Um país continental, com uma economia vigorosa e uma imensa classe média com crescente poder aquisitivo, deveria ser um fabuloso mercado para o transporte aéreo. Mas a Gol e a TAM tiveram juntas um prejuízo de R$ 1 bilhão no ano passado, e em dois anos perderam metade de seu valor de mercado, mesmo vendendo passagens nacionais a preços abusivos (uma ponte aérea Rio-São Paulo custa R$ 2 mil em alguns horários) e voos internacionais muito mais caros do que em outros países. Do aumento do querosene à crise internacional e aos impostos locais, tudo se explica, mas ninguém entende.
Um país com 190 milhões de habitantes, que adora futebol, com poderosas redes de televisão e ricos patrocinadores, times e jogadores de fama internacional, torcidas apaixonadas e massiva cobertura gratuita da mídia, deveria ser o mercado dos sonhos para uma liga de futebol profissional, como as americanas e europeias, com o seu campeonato visto no mundo inteiro. Mas os clubes brasileiros estão todos falidos ou quase. De administrações desastrosas à corrupção e politicagem, do coronelismo da CBF às anacrônicas leis das sociedades esportivas, tudo se explica, mas ninguém entende.
Nosso país é mesmo difícil de entender. Aqui joga-se em tudo, bicho, bingo, cavalos, loterias, raspadinhas e mega-senas, explorados por bandidos ou pelo Estado, gerando montanhas de dinheiro sujo e de impostos. Mas, em nome da moral e dos bons costumes, os cassinos são proibidos, até para turistas estrangeiros. Nos anos 30 e 40 eles eram o motor do mercado de turismo e entretenimento no Brasil, empregando milhares de pessoas e pagando fortunas de impostos, mas foram extintos por um decreto autoritário do presidente Dutra, há 66 anos, a pedido de sua esposa, dona Santinha, que era muito católica. Isso explica tudo, mas ninguém entende.
Aqui os partidos políticos recebem R$ 265 milhões de fundos constitucionais por ano e usam, vendem ou alugam horários milionários de rádio e TV, gratuitos para eles mas pagos pelo contribuinte às emissoras como renúncia fiscal. Mas querem o “financiamento público” das campanhas.
Fonte: O Globo, 30/03/2012
O livro de memórias de Carlos Machado mostra como era a economia do entretenimento no Rio antes de Dutra. http://carlosupozzobon.blogspot.com.br/2010/02/memorias-sem-maquiagem.html
Lamentavelmente o Brasil não legaliza os cassinos por causa do monopólio do governo no jogo (exceto o bicho) através das loterias da CEF. Grande parte dos políticos se beneficia das verbas destinadas ao esporte e assistência social gerada por recursos da loteria. O fim dos bingos com sua moralidade rasteira, tinha a função de retirar de particulares a exploração dos jogos. A estatização brasileira, comandada pela oligarquia no poder, comanda toda a vida nacional. E por isso se diz que esse país é estranho. Ele não é estranho. Ele é feito para quem está no poder: um fascismo benevolente atualmente com tinturas de comunismo avançando gradualmente.
Sou contra o jogo. Mas num ponto tenho que concordar com os defensores: a hipocrisia dos jogos da CEF, legalizados.
caro Nelson Motta,
Parabéns mais uma vez pela clareza, objetividade e simplicidade.
Ficam várias perguntas no ar.
O Brasil tem que melhorar muito para ficar ruim…
Pouca vergonha de todos…