No fundo, no fundo, a presidente Dilma Rousseff nunca deu bola para esse tal Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Criado em maio de 2003 pela eficiente equipe de marketing do ex-presidente Lula, o Conselhão, como ficou conhecido, reúne empresários parceiros, companheiros sindicalistas e outras celebridades chegadas sob o pretexto de assessorar o presidente da República em ações que visem a “articulação do governo com a sociedade”.
Governos que levam a democracia a sério entendem que tal função compete ao Parlamento, eleito pela sociedade para representá-la. Mas Lula, prevendo um relacionamento azedo com um Congresso que lhe parecia hostil, entendeu que era melhor criar um “soviete” (palavra de origem russa que significa justamente “conselho”) para apoiar sua política. Bem… o fato é que o governo não demorou a encontrar uma forma mais eficiente de se entender com o Congresso.
A troca de apoio por cargos e por mecanismos menos sutis de financiamento, revelados inicialmente no processo do “mensalão”, deixaram claro que, enquanto tivesse verba para distribuir entre políticos amigos, o governo podia tremer diante de qualquer fantasma. Mas não precisava se assustar com o Parlamento. Mas a história não acabou aí.
Bola murcha
Mesmo com sua inutilidade exposta pela falta de autoridade para intervir nas decisões, as reuniões do órgão continuaram acontecendo com pompa e circunstância enquanto Lula governou. Veio, então, a nova presidente e a bola do Conselhão murchou. Tanto assim que sua última reunião se deu em 2014 — num momento em que Dilma estava mais interessada em obter imagens para sua propaganda à reeleição do que em ouvir conselhos de quem quer que fosse. Ao longo de todo ano de 2015, enquanto a economia mergulhava num poço sem fundo, Dilma não convocou o órgão uma vez sequer!
A tosse da vaca
Só que, agora, a tosse da vaca fugiu a qualquer controle e a presidente achou por bem acatar a sugestão dos marqueteiros e chamar a turma para conversar. Não sem antes tomar algumas providências para evitar constrangimentos. A primeira foi convidar o ator Wagner Moura para dar à trupe a notoriedade. A outra, tirar da lista nomes de conselheiros que, por motivo de força maior, não podem se ausentar de Curitiba sem autorização do juiz Sérgio Moro.
Assim, a reunião do Conselhão na quinta-feira passada não teve qualquer sentido prático. A única medida anunciada foi a intenção de reativar a economia com a liberação de R$ 83 bilhões em créditos para as pessoas gastarem. Mais do que um erro de diagnóstico, trata-se na insistência em um remédio que, de tanto ser usado, já perdeu seu efeito. O problema do país não é a dificuldade de acesso ao crédito, mas a falta de confiança. Ponto final.
Enquanto o governo insistir em administrar as contas públicas com a mesma eficiência com que o técnico Felipão armou a seleção brasileira na partida contra o time da Alemanha em 2014, a chance da economia voltar a crescer é nula. E para recuperar a confiança, convenhamos, é preciso mais do que promessas, falatórios e reuniões. O governo precisa, na verdade, por o dedo na ferida e reconhecer que errou feio. E só então, tentar começar de novo, sobre fundamentos mais sólidos. Será que isso é possível?
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