Após ofertar mais de US$ 20 bilhões em contratos de swap cambial, o Banco Central começa nesta segunda-feira a lançar mão de uma nova estratégia para atuar no dólar e conter a valorização excessiva da moeda americana. Agora, vai oferecer o chamado leilão de linha, que é a venda do dólar ao mercado com compromisso de recompra. O montante anunciado pelo BC foi de US$ 3 bilhões.
Essa operação se dá no mercado à vista de câmbio. Ou seja, é diferente da outra arma que o BC vem adotando nos últimos tempos: os contratos de swap cambial, que são operações no mercado futuro de dólar.
Veja também:
Ronald Otto Hillbrecht: Por que o tabelamento de preços é ruim para o país?
“Quanto maior é o poder do Estado, menor é do indivíduo”
Jorge Caldeira: “O Brasil precisa de uma reforma de Estado urgente”
Os US$ 3 bilhões que serão vendidos vêm das reservas internacionais do Brasil, que são de US$ 382 bilhões hoje. O volume de reservas do país é considerado alto para uma economia emergente, equivale a 20% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país ao longo de um ano). O Brasil está na lista dos dez países com maior volume de reservas internacionais, segundo dados do CIA Worldfactbook.
Mas o montante das reservas internacionais não vai reduzir de forma definitiva: o leilão de linha é uma venda de dólares com compromisso de recompra futura. Ou seja, quando ocorrer esse recompra no futuro, os recursos voltarão para as reservas internacionais. Esse tipo de estratégia já foi usada na época da crise financeira internacional, nos anos de 2008 e 2009.
O chamado leilão de linha costuma ocorrer em momentos de baixa liquidez, ou seja, quando há pouca oferta de dólar à vista pelas instituições financeiras.
Outras armas do Banco Central
Operações no mercado futuro
O Banco Central tem ofertado contratos de swap cambial, que são operações no mercado futuro de dólar. Essas operações no mercado futuro são procuradas como um hedge, ou proteção, para uma possível alta futura do dólar.
A procura por esses contratos aumentou diante da forte reversão de expectativas para a economia brasileira nos últimos dias. Isso explicaria a alta do dólar, apesar de o país continuar recebendo um fluxo positivo de recursos estrangeiros (ou seja, tem entrado mais dólar do que saído do Brasil).
+ Paulo Guedes: “Por mais Brasil e menos Brasília”
Taxa de juros
A taxa de juros do Brasil está em 6,5%, enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) acaba de elevar os juros, na sétima alta desde o fim de 2015, e indicar mais altas. Juros maiores nos EUA têm um série de efeitos negativos sobre os emergentes, como o Brasil. Com taxas maiores, o mercado americano se torna mais atraente para os investidores, que injetam lá os recursos em detrimento dos mercados emergentes. Nesse cenário, o dólar tende a subir.
Para evitar essa disparada do dólar, o Banco Central poderia subir os juros. Só que decidiu mais uma vez na semana passada manter a taxa inalterada e frisou que sua decisão foi focada apenas na inflação, atualmente em 2,68%, bem abaixo da meta oficial do governo. Pelo comunicado, analistas veem pouca chance de alta da taxa básica antes das eleições de outubro. Há até quem só espere um movimento em 2019.
Títulos públicos
Como os juros futuros negociados no mercado financeiro têm subido com força nos últimos dias, o Banco Central recorreu à venda de títulos públicos em “operações compromissadas” para tentar reduzir a volatilidade neste mercado. Os juros futuros subiram como reflexo da alta do dólar, mas o nervosismo neste mercado acaba retroalimentando as pressões sobre o câmbio. A “operação compromissada” é a venda de títulos com o compromisso de recompra: ou seja, o BC deixa claro ao mercado que vai garantir que o investidor conseguirá, se quiser, sair dessa aplicação no futuro.
Fonte: “O Globo”