secretário-geral da Contas Abertas, Gil Castello Branco, o governo federal não deveria bloquear os recursos e os municípios deveriam profissionalizar as equipes para atuar na área.
“O problema é que politicamente é mais fácil para a autoridade chegar no cenário do desastre e anunciar medidas, do que procurar desalojar moradores. Infelizmente, nessa área, as tragédias são anunciadas”, afirma.
O comentarista Alexandre Garcia ressaltou que falta planejamento em áreas de prioridade máxima para prevenir tragédias ambientais. Todo ano é o mesmo problema, mas as situações se repetem.
“Cada vez que entro nesse assunto, nesses últimos 45 anos, percebo que estou me repetindo. É sempre a mesma coisa. Chegam as chuvas torrenciais de verão e tudo se repete, a destruição de vidas e casas”, afirma.
O comentarista ressaltou que a destruição traumática sempre é antecipada pela destruição contínua de matas e encostas, assoreamento de canais e córregos.
“A falta de ação das administrações municipais, sem coragem para impedir ocupações ou desalojar, tem as consequências conhecidas. Aí os prefeitos pedem mais recursos federais para fazer obras e depois, muitas vezes, aplicam as verbas em ações de mais visibilidade. O nome desse mal é populismo”, critica.
Fonte: Contas Abertas.
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