Escola, faculdade, estágio em grande empresa, efetivação, promoção e um cargo de chefia abrilhantando o LinkedIn. Tudo isso em apenas 28 anos. Para muitos, um sonho realizado. Para Felipe Gentil (e muitos empreendedores pelo país), um sinal de inquietação. Quando atingia o ponto chave de sua carreira, decidiu dar um passo – ou vários – para trás.
Recomeçou. Empreendeu e tirou a Proseek do papel, uma escola de negócios para universitários e recém-formados. À época, dívidas, perrengues e noites mal dormidas.
Hoje, 800 alunos formados, um faturamento anual de R$ 3 milhões, a meta de transformar a escola em faculdade até 2020 e as mesmas noites mal dormidas.
Passados três anos, já na casa dos 30, Gentil (que é irmão da jornalista e apresentadora Fernanda Gentil), sabe melhor do que ninguém como o salto de tempo não foi fácil. “Quando a gente olha para trás, vê como tudo se acerta. Mas na hora é difícil. Muito difícil”, diz.
O jovem carioca conta que, antes mesmo da experiência na XP Investimentos (onde passou toda a carreira “formal”), já tinha interesse pelo mercado de educação. “A ideia de capacitar alguém profissionalmente sempre me impactou.”
Mesmo assim, até 2015, nunca havia passado pela sua cabeça empreender. O que mudou quando parou e analisou a carreira até ali. Apesar do orgulho pelas conquistas, dos amigos e de se sentir parte da empresa, não enxergou um futuro lá. Dali em diante, começou a pesquisar alternativas de negócios e decidiu mesclar sua experiência no mercado financeiro com o gosto por educação.
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Madrugadas adentro, viu em 2016 a Proseek nascer. Em um primeiro momento, conciliou o novo projeto ao emprego. O problema é que sua nova paixão interferiu na sua performance na XP. “Eu, que era o cara que entrava às 8h e saia às 22h, comecei a chegar tarde, fazer duas horas de almoço… afinal, estava virando noites para tirar a minha empresa do papel”, diz. Acabou demitido.
Naquele momento, o que a Proseek queria fazer era usar tecnologia para ajudar universitários e profissionais recém-formados a se capacitar profissionalmente, principalmente nas áreas de finanças, negócios e soluções corporativas.
Foi com essa ideia que conseguiu ser acelerado pelo programa Espaço NAVE, no início de 2016. Com as mentorias, viu o negócio dar os primeiros passos. Até o dinheiro que havia juntado para montar a empresa acabar e Gentil enfrentar uma fase difícil.
Não bastasse o campo profissional, viu-se com problemas no pessoal e foi obrigado a sair de casa, porque os pais não suportavam seu cachorro. “Já não bastava todas as contas da Proseek, tive que começar a pagar aluguel”, afirma. O período não foi fácil, mas Gentil teve a sorte de contar com amigos. Um deles o colocou para trabalhar em uma sala de reuniões da sua empresa. E foi lá que os ventos começaram a assoprar a seu favor.
Junto a isso, Rodrigo Fiszman, colega do empreendedor ex-sócio da XP, comprou a ideia. Saiu do emprego, entrou como sócio de Gentil e ajudou a Proseek a tirar seu primeiro produto do papel.
Em 2017, lançaram a primeira turma do seu principal curso, o “Master in Financial Markets”, cujo objetivo é preparar os alunos para trabalhar em bancos, gestoras e seguradoras. O curso mescla ensino à distância com aulas presenciais, ministradas por professores e executivos do mercado financeiro.
Inspirado em modelos aplicados em universidades como Harvard, o aluno precisa “estudar” antes da aula por meio de uma plataforma online. Lá, a Proseek disponibiliza conteúdos extras, mapeados e customizados para cada aluno a partir de uma inteligência artificial aplicada na plataforma.
Além desse tema, a escola inaugurou cursos nas áreas de educação corporativa, módulos de finanças, negócios e até investimentos pessoais. A intenção, segundo Gentil, é preparar os jovens para o mercado. “Imagine, numa entrevista de estágio para a XP, um candidato que já conhece tudo sobre mercado financeiro. Ele larga na frente dos concorrentes”, diz. Desde 2017, cerca de 800 alunos se formaram nos cursos da Proseek, que custam a partir de R$ 150.
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Outra fonte de receita da Proseek são as plataformas customizadas de ensino para empresas. Desde 2018, a empresa oferece soluções de educação corporativa e avaliação de desempenho de acordo com a demanda das empresas. Entraram na conta companhias como os bancos Safra e BTG Pactual.
Faculdade
Neste ano ainda, a empresa vai oferecer sua primeira turma de pós-graduação em parceria com uma instituição de ensino credenciada no MEC (Ministério da Educação). Gentil não fala qual.
Mas o empreendedor diz que a Proseek tem se movimentado junto ao Ministério para transformar a empresa em uma faculdade, com sede no Rio de Janeiro. A priori, a expectativa é que a unidade possa oferecer cursos de finanças, negócios e ciências da computação. “Existe demanda por diploma. Essa ainda é uma forma de entrar no mercado”, afirma.
Fonte: “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”