À espera da regulação da telemedicina no país, em elaboração pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), cresce o número de projetos e serviços já ancorados em saúde digital. São empresas que apostam em atividades e ferramentas em tecnologia aptas a abraçarem também a nova modalidade de atendimento médico tão logo ela seja permitida no país.
O aplicativo Doctoralia , plataforma digital para agendamento de consultas e que permite ao usuário tirar dúvidas com especialistas, já prevê dobrar o faturamento no país este ano para € 11 milhões, na comparação com 2018. Operadoras como SulAmérica e Amil também avançam nessa direção.
— O Brasil já é o maior mercado do grupo da Doctoralia no mundo. Ano passado, o faturamento gerado pelo país foi de € 5,5 milhões, quando o grupo DocPlanner como um todo alcançou € 22,5 milhões. Em 2019, o resultado do Brasil deve dobrar, movimento que estimamos que irá se repetir anualmente pelos próximos cinco anos — diz Cadu Lopes, presidente do Doctoralia no Brasil.
Com sede na Espanha, a DocPlanner atua em 15 países e abriu escritório no Brasil dois anos atrás, unidade que cuida ainda das operações em Chile e Peru.
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Aqui, a plataforma já soma 600 mil médicos, psicólogos, nutricionistas e dentistas, ou mais da metade dos pouco mais de um milhão de profissionais mapeados como elegíveis a ingressarem no aplicativo, diz Lopes.
— Existe o fator da fácil adaptação do brasileiro à tecnologia. E o agendamento por aplicativo avança também porque existe uma lacuna no Brasil na comunicação entre o profissional de saúde e o paciente. Outro serviço que avança é o que permite ao usuário fazer perguntas aos nossos especialistas. Não temos teleconsulta, seguimos as orientações dos órgãos brasileiros. Mas, na medida em que a regulação permitir a telemedicina, teremos tecnologia para isso, estamos prontos — afirma o executivo.
A plataforma, que já soma 9 milhões de visitantes únicos no Brasil por mês, inaugura hoje a terceira expansão da sede da empresa no Brasil, em Curitiba, e anuncia uma grande ação da Doctorialia em publicidade.
Atendimento remoto é proibido
O atendimento médico remoto é atualmente probido pelo Código de Ética do CFM, podendo ser utilizado apenas quando é comprovadamente inviável ser feito de forma presencial ou em situação de emergência.
Em fevereiro, o órgão chegou a editar uma resolução regrando o início do atendimento de pacientes à distância, desde que a primeira consulta fosse presencial ou que ocorresse em regiões remotas. A medida acabou revogada após ter sido criticada.
Com isso, o Conselho abriu caminho para receber novas colaborações de profissionais da área até o fim de julho para elaborar a nova regulamentação.
As operadoras de saúde também demonstram estarem atentas ao movimento e se preparam para absorver a mudança que a nova regulação promete trazer.
Com uma carteira de 2,2 milhões de beneficiários, a SulAmérica, por exemplo, oferece desde janeiro serviços de triagem e orientação junto a pediatras — para usuários com até 12 anos de idade — via aplicativo.
— Desde janeiro, já temos 800 orientações realizadas pelo programa Médico na Tela na área de pediatria. Ainda este ano, vamos ampliar esse serviço aos beneficiários adultos, com clínicos gerais. O direcionamento correto do paciente evita atendimento redundante ou incorreto, promove saúde e reduz custos. Com a ajuda da tecnologia, evitamos cerca de 80% das idas indevidas ao pronto-socorro — explica Erika Fuga, diretora de Sinistro Saúde da SulAmérica.
Os serviços digitais da empresa incluem ainda atendimento telefônico por profissionais da área para orientações gerais, agendamento de consulta em casa. Para os profissionais credenciados, há também a opção de ouvir uma junta médica por sistema de teleconferência sobre casos mais complexos ou participar de treinamentos e palestras virtuais.
— Ainda este ano vamos lançar o teleatendimento na área de psicologia, que já está regulamentado. E estaremos prontos para avançar na área médica quando houver regulação específica — diz Erika.
Riscos à relação médico-paciente
Para Mario Scheffer, da Universidade de São Paulo (USP), a tecnolgia é bem-vinda para mediar a educação dos profissionais, a prevenção em saúde, ajudar na marcação de consultas, fazer triagem de pacientes e outros serviços. Mas alerta que é preciso cautela quando o assunto é atendimento à distância:
— A tecnologia não pode substituir a consulta presencial ou o contato entre o médico e o paciente, o exame clínico. O preocupante seria deixar o paciente sem o contato direto com o profissional de saúde. É uma relação insubstituível. Outra coisa é que a teleconsulta não pode jamais ser uma via impositiva. Sendo regulada, não pode ser imposta ao paciente, que deve poder escolher.
+ Hélio Beltrão: Quem sofre manipulação digital?
No início deste mês, a Amil lançou um serviço de consultas médicas por videoconferência. O atendimento é restrito a 180 mil clientes da operadora cadastrados no plano de categoria premium Amil One.
O serviço, acessado pelo aplicativo, é operado por médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, e funciona 24 horas. Como o teleatendimento é vedado, o CFM vai cobrar explicações da empresa.
Procurada, a Amil não comentou.
Fonte: “O Globo”