De acordo com pesquisa realizada pela Endeavor, o número de empreendedores brasileiros aumentou cerca de 40% nos últimos anos. O estudo também aponta que três em cada quatro trabalhadores querem ter o próprio negócio.
Para saber mais sobre os fatores que motivam o crescimento do empreendedorismo no Brasil, o Instituto Millenium conversou com a diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RJ) e mentora da Endeavor Claudia Klein.
Nesta entrevista, Klein analisa ainda o cenário para o surgimento de novos negócios no país. Para ela, empreender, cada vez mais, será uma oportunidade para os brasileiros, aumentando a participação desses novos negócios na economia. Confira!
Instituto Millenium: Quais os fatores que vêm contribuindo para o avanço do empreendedorismo no país?
Claudia Klein: Um deles é a estabilidade econômica. Embora a situação ainda não seja “um céu de brigadeiro”, já é mais estável do que há cinco, dez anos, o que favorece o empreendedorismo.
Além disso, em um país com a nossa dimensão, o modelo de contratação pela CLT [Consolidação das Leis de Trabalho] não é capaz de absorver 100% da massa trabalhadora. Uma das soluções é aumentar a atitude empreendedora dos brasileiros. O próprio governo já compreendeu isso e vem incentivando o empreendedorismo por meio de programas com diferentes abordagens.
Cada vez mais, o empreendedorismo será uma possibilidade para o mercado de trabalho e responderá por um percentual alto da atividade econômica, seja pela abertura de franquias ou pela criação de negócios novos e inovadores.
Instituto Millenium: Por outro lado, quais os principais desafios para quem quer empreender no Brasil?
Klein: O principal desafio é identificar algo que o diferencie do mercado, de quem oferece o mesmo serviço ou produto. Ainda há espaço para criar negócios inovadores, algo que ninguém inventou, mas também dá para observar o que outros empreendedores estão fazendo e criar um negócio diferente. Essa é uma forma de adicionar a inovação a um empreendimento convencional.
Para inovar, uma dica importante é ouvir o cliente, ou seja, os possíveis compradores, as pessoas que necessitam daquela ideia. Faça perguntas abertas, para ouvir, genuinamente, o que os consumidores precisam. Procure ainda pesquisar e conhecer o que vem sendo feito em outros países.
Instituto Millenium: Pesquisa realizada pela consultoria EY (antiga Ernst & Young) para o jornal “O Globo” apontou que 18% das mulheres em idade economicamente ativa, no Brasil, são empreendedoras. O país tem a maior proporção de empreendedorismo feminino entre os integrantes do G-20. Por que a abertura do próprio negócio pode ser atrativa para as mulheres?
Klein: O empreendedorismo tem aparecido como oportunidade para as mulheres, muito por causa do engessamento da legislação trabalhista do país. Elas passam a ter mais flexibilidade de tempo, disposição e contribuição para o negócio. Várias pesquisas já demonstram a importância feminina para a renda das famílias. Essas mulheres podem identificar no empreendedorismo um bom caminho. À frente do próprio negócio, elas podem definir a forma e o conteúdo para aquela empresa se apresentar ao mercado, e ainda têm a flexibilidade para definir as suas condições de trabalho.
Há empresas que têm interesse em flexibilizar a jornada e a forma de trabalho das mulheres, porém esbarram na questão trabalhista. Quando as mulheres empreendem, elas têm o poder de decisão e não estão sujeitas às leis trabalhistas e ao regulamento da empresa.
Instituto Millenium: Quais características que não podem faltar a quem quer empreender?
Klein: Empreender é ter uma ideia criativa, ser capaz de convencer e mobilizar apoio para que algo vire realidade, gerando, assim, um negócio. Quem só tem uma ideia, não empreende. Quem só tem habilidade de vender, não empreende. Empreender envolve todo esse ciclo, que demanda um conjunto de competências que vai desde as capacidades de criar e de transmitir uma mensagem para diferentes interlocutores às habilidades para formar parcerias e gerir o negócio.
Ser empreendedor é uma atitude necessária a quem está à frente de um negócio ou em outra atividade. Empreender é demonstrar que se é capaz de identificar e optar pelas próprias escolhas. É necessário ensinar essas competências desde o início da vida escolar para formarmos empreendedores de si mesmo, pessoas que sejam capazes de escolher as alternativas que mais têm a ver consigo, seja montar o seu negócio ou se juntar a uma ONG internacional, por exemplo. O ensino deveria focar também nesse tipo de formação.
E qual o índice de sucesso nos negócios do empreendedor nacional, num país onde o analfabetismo, o alfabetismo funcional e deficiências educacionais caracterizam a realidade brasileira?