As grandes empresas começaram a divulgar seus resultados do segundo trimestre e tudo veio, até agora, como o mercado esperava: números fracos, reflexo do pior período da pandemia do novo coronavírus. O cenário continua nebuloso, mas analistas destacam que algumas empresas estão aproveitando esse período de ‘hibernação’ da atividade para se reestruturar, cortar custos e traçar estratégias para os próximos meses.
Algumas já começaram a colher resultados, e a sinalização é que o terceiro trimestre poderá ser melhor.
— Uma crise como essa só é mortal para empresas que já vinham com dificuldades ou cujos setores foram atingidos diretamente. Setores aéreo e de turismo deverão ter números muito negativos. Mas as empresas que aproveitaram para se reestruturar, ganham eficiência à medida que a atividade econômica é retomada — diz o consultor de investimentos Paulo Bittencourt.
Ele cita o Bradesco. O segundo maior banco privado do país fechou 233 agências no ano, número que deve chegar a 400 até dezembro. Resultado da aceleração da digitalização do banco na quarentena. As contas abertas pelo celular cresceram 255% de abril a junho.
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O lucro do Bradesco encolheu pelo segundo trimestre seguido, na comparação anual. O lucro líquido de R$ 3,8 bilhões ficou 40,1% menor do que o do mesmo período do ano passado. Mas quando se olha a evolução, houve aumento de 3,2% entre o primeiro e o segundo trimestre.
Desempenho melhor
O mercado já esperava conjuntura ruim no segundo trimestre e começa a olhar como as companhias vão agir para melhorar o desempenho.
— Sabendo que seria um trimestre muito ruim, as empresas adotaram estratégias na pandemia para ganhar eficiência, como reforçar o comércio on-line — diz Alexandre Pierantoni, diretor da consultoria Duff & Phelps no Brasil.
A Via Varejo, que segundo analistas estava atrasada no comércio pela internet, acelerou para chegar mais perto do Magazine Luiza. As empresas não divulgaram balanços, mas a expectativa é que reflitam esse reforço na venda online.
A Via Varejo chegou a publicar no Twitter — e apagar em seguida — crescimento de vendas on-line de até 2.500%, na comparação entre 1 de maio a 21 de junho deste ano e 3 de maio e 23 de junho de 2019. Depois da confusão, a empresa confirmou os dados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
— O parâmetro no segundo trimestre para as varejistas que reforçaram seus canais on-line é a Amazon, que teve lucro de US$ 5,2 bilhões no período — diz Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos.
O Carrefour teve lucro no segundo trimestre ajudado pela internet. O percentual das vendas on-line na receita do setor alimentar foi de 8%. Um ano atrás, era menos de 2%.
O grupo teve lucro líquido de R$ 729 milhões, ante prejuízo de R$ 427 milhões no segundo trimestre de 2019.
O presidente do Carrefour Brasil, Nöel Prioux, disse, em teleconferência com analistas, que a estratégia digital avançou três anos num trimestre.
— O estilo de vida pode mudar no pós-pandemia em relação à alimentação. As pessoas ficaram em casa, montaram estruturas para preparar alimentos — diz Jorge Junqueira, da Gauss Capital.
Mercado externo
Outras empresas aumentaram a vendas no exterior, com dólar alto e demanda da China por proteína animal, depois que uma peste suína dizimou parte do rebanho do país.
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A Minerva teve o melhor segundo trimestre da história, segundo a companhia, com lucro de R$ 253 milhões. Entre abril e junho, a receita no mercado interno caiu 7,7%, mas cresceu 16,1% no externo.
— Na Minerva Brasil, de carne bovina, cerca de 40% das exportações foram para a China — afirma Renan Hamiko, da Allez Invest.
Embora a Petrobras tenha registrado prejuízo de R$ 2,7 bilhões, com a queda na venda de combustíveis e o tombo nos preços do petróleo, analistas elogiaram a estratégia da estatal.
— Eles tiveram foco maior nas operações que geram mais valor. O custo de exploração no pré-sal, que hoje já representa 61% do óleo comercial da empresa, ficou em US$ 4,17. A empresa é competitiva mesmo na crise — diz Ilan Arbetman, da Ativa.
Para Carlos Daltoso, analista da consultoria Eleven, houve surpresas negativas, como a da Cielo, de meios de pagamentos, que teve o primeiro prejuízo, de R$ 75,2 milhões, desde que abriu seu capital, em 2009. Por isso, ainda há previsões sombrias para o ano. O banco suíço UBS compilou estimativas do mercado para o lucro das empresas brasileiras na Bolsa este ano e estima queda de 53% frente a 2019.
Fonte: “O Globo”