Walter Isaacson, em seu livro “Os Inovadores”, mostra-nos como a geração que nos permitiu ter acesso às tecnologias de informação e comunicação avançou sempre em projetos colaborativos, ou seja, não se tratava de talentos trabalhando solitariamente, e sim de equipes que compartilhavam esforços e contribuições de diferentes campos de atividades.
Em outra obra recente, a biografia de Leonardo da Vinci, o autor mostra evidências de que o maior gênio do Renascimento beneficiou-se igualmente de trabalhos em equipe que quebravam os muros que hoje separam diferentes disciplinas, como engenharia, artes e anatomia.
Essa prática vem ganhando hoje especial importância, seja na articulação de distintas políticas públicas, em pesquisas interdisciplinares ou em projetos inovadores no mundo do trabalho. Afinal, quem dividiu artificialmente a realidade em domínios de saber foi o ser humano, para facilitar a aprendizagem e o aprofundamento de algumas análises.
Leia também de Claudia Costin:
O futuro do trabalho e a universidade no Brasil
O novo analfabetismo ou deformando o cidadão
É possível melhorar a qualidade da educação no Brasil
Em educação, a colaboração ganha particular relevância, dada a natureza da atividade. Assim como orquestras, o processo de ensino é essencialmente colaborativo: professores dependem do trabalho realizado por colegas em anos anteriores e em outras disciplinas, daí por que é tão fundamental ter tempo para cooperação entre docentes no próprio prédio escolar, como parte das tarefas da equipe.
Mais do que isso, Estados e municípios podem trabalhar juntos em educação, usando o instituto do regime de colaboração, e alguns já o estão fazendo. O regime de colaboração é um mecanismo para coordenação de políticas públicas por entes estatais, em que há ou alinhamento vertical, com o Estado apoiando municípios, ou horizontal, com municípios trabalhando conjuntamente.
Em educação isso tem sido feito pelo Ceará, inicialmente com a coordenação do programa para a alfabetização na idade correta, implantado em municípios de todo o Estado, em seguida ampliado para a primeira infância (inclusive com a elaboração de um currículo de educação infantil) e ações de apoio ao fundamental 2 (6º ao 9º ano). Alguns outros Estados vêm adotando a prática, entre eles o Maranhão e o Espírito Santo.
Mas a colaboração mais importante para a aprendizagem ocorre entre os próprios alunos. Não é por acaso que a OCDE avalia na prova Pisa a competência dos sistemas educativos em promover solução colaborativa de problemas. Afinal, trata-se de algo muito demandado no mundo do trabalho no século 21: saber lidar, em equipes com talentos distintos, com as diferentes questões que emergem na realidade.
Tal como Leonardo ou os inovadores de tempos menos distantes faziam para trazer à luz o belo e o novo…
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 24/11/2017.
No Comment! Be the first one.