Vivemos um período curioso de nossa classe política. Muitos nomes com os quais estamos acostumados a conviver no cenário nacional estão encerrando seu ciclo. Esta aposentadoria natural foi acompanhada também de um processo de depuração que atingiu nomes jovens que poderiam representar uma mudança geracional. Enquanto novos atores não se apresentarem, estaremos diante de um vácuo perigoso em nosso processo eleitoral que se avizinha.
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O sistema gera formas curiosas de se manter. Uma delas é a passagem de bastão geracional, ou seja, o político tradicional unge um filho como seu herdeiro e diante das conexões políticas estabelecidas e especialmente do sobrenome, torna-o natural sucessor. Isto é muito comum em alguns Estados, onde as famílias se revezam no poder e trocam, dentro do jogo de cargos, posições no establishment. Assim todos permanecem acomodados, com a renovação sendo estabelecida dentro do seu próprio clã.
Fato é que nosso processo político entrou em entressafra com as manifestações de 2013 e deve concluir este ciclo apenas em 2022, ainda sob os efeitos da Lava Jato. Assim sendo, diante de um modelo eleitoral que consegue barrar de forma sistemática a entrada de novos atores, vivemos uma espécie de limbo, que está sendo preenchido por nomes que tem pouca relação com a política e carecem de habilidade para lidar com suas regras internas.
A sucessão presidencial se apresenta dentro deste contexto. A falta de atores fortes de uma nova geração, aliados a força dos herdeiros políticos de famílias tradicionais, está impulsionando nomes de fora a tentar sua sorte nas urnas. Alguns acreditam que a união destes outsiders com o apoio de políticos tradicionais pode ser a senha para a vitória.
O grande erro de nossa classe política foi não ter preparado novas gerações que aos poucos operassem um processo de transição. O resultado será uma tentativa de renovação por fora que pode gerar tensões e atritos no mundo político. Em última instância, um processo que pode inclusive colocar o sistema democrático em xeque.
Diante da inoperância da política tradicional em rever os mecanismos eleitorais nos últimos meses, veremos a permanência do modelo com o qual estamos acostumados, trincado e perigoso, um sistema que não responde aos desejos do eleitor e que, portanto, pode entrar em colapso.
A renovação, da maneira como está posta, será limitada e circunscrita, o que pode gerar uma sensação de insatisfação brutal na população. Esta rachadura, que pode enfraquecer a democracia, é uma ameaça desta entressafra política que vivemos. Renovar com qualidade é o principal desafio das próximas eleições.
Fonte: “O Tempo”, 23/10/2017
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