Por Henrique Meirelles*
O Brasil hoje é um país caro, que perde capacidade exportadora e eleva importações, uma conjuntura insustentável ao equilíbrio econômico do país. Por isso, é fundamental aprofundar a discussão e as medidas para elevar nossa produtividade.
Estudo do Banco Mundial cobrindo 40 anos e 50 países mostrou, de forma inequívoca, a relação direta do nível de educação com a produtividade e o nível de renda de um país.
O progresso da educação brasileira nos últimos anos é inegável. O aumento do número de estudantes em todos os níveis foi conquista de diversos programas, mas principalmente do crescimento do investimento em educação.
Em 1995, o Brasil investia 3,7% do PIB em educação, bem abaixo da média da OCDE (grupo dos países mais desenvolvidos). Hoje, investe 5,2% do PIB, superior à média de 4,8% da OCDE. Mesmo assim, seguimos com níveis de aprendizado abaixo da média mundial e de países como México e Chile.
Se o aumento do número de estudantes e do tempo de estudo é essencial, o que eleva efetivamente a produtividade é o crescimento do nível geral de aprendizado, isto é, o aumento do desempenho, medido por testes de padrão internacional.
O estudo citado e a experiência internacional mostram que essa evolução requer maior foco e investimento no ensino fundamental, melhor capacitação dos professores, métodos de ensino diferentes e abandono de práticas excessivamente teóricas.
Os países onde o professor tem o status mais elevado na cultura nacional, como Cingapura, Coreia do Sul e Finlândia, são os com maior nível de aprendizado e os que conseguem atrair os melhores alunos para essa carreira fundamental ao desenvolvimento.
O ensino teórico, repetitivo e baseado na memória deve ser substituído pelo ensino interativo, em linha com os jovens de hoje, com uso de técnicas que favoreçam o entendimento sobretudo de matemática, ciências e língua portuguesa. Isso requer mais investimento em equipamentos como computadores, laboratórios, bibliotecas tradicionais e eletrônicas.
É imprescindível aumentar o tempo no qual os estudantes estão efetivamente engajados no aprendizado na aula. Ele não passa de 65% do tempo total nas melhores regiões do Brasil, contra a média de 88% dos países da pesquisa. O estudo conclui que, se atingir o nível médio do desempenho educacional dos países pesquisados, o Brasil pode elevar o PIB em cerca de dois pontos percentuais.
Em resumo, o grande salto de produtividade do Brasil, capaz de elevar de forma sustentável a geração de riqueza e reduzir a desigualdade, passa não só por investimentos em infraestrutura e reformas fundamentais, mas, principalmente, pelo aumento da eficácia do processo educacional.
*Henrique Meirelles é ex-presidente do Banco Central.
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