Acredito que a maioria dos leitores desta coluna não esteja diretamente ligada à área de pedagogia e, por isso, pode conhecer apenas de passagem alguns termos que figuram no vocabulário da área. Muitos apenas tomam contato com métodos de ensino quando vão matricular os filhos na escola e deparam-se com os modelos pedagógicos mais diversos.
Um deles, muito comum em escolas privadas, é o “ensino estruturado”. Ele refere-se a uma forma de ensino sistemática e explícita, baseada não apenas em estratégias didáticas robustas, mas numa organização da apresentação dos conteúdos sob o comando de um professor: o que o professor faz é previamente estabelecido e como reage às respostas dos alunos também obedece a um script mais ou menos flexível – dependendo da qualificação do professor.
É claro que todo ensino implica uma intencionalidade – oposta à ideia de aprendizagem incidental. Nesse sentido, até mesmo os métodos de ensino por descoberta implicam um certo grau de estruturação, mas isso deixaremos para outro texto. Por hoje quero me ater às evidências que apontam o ensino estruturado como o mais eficaz para atingir os padrões de conhecimento exigidos pela sociedade moderna.
Uma revisão maciça a respeito das evidências sobre o que funciona em sala de aula, realizada em 2009 pelo pesquisador John Hattie, demonstra a superioridade de formas organizadas de ensino direto, em contraposição a formas que implicam menos direcionamento, na orientação sugerida especialmente por propostas centradas no aluno ou de base construtivista. Hattie usa o termo “ensino explícito”, para ressaltar a intencionalidade do ato de ensinar.
As evidências sobre a eficácia do ensino explícito, nas suas várias formas, apoiam-se na psicologia cognitiva, que mostra como o desenvolvimento de competências (como a competência para ler, para escrever, para fazer cálculos matemáticos) se dá em três etapas: 1) fase cognitiva; 2) fase associativa; 3) fase autônoma. O ensino diretivo (também chamado de ensino explícito) e o ensino estruturado contemplam essas etapas do desenvolvimento cerebral, de maneira que faça o aluno atingir a fase autônoma.
As evidências mostram ainda que ensinar de maneira intencional, explícita ou estruturada não é sinônimo de ensino autoritário ou unidirecional – comumente denominadas de “ensino tradicional”. Ao contrário, o ensino estruturado permite a estruturação dos conteúdos curriculares e das atividades pedagógicas por meio de materiais didáticos destinados a alunos e professores, o uso dos materiais adequados e também o acompanhamento e suporte ao corpo docente por meio de mecanismos de supervisão e avaliação.
O ensino estruturado pode abranger tanto uma aula expositiva, totalmente centrada no professor, ou apoiada em textos, livros didáticos ou exercícios, ou até mesmo um sistema de ensino programado para ser utilizado num computador, com maior ou menor grau de interatividade e feedback. O grau de rigidez ou flexibilidade também pode variar.
De um lado, as definições de ensino estruturado são bastante amplas e podem incluir uma enorme gama de intervenções. No entanto, os estudos sobre o tema referem-se a intervenções cujos contornos são bem especificados e, na maioria dos casos, comparados com outros programas cuja natureza é diferente (centrada no aluno, método da descoberta etc.) ou cujo grau de estruturação é muito menor.
O ensino eficaz ocorre quando um professor toma decisões prévias e em tempo real sobre os objetivos do ensino, conteúdos, materiais e estratégias, bem como introduz as alterações de curso necessárias para atingir os resultados previstos. Uma das forças dos programas de ensino estruturado está no alinhamento entre material didático do aluno, com as orientações ao professor e a capacitação docente.
Para quem deseja se aprofundar na bibliografia do tema, eu sugiro a leitura do capítulo 12 do livro “Educação baseada em evidências – como saber o que funciona em educação” (Instituto Alfa e Beto, 2015). Por hora, afirmo que a evidência a respeito das estratégias e métodos de ensino estruturado salta aos olhos, mas precisa ser examinada com muito cuidado.
Qualquer intervenção educacional gera algum resultado, mas o resultado nem sempre é positivo e, sobretudo, raramente é grande o suficiente para justificar a intervenção, ou os custos. O fato de ser diferente de zero não credencia uma intervenção e nada diz sobre sua eficácia. O efeito que se encontra a favor do ensino estruturado tem uma magnitude considerável, comparando-se com a eficácia de outros programas. E isso não implica diferenças ideológicas. São afirmações pautadas em evidências.
Fonte: “Veja”, 30 de março de 2016.
No Comment! Be the first one.