O setor de gás natural parece não deslanchar no Brasil. Os investimentos recentes em infraestrutura foram focados apenas para atendimento do mercado elétrico, no lugar de ampliarem a oferta de gás natural às distribuidoras e assim ao consumidor final, universalizando o consumo e baixando os preços. Os terminais de GNL construídos nos últimos anos tiveram como principal objetivo o atendimento da demanda termoelétrica. O despacho termoelétrico tem sido o principal motor do crescimento no consumo de gás. Ao considerar o consumo industrial, residencial, comercial e cogeração o mercado de gás natural tem permanecido estagnado nos últimos anos. O caso é ainda mais grave se olhar o caso do GNV que já foi uma promessa e vem tendo seu papel reduzido ao longo dos anos.
A regulamentação da Lei do Gás, em 2010, poderia melhorar esse quadro com ampliação da rede de transporte de gasodutos, entrada de novos players no transporte, garantia do livre acesso e, consequentemente, aumento da oferta. Entretanto, não foi o observado. O próprio Plano de Expansão da Malha de Transporte (PEMAT), previsto na lei, demorou muito para sair do papel, sendo divulgado apenas quatro anos depois. Além disso, o PEMAT foi recebido com grande decepção, uma vez que apresentou apenas um projeto de gasoduto a ser licitado até 2022. Segundo o próprio governo, “A realidade hoje é esta: o Brasil precisa de mais gás. (…) Sem gás, não faz sentido licitar gasodutos.”. O referente gasoduto é o Itaboraí-Guapimirim, que terá 11 km de extensão, capacidade para 17,4 milhões de metros cúbicos por dia e investimento previsto de R$ 112,3 milhões. Ele atenderá o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e, mais uma vez, o mercado das distribuidoras fica para uma próxima vez.
Enquanto isso, a Odebrecht, gigante nacional do setor de engenharia, anunciou a conquista para construção de dois gasodutos bilionários na América Latina. O primeiro, no Peru, terá mais de 1 mil km de extensão e investimentos da ordem de US$ 3,6 bilhões. O segundo gasoduto será construído no México e terá 450 km, demandando US$ 935 milhões em investimentos.
Os grandes investimentos em infraestrutura de gás natural que os países Hermanos estão realizando, por intermédio de empresas brasileiras, põe em dúvida nossa capacidade de estimular e fomentar o desenvolvimento de uma infraestrutura robusta aqui. Enquanto, os países latinos americanos correm para aproveitar os benefícios do gás natural, seguindo tendência do mercado mundial, o Brasil parece ter parado no tempo.
Fonte: O Globo, 02/07/2014.
Será que o Brasil está economicamente quebrado? Já só leio artigos e noticias negativas relativamente à economia deste país.