Enquanto no Brasil se discute o movimento Escola sem Partido, os núcleos de pensamento contemporâneo global focam suas energias para a premente necessidade de uma alteração radical nas tradicionais técnicas de pedagogia. Isso porque, conforme estudo divulgado recentemente pelo World Economic Forum, 65% das crianças que estão ingressando no ensino primário atuarão em novos tipos de trabalho, os quais – frisa-se – sequer existem atualmente. Ou seja, estamos enfrentando uma autêntica revolução nas potencialidades humanas laborais, sendo cogente a imediata implantação de estruturas de ensino eficazes à preparação de nossas crianças para o novo mundo que virá.
Sem cortinas, haverá uma mudança da natureza do trabalho humano que, ao invés de um paradigma burocrático-braçal, privilegiará os desideratos da razão pensante, do pensamento crítico, da análise reflexiva e as habilidades sociais como a persuasão, a inteligência emocional e a capacidade de ensinar empaticamente. Por consequência, através do alto impacto dinâmico da tecnologia de informação, teremos a inevitável ruptura com práticas de trabalho monótonas e rotineiras, liberando-se a mentalidade criativa para saltos de produtividade e geração de novos negócios.
Todavia, a atual revolução tecnológica poderá ser extremamente danosa para países como o Brasil, caracterizado pelos baixos níveis de escolaridade e precário acesso à cultura criadora. Sim, a época do trabalhador de chão de fábrica e de vínculo empregatício está acabada. A economia do futuro terá foco no indivíduo livre que, mediante sucessivas e múltiplas relações de trabalho plurais, adentrará na rede de produção global, usando sua inteligência em projetos que cativem seus interesses e impulsionem a criatividade humana produtiva.
Chama a atenção que um assunto tão importante esteja fora da pauta do debate público brasileiro. A incompetência política em modernizar o ensino nacional gerará uma imensa camada de excluídos e desempregados funcionais. Alheadas das cadeias produtivas do futuro, as pessoas estarão condenadas à pobreza com o consequente aumento do índice de desigualdade social. A hora de intervir é agora. Além de uma pedagogia infanto-juvenil inovadora, precisamos criar centros de reaprendizagem integrada, possibilitando que os trabalhadores já formados tenham acesso às técnicas tecnológicas de produção, ganhando competitividade e oportunidades de mercado.
Portanto, a escola do ontem acabou. As funestas ideologias do passado também. Estamos diante de um novo mundo com infinitas possibilidades de sucesso. Nesse universo de significados abstratos, é fundamental encontrar um sentido concreto para viver. Para ir livremente adiante, o ser humano precisa da confiança intelectual, estabilidade emocional e a noção do agir responsável. Que tal, então, deixarmos as discussões estéreis de lado e passarmos a ensinar o futuro a nossas crianças?
Fonte: “Gazeta do povo”, 26 de agosto de 2016.
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