Empreendedorismo, inovação e prosperidade
Por André Averbug
O que teriam em comum os sucessos econômicos da Holanda do século XVII-XVIII, Inglaterra do século XIX, EUA do século XX e, mais recentemente, países como Coréia do Sul, Singapura e Israel? Embora a pergunta possa ser respondida sob diferentes ângulos, fundamentalmente pode concluir-se: cada um em seu tempo, esses países promoveram sistemas econômicos onde recursos eram canalizados de forma eficiente aos empreendedores e empresas mais competentes.
O economista canadense Reuven Brenner resumiu bem o caminho das pedras: “Prosperity is the result of matching talent with capital and holding both sides accountable” (a prosperidade acontece quando se junta talento com capital, mantendo ambas as partes responsáveis pelos seus atos). O “capital” pode provir de uma ou mais fontes: mercado de capitais, governo, poupança ou herança. O “talento” pode ser fomentando internamente – através da educação, incentivos à inovação e empreendedorismo, desenvolvimento de uma cultura propensa à tomada de riscos – e/ou ser importado, com a abertura das fronteiras a imigrantes qualificados e empreendedores. Finalmente, a “responsabilidade” (accountability) é construída através de instituições (políticas, econômicas, regulatórias, jurídicas, sociais) sólidas, que promovam um ambiente de negócio estável, onde contratos são cumpridos e a perspectiva de longo prazo é instalada.
Nos séculos XVII-XVIII, a Holanda possuía o mercado de capitais mais desenvolvido do mundo. Operava instrumentos financeiros de vanguarda, tanto de dívida quanto equity, o que possibilitava a pessoas e empresas com bons negócios alavancar seus empreendimentos. Portanto, numa época onde as sociedades eram divididas praticamente em castas – com realeza, nobreza e aristocracia mantendo suas riquezas geração após geração – a Holanda popularizou o acesso ao capital e implementou um sistema socioeconômico mais democrático e meritocrata. Ademais, além de possuir instituições eficazes, abriu suas portas a imigrantes de diversas origens, acolhendo por exemplo judeus espanhóis e protestantes franceses (huguenots), que trouxeram inovações de seus países e que, por definição, eram em sua maioria empreendedores (existe empreendimento maior que se aventurar em um novo país?).
Um século depois, a Inglaterra tornou-se o motor da Revolução Industrial dentro da mesma lógica de capital-talento-instituições (CTI). Inovações, tanto tecnológicas (ex: máquinas movidas a vapor) quanto de processo (ex: técnicas revolucionárias de gestão) só foram possíveis devido a um sistema econômico onde o risco era devidamente recompensado e o processo de tentativa e erro estimulado. Na segunda metade do século XX, os EUA, por sua vez, se consolidaram como a principal economia mundial com: capital (Wall Street e mais recentemente Silicon Valley e seus investidores anjo, fundos de VC/PE, subsídios à P&D); talento (americanos educados em universidades como Stanford e MIT e imigrantes de todo o mundo); e ambiente de negócios (leis favoráveis à abertura e fechamento de empresa, sistema legal eficiente etc).
A imigração foi especialmente importante nos EUA. Como prova, basta verificar que 40% das empresas Fortune 500 foram fundadas por imigrantes ou filhos de imigrantes, incluindo Intel, Google, eBay, Apple e GE. Enquanto isso, ¾ das patentes desenvolvidas em universidades americanas tiveram participação de imigrantes. Não é por menos que hoje a reforma das leis de imigração voltou ao centro do debate no contexto do fomento da competitividade e crescimento econômico americanos.
Recentemente, os casos mais bem sucedidos de desenvolvimento econômico foram os dos Tigres Asiáticos. As reformas políticas, econômicas e institucionais que ocorreram nesses países, aliadas ao investimento em educação e desenvolvimento dos mercados de capitais, possibilitaram uma enxurrada de investimentos e imigração qualificada que impulsionaram o crescimento e desenvolvimento dos Tigres. Outro caso interessantíssimo é Israel, um país formado há apenas meio século, no meio do deserto, e que prospera devido à imigração qualificada e educação de ponta, acesso à capital (privado e público), cultura favorável ao risco e instituições sólidas. Ou seja, é um caso onde o modelo CTI assume duplo sentido: capital-talento-instituições e centro de tratamento intensivo!
Em um post futuro, pretendo tratar da necessidade de entrada do Brasil na CTI. Enquanto isso, idéias e comentários são bem vindos.
Fonte: Blog “O meio e o si”
Caro Averbug, Aonde você diria que o Brasil se encontra em relação aos “bem sucedidos”. Iniciando o processo de valorização e incentivo aos empreendedores ou, ainda tentando inventar a roda brasileira a despeito dos bons exemplos? Você acredita que as medidas governamentais de fomento e incentivos fiscais são o bastante para mudar a realidade do empreendedor Brasileiro? Qual seria a grande dificuldade do Brasil em crescer no seu entendimento? Abrç