A turma de Brasília é incansável na arte de produzir novidades nessa mistura de improvisação e inépcia em que se transformou a política fiscal brasileira. Na quarta-feira passada foi a vez de o senador Romero Jucá (PMDB-RR) dar uma mãozinha para a farra com dinheiro do povo. Nenhuma surpresa. Jucá é um desses parlamentares, assim como seu correligionário Renan Calheiros (AL), que encarnam o que há de pior na política brasileira. Não importa quem esteja no poder (ou seja, com as chaves do cofre na mão): eles serão sempre a favor. Jucá, agora, chamou para si a missão de ajudar a equipe econômica do governo a encontrar uma saída para a arapuca que ela armou para si mesma.
[su_quote]Qualquer governo populista como o brasileiro é cronicamente incapaz de eliminar despesas[/su_quote]
A arapuca em questão foi prometer gastar este ano R$ 66 bilhões menos do que a arrecadação. Foi um erro técnico e também político. Foi erro político porque, em matéria de ajuste fiscal, o que importa não é o tamanho do corte e sim a consistência da proposta e a seriedade em sua condução (e a esta altura já está evidente que não houve nem uma coisa nem a outra). O resumo do erro técnico mostra que, no momento em que o compromisso foi assumido, não havia qualquer estatística confiável em que a nova equipe pudesse se apoiar para afirmar que o resultado era alcançável.
Nem que a vaca tussa
A esta altura do campeonato, há motivos de sobra para constatar que o número não será alcançado nem que a vaca tussa. O primeiro desses motivos é que a paralisação na economia tem se mostrado muito maior do que Joaquim Levy e Nelson Barbosa foram capazes de prever — e recessão no Brasil, como em qualquer outro lugar do mundo, significa queda na arrecadação. Outro motivo é que os impostos criados para trazer mais dinheiro para o caixa se mostraram paliativos: a sociedade acha que está passando por um tratamento severo, mas, na hora do vamos ver, o remédio não combate a doença, só os sintomas.
Um outro motivo é que todo e qualquer governo populista como o brasileiro é cronicamente incapaz de eliminar despesas. E quando é obrigado a fazer isso, ao contrário do que reza o ditado popular, entrega os dedos para preservar os anéis. Sim. Para preservar os gastos que ajudam a companheirada a se manter na crista da onda, o governo e o Congresso conservam as despesas que rendem votos e cortam as despesas “boas”, aquelas que arejam e mantém a economia funcionando.
Sem constrangimento
Onde Romero Jucá entra nessa história? Bem… depois de ouvir de Renan Calheiros que será impossível economizar os tais R$ 66 bilhões, Jucá foi ao Ministério da Fazenda conversar com Levy e saiu de lá apresentando como sua a ideia de reduzir a meta para pouco menos de R$ 20 bilhões. Em qualquer país sério, um erro deste tamanho seria motivo de constrangimento. No Brasil, os políticos se limitam a dizer que a redução da meta é “inevitável”. E continuam agindo como se não fossem eles os responsáveis pelo desastre econômico que o país está vivendo.
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