Vivemos uma fase em que a “histeria” e a “escandalização” viram marcas. São tantas crises localizadas, tantos absurdos ditos pelo presidente…
Não passamos um dia em que ele não passe recibo na inábil relação com os veículos de imprensa e a sociedade como um todo. São declarações desastradas, enfrentamentos desnecessários e exposições diárias na mídia. Para quê? Afinal, nos parece mais do que perceptível seu desgaste a cada frase mal colocada, a cada piada grosseira, a cada resposta às provocações da imprensa. Esta segue no seu papel de querer manchete, de querer vender jornal. Com o presidente é um prato cheio.
Na economia, as coisas já começam a se aprumar. O desemprego recua, a atividade se ajusta nos seus estoques e os investimentos já começam a se tornar mais concretos. Na inflação, as metas não parecem ameaçadas, o que deve levar o BACEN a reduzir a Selic abaixo de 6% nos próximos meses. Um objeto de análise é a taxa de câmbio, na sua volatilidade diante de fatos externos e interno. Nos internos, claro, as várias crises, plantadas ou não, nos externos, a tensa relação entre EUA e China.
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Ainda na agenda econômica, a Reforma da Previdência passou na Câmara com relativa folga, com muitos creditando ao presidente da casa Rodrigo Maia. Alto lá! Eu acompanhei todo o trâmite do processo do ministro Paulo Guedes e do secretário Rogério Marinho, nos seus vários embates nas comissões, ao meu ver, verdadeiros “circos de horrores”, com a oposição sempre se posicionando de forma estratégica e a base de apoio, o partido do presidente, estranhamente se omitindo. Foram verdadeiros massacres e não poucas vezes, Guedes perdeu o controle. Difícil não perder no enfrentamento de tantos políticos da oposição medíocres.
Ingressemos agora no Senado e esperamos que melhore o nível dos debates. Cálculos preliminares indicam uma economia em torno de R$ 910 bilhões, um pouco aquém dos R$ 1,1 trilhão previstos. A pauta da mudança do regime previdenciário deve ser alterada, de partição para capitalização, a ser votada no Senado, e retornando a Câmara. Já conversamos sobre isso aqui. A bomba demográfica, mudanças no mercado de trabalho, com a redução da formalização e aumento de empreendedorismo, estão alterando o arcabouço da seguridade social. Aos poucos a população vai envelhecendo, vai reduzindo o número de pessoas que contribuem, empregos formais vão recuando, a formação de poupança para os aposentados vem começando a se tornar mais escassa… Daí a necessidade de uma rediscussão do regime.
No prosseguimento da agenda, importante destacar também as privatizações e concessões em debate, o projeto de Liberdade Econômica, o acordo do Mercosul com a União Europeia, a Reforma Tributária, o Pacto Federativo, a necessidade de uma limpeza no aparelho estatal, algo impopular que, claro, vem enfrentando resistências.
Concluo, portanto, que, apesar das patacoadas do presidente, apesar dele mais atrapalhar do que ajudar, vamos avançando com uma parte do governo trabalhando com afinco. Muito tem me impressionado todos da equipe econômica, o ministro Tarcísio Delgado, da Infraestrutura, a Tereza Cristina, da Agricultura, e por que não, o Ricardo Salles e Weintraub, do Meio Ambiente e da Educação, respectivamente. Ambos estão “desaparelhando”, “desinfetando” a máquina pública, adotando medidas duras, contrariando muitos interesses. O programa Future-se é excelente. Muitas universidades públicas não gostaram. Claro. Por que ter que ir captar recursos no setor privado, firmar parceria com empresas, vender seus projetos de tecnologia? Mais fácil é ficar com a bocarra aberta e ir exigindo recursos do Tesouro.
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Muitas universidades estão inviabilizadas porque boa parte dos seus orçamentos estão comprometidos com pessoal. Em média, 80% das despesas, em alguns casos chegando a 99%. Tudo bem, faz parte do processo.
No entanto, quando nos confrontamos com os números e detalhe nos deparamos com o escândalo de professores acumulando vários proventos, vários penduricalhos, em alguns casos com professores ganhando mais de R$ 60 mil reais. E com produção acadêmica sofrível e magistério enganoso!! Por que não avaliar isso? Por que não criar um sistema de avaliação e produtividade objetivo e sem vícios? Os professores se encastelam em suas cátedras e de lá só saem mortos!! nem depois de aposentados! Em muitos casos, se aposentam, abrem uma vaga, mas depois retornam como terceirizados. Ou seja, zero de renovação!!
Portanto, ponto para estes ministros que estão enfrentando o corporativismo da área científica, dos acadêmicos. Estou com eles. Tem muita coisa que precisa ser revista na educação.