O mercado de tecnologia nunca apresentou tantas oportunidades. O setor tem um potencial enorme para gerar empregos e mudar a vida de milhões de pessoas.
O problema é que a maioria dos profissionais que atua na área ainda faz parte do topo da pirâmide social: homens brancos, heterossexuais e de classe média alta. As instituições de ensino formam cerca de 20 mil pessoas com esse perfil por ano — e o mercado brasileiro de TI tem mais de 460 mil vagas em aberto.
Então, não se trata apenas de uma questão de diversidade. A conta simplesmente não fecha. Temos poucas startups fundadas por negros e mulheres, por exemplo. Quantos problemas essas pessoas poderiam resolver se recebessem mais apoio e fossem mais empoderadas?
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Teoria e prática
“Já havia trabalhado na área de tecnologia de um grande banco. Tocava grandes projetos e liderava equipes. Depois de um período afastada por motivos de saúde, percebi que gostaria de construir uma empresa que desenvolvesse soluções inovadoras, mas que também entregasse algo de volta para a sociedade.
Pensando nisso, fundei a Carambola em 2011. Nossa missão é criar projetos que gerem resultados de impacto e formem pessoas capazes de atuar dentro dos novos conceitos de mercado de tecnologia. Para isso, criamos uma metodologia de trabalho que une essas duas pontas.
A Carambola desenvolveu um método de formação de equipes que começa pela avaliação do nível técnico de cada pessoa. O processo leva em conta candidatos que apresentam noções básicas de tecnologia. Com essa classificação inicial, dividimos os times em trios de diferentes níveis de conhecimento.
A ideia inicial era distribuir os projetos entre duplas. Mas percebemos que o processo ficava muito pesado para ambas as partes. A regra é que pelo menos um dos membros faça parte de uma minoria do mercado de TI. Em outras palavras, que não seja um homem branco, hétero e de classe média alta.
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Nosso programa é baseado nas necessidades específicas de aprendizado de cada pessoa. O ciclo de formação dura seis meses. Durante esse período, os participantes são contratados e trabalham em projetos reais. Ao final do processo, eles podem ser contratados pelos próprios clientes.
Entendemos que nem todas as pessoas recebem as mesmas oportunidades na vida. Isso não quer dizer que um indivíduo seja menos qualificado do que outro. O que existe são bons profissionais que não tiveram acesso a ferramentas de capacitação técnica.”
Estratégia orgânica
“Não recebemos nenhum tipo de investimento externo para fundar a Carambola. A operação inicial foi estruturada com nossos recursos. Num primeiro momento, a empresa foi instalada num coworking.
A ideia era ter contato com outros empreendedores e aperfeiçoar o nosso método de trabalho. Daí, comecei a expandir a minha rede de contatos. Marquei reuniões, comecei a participar de eventos de startups e apresentei a ideia para potenciais compradores. Quando conquistamos os nossos primeiros clientes, o crescimento veio naturalmente.
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A maioria dos novos contratos veio de recomendações da nossa base. O principal desafio foi consolidar a imagem da Carambola como uma referência no ecossistema de tecnologia. Posicionar-se em um novo mercado pode ser uma tarefa particularmente difícil. Principalmente para uma mulher jovem e assumidamente homossexual. Fomos colocados à prova em diversos momentos. O que fez a diferença foi manter a autenticidade.
A combinação entre capacidade de entrega e impacto social sempre foi um dos principais diferenciais da Carambola. Esse posicionamento, no entanto, ainda gera uma certa confusão. Muitas pessoas acham que somos algum tipo de ONG ou instituto sem fins lucrativos. Precisamos nos esforçar para mostrar que somos um negócio que gera resultados. Criamos aplicativos e plataformas que encontram muita aderência no mercado.
Atendemos grandes clientes, como instituições financeiras, empresas de tecnologia e grupos industriais. Nosso foco está em inteligência artificial, blockchain e internet das coisas. A qualidade dos nossos projetos foi essencial para o mercado entender que lucro e impacto social não estão em polos opostos. A formação e capacitação de profissionais interessa a todos. Estamos remando na mesma direção.”
Rota de crescimento
“O modelo de negócios inicial era baseado em uma consultoria de software mais tradicional. A Carambola começou a ganhar tração quando passamos a focar no desenvolvimento de ações de impacto social.
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Esse aspecto começou a chamar ainda mais a atenção quando o mercado percebeu que entregávamos plataformas e aplicativos de alta qualidade. Em 2013, já estávamos com mais de 60 pessoas na equipe.
Então decidimos sair do coworking e investir em um espaço próprio. Também construímos um pequeno laboratório maker para equipes que trabalham em projetos ligados à internet das coisas. No ano passado, já estávamos bastante conhecidos no setor e captamos nossa primeira rodada de investimentos.
O dinheiro foi aplicado no aperfeiçoamento de nossas estratégia e estrutura de trabalho. Precisávamos de fôlego financeiro para reorganizar a casa e rever nossos processos. Essa pausa foi essencial para criar uma operação mais eficiente. Faturamos mais de R$ 5 milhões entre janeiro e março. A expectativa é chegar ao fim do ano com uma receita de mais de R$ 20 milhões.”
Os próximos passos
“Atualmente, a Carambola é composta apenas pelo escritório de São Paulo. A ideia é lançar uma operação em Fortaleza até o fim de setembro. Nossos planos incluem a abertura de uma unidade em Nova York, em 2019.
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Estamos buscando um novo aporte para viabilizar o nosso próximo ciclo de expansão. Por outro lado, estamos trabalhando para continuar a crescer de maneira sólida e orgânica. Vejo muitos fundadores de startups preocupados apenas em levantar capital para escalar a operação e gerar um retorno para os investidores. Isso termina gerando negócios que podem até ser rentáveis, mas que não resolvem problemas reais.
Eu ainda não sei o tamanho que a empresa vai ter, mas quero que as pessoas que passem por aqui se sintam acolhidas. O meu sonho é que elas saiam daqui e multipliquem o que aprenderam nas comunidades ao seu redor.”
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”