O matemático Patri Friedman, neto de Milton Friedman – um dos mais importantes economistas do século XX, Prêmio Nobel de 1976 e maior influência do neoliberalismo – defende um recomeço da sociedade. Na verdade, vários recomeços, comentou o libertário, de 33 anos, que esteve no Brasil para participar de um seminário a convite do Instituto Millenium. Mas já que não há mais terras livres a serem exploradas, defende cidades flutuantes no oceano. Nelas, cada grupo experimentaria o seu modelo econômico ideal. No dele, o governo teria um papel menor e o sistema financeiro seria descentralizado. Em suas previsões, seu projeto, ainda sem local definido, estaria pronto em 2015 e receberia 50 pessoas. Ele diz que estudos apontam que um décimo da população mundial está disposta a deixar o seu país para tentar o bem-estar em outro lugar. Será?
Como seriam essas cidades no mar?
O objetivo é deixar as pessoas tentarem novas idéias de como viver em sociedade. Tudo numa escala menor e no mar. Seria um recomeço, muito baseado em tecnologia. E seria um pequeno grupo de pessoas vivendo junto, tentando algo novo. É bom lembrar que a maioria das idéias quase nunca sai de grandes empresas, mas de pequenas empresas, de pequenos grupos. Um exemplo: o iPod. A Apple não fez o primeiro aparelho portátil de música. Um pequeno grupo o fez, e, então, eles viram que isso funcionava e decidiram fazer uma versão melhor. Mas a idéia original era de um pequeno grupo. O importante é que as cidades comecem pequenas, para que surjam ideias.
Viver no mar é perigoso, não? Espera muitos adeptos?
Nossas previsões apontam que, em 2015, teremos a primeira cidade, com 50 pessoas. Seria uma primeira comunidade, que pode chegar a ser grande. Quem não se importa com os perigos poderá ir. Mas muitos não vão querer viver nesses experimentos. A maioria prefere viver como está, num mundo grande, onde se sente segura com o atual sistema. Sobre os perigos do oceano? Plataformas e cruzeiros são bons exemplo de sucesso. É apenas uma questão de dinheiro. As ondas encarecem o problema. Tsunamis não são problemas no oceano, apenas quando chegam na costa é que são grandes. Mas furacões, sim, são problemas. Vamos ter que fazer construções que sejam grandes o suficiente. Tudo bem, com tecnologia, tudo pode funcionar.
Seria um recomeço?
Seriam vários recomeços e de uma forma opcional. Não é uma revolução, quando as pessoas são forçadas a recomeçar. Você se juntará ao recomeço se quiser. Ninguém é forçado a nada. Nós queremos vários recomeços. Vocês pode iniar algo realmente diferente, se começa num lugar vazio. O Velho Mundo descobriu o Novo Mundo para começar novas sociedades. Agora, não há mais lugar para os pioneiros. Toda a terra já está ocupada. Vamos fazer um novo espaço para ser descoberto.
Você acha que os modelos atuais estão errados?
Os modelos não funcionam muito bem. Por isso, estamos tentando coisas novas. Mas não quero forçar ninguém a tentar minhas idéias. Quero encontrar um grupo, que não concorde com o modelo de hoje e tenha uma idéia de um sistema melhor.
Você é contra o governo, como uma instituição?
Não sou contra governo. Mas sou contra os modelos atuais de governo. Os governo são grandes, quando comparados às empresas. Não seria tanto problema, se os poderes locais tivessem mais autonomia. Mas todo o poder vai para a capital, em todos os países. A exceção é a Suíça. Normalmente, o governo falha mais do que o mercado. E o governo compele as pessoas a fazer coisas. Com o governo, não há competição, mas monopólio. Vale lembrar que não há anjos no governo. Em vez disso, egoísmo e ganância, que também aparecem no mundo dos negócios. A questão é que esses ingredientes no governo fazem mais estragos do que nas empresas. No mar, as cidades podem testar alternativas de gestão. Como cada grupo teria uma diferente idéia de governo, várias modelos seriam tentados. E em vez de debater e escrever livros, teríamos mais experimentos. Na minha cidade, eu buscarei menos intervenção. Comunistas serão bem vindos para começar uma vida no oceanos. Assim como capitalistas. Então, vamos ver se estou certo ou errado. Aí, quem sabe, até me mudo.
Muitas pessoas querem um governo forte…
Tudo bem. Mas é mais fácil de convencer as pessoas com exemplos reais do que argumentações. Eu acho que o sistema não funciona direito porque o governo é grande. No oceano, as cidades podem tentar coisas novas e poderão consertar o governo, o que vai estimular, inclusive, as demais economias. Se muita gente for para o oceano, o governo daqui vai tentar melhorar para evitar essa evasão. É uma nova maneira de competição. Se muita gente sair de Porto Alegre, por exemplo, e for morar nas cidades flutuantes, o governo vai querer saber o que tem por lá e onde pode melhorar.
Mas é um projeto viável economicamente?
O investimento inicial é de R$ 5 mil por metro quadrado, que não é tão alto assim para o custo de uma cidade. Mas os custos vão baixar. E quando ficar mais barato, poderemos ter fábricas e pessoas vindo de todas as partes do mundo. Tem um estudo feito em todos os países que perguntavam quantos mudariam para um outro país em busca de outra vida melhor: um décimo se mudaria. Um dos objetivos da cidades no oceano é colocar uma competição entre as cidades. Se as cidades fossem geridas por homens de negócios, haveria mais competitividade. Hoje, fazemos as leis e depois checamos se funcionam.
Essas cidades não podem virar redutos de iguais?
Há várias propostas e uma dessas ideias é de uma cidade gay. Vários grupos poderiam querer ficar juntos, sim. Mas outros grupos gostariam de estar juntos, como os religiosos.
E onde fica a democracia?
Democracia funciona bem melhor em pequenos grupos. Com menos gente, a democracia pode funcionar bem melhor. No mar, será possível dar mais voz a cada um. Num país com 200 milhões de habitantes, seu voto não tem importância. Então, o indivíduo se preocupa mais com o que vai fazer para o jantar do que em escolher o melhor político. Estamos falando de 200 milhões de pessoas. Mas, se passamos para uma cidade no oceano com mil habitantes, seu voto realmente importa e suas ideias podem ser realmente ouvidas.
Quem protegeria o seu novo sistema?
O governo. Não quero fazer uma cidade sem governo. Vamos tentar fazer outras novas formas de governo. Eu preferia com menos intervenção. Mas outras pessoas podem querer mais intervenção. Há várias respostas para essa pergunta. O que quero é ver na prática o modelo que funcionará. Na minha cidade, eu gostaria de menos intervenção. Mas pode haver outra com mais intervenção. Veremos o que dará certo.
A crise global mostrou que a intervenção do governo pode salvar as economias, não?
Há outras perspectivas sobre a crise, como a que acredita que os governos causaram boa parte dos problemas. Ao comprar bancos, governos podem ter tirado suas economias da crise ou podem ter feito as coisas ficarem até piores. Parte da razão da crise global é que os sistemas financeiros dos países são grandes e similares. No oceano, a idéia é que existam diferentes tipo de governo, diferentes tipo de bancos e moedas. Aliás, os libertários acreditam que diferentes tipos de bancos e moedas teriam evitado a crise. Alguns acreditam que a crise foi gerada por bancos centrais. Eu não sei. Mas, se tivermos cidades sem bancos centrais, podemos ver se eles se salvam quando a crise vier. Hoje, todos os países são tão parecidos, todos têm bancos centrais. Não sabemos a resposta porque não estamos tentando coisas diferentes. Talvez, no oceano pode não ter crise, ou talvez possa ser até pior. Mas o que será possível é testar no mundo real, em vez de ficar argumentando. É ciência pura.
Como distribuir renda, por exemplo?
Em diferentes cidades, podemos testar diferentes formas de distribuir renda. E, assim, as pessoas podem ver o que pode fazer bem para a cidade. Se a tarefa de distribuir renda fosse feita por anjos, seria bem feito e o mundo seria melhor. Mas, como é feito pelo governo, até existe o plano de distribuir para o pobre. Porém, quando os economistas olham o programa do governo, acontece em geral o contrário. E mesmo quando o país consegue fazer essa distribuição, há perda de valor. Se há R$ 100 para cada pobre, ele só vai receber R$ 20. Isso acontece porque o governo não pega e dá o dinheiro. Em vez disso, faz diferentes programas e cria leis: o governo quer o controle. Só que estudos mostram que quanto maiores os gastos do governo, mais devagar o país cresce. Com mais gastos, o país fica rico de forma mais lenta. Isso dá um belo gráfico. Eu pessoalmente acho que isso não funciona.
Você concorda com a proposta de seu avô, de ter um imposto de renda negativo?
Sim, mas isso é muito difícil. A começar, as pessoas não entenderam o que meu avô dizia. Ele queria desenhar uma boa lei para uma situação que ele não queria que existisse. Ele preferia não ter uma imposto de renda negativo. Mas essa seria uma boa maneira de fazer uma redistribuição de renda. Imposto de renda negativo é pagamento direito na mão do pobre, o que é bem melhor do que dar a eles comida, casa. Dê dinheiro e os pobres podem decidir o que vão fazer.
Que críticas você faz ao atual sistema financeiro dos países?
Quanto maior a dependência do país no bom funcionamento de poucos e grandes bancos, pior. É por isso que é bom ter bancos menores. E, assim, ter um sistema mais descentralizado: se alguns bancos falirem, tudo bem, pois não vão arruinar a economia. Em vez disso, há poucos e grandes bancos e um sistema de regulação que permite, por exemplo, que um compre o outro. Toda crise é diferente. E os agentes reguladores fazem novas leis sobre crises passadas. É os bancos sempre fazem seu caminho dentro dessas leis. É preciso descentralizar o sistema com bancos menores. Mas os governos puxam para a centralização.
No Brasil, algumas medidas para conter a crise incluíram corte de tributos. Fizemos certo?
Para estimular a economia, nada como cortar impostos. Derrubar taxas foi uma saída melhor do que nos Estados Unidos, que deu muito dinheiro aos bancos.
Se você quer estimular a economia, cortar impostos é uma maneira inteligente. Reduzir taxas é bom em qualquer momento, a qualquer hora.
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/04/16/por-um-recomeco-em-pleno-mar-916362109.asp
O matemático Patri Friedman, neto de Milton Friedman – um dos mais importantes economistas do século XX, Prêmio Nobel de 1976 e maior influência do neoliberalismo – defende um recomeço da sociedade. Na verdade, vários recomeços, comentou o libertário, de 33 anos, que esteve no Brasil para participar de um seminário a convite do Instituto Millenium. Mas já que não há mais terras livres a serem exploradas, defende cidades flutuantes no oceano. Nelas, cada grupo experimentaria o seu modelo econômico ideal. No dele, o governo teria um papel menor e o sistema financeiro seria descentralizado. Em suas previsões, seu projeto, ainda sem local definido, estaria pronto em 2015 e receberia 50 pessoas. Ele diz que estudos apontam que um décimo da população mundial está disposta a deixar o seu país para tentar o bem-estar em outro lugar. Será?
Como seriam essas cidades no mar?
O objetivo é deixar as pessoas tentarem novas idéias de como viver em sociedade. Tudo numa escala menor e no mar. Seria um recomeço, muito baseado em tecnologia. E seria um pequeno grupo de pessoas vivendo junto, tentando algo novo. É bom lembrar que a maioria das idéias quase nunca sai de grandes empresas, mas de pequenas empresas, de pequenos grupos. Um exemplo: o iPod. A Apple não fez o primeiro aparelho portátil de música. Um pequeno grupo o fez, e, então, eles viram que isso funcionava e decidiram fazer uma versão melhor. Mas a idéia original era de um pequeno grupo. O importante é que as cidades comecem pequenas, para que surjam ideias.
Viver no mar é perigoso, não? Espera muitos adeptos?
Nossas previsões apontam que, em 2015, teremos a primeira cidade, com 50 pessoas. Seria uma primeira comunidade, que pode chegar a ser grande. Quem não se importa com os perigos poderá ir. Mas muitos não vão querer viver nesses experimentos. A maioria prefere viver como está, num mundo grande, onde se sente segura com o atual sistema. Sobre os perigos do oceano? Plataformas e cruzeiros são bons exemplo de sucesso. É apenas uma questão de dinheiro. As ondas encarecem o problema. Tsunamis não são problemas no oceano, apenas quando chegam na costa é que são grandes. Mas furacões, sim, são problemas. Vamos ter que fazer construções que sejam grandes o suficiente. Tudo bem, com tecnologia, tudo pode funcionar.
Seria um recomeço?
Seriam vários recomeços e de uma forma opcional. Não é uma revolução, quando as pessoas são forçadas a recomeçar. Você se juntará ao recomeço se quiser. Ninguém é forçado a nada. Nós queremos vários recomeços. Vocês pode iniar algo realmente diferente, se começa num lugar vazio. O Velho Mundo descobriu o Novo Mundo para começar novas sociedades. Agora, não há mais lugar para os pioneiros. Toda a terra já está ocupada. Vamos fazer um novo espaço para ser descoberto.
Você acha que os modelos atuais estão errados?
Os modelos não funcionam muito bem. Por isso, estamos tentando coisas novas. Mas não quero forçar ninguém a tentar minhas idéias. Quero encontrar um grupo, que não concorde com o modelo de hoje e tenha uma idéia de um sistema melhor.
Você é contra o governo, como uma instituição?
Não sou contra governo. Mas sou contra os modelos atuais de governo. Os governo são grandes, quando comparados às empresas. Não seria tanto problema, se os poderes locais tivessem mais autonomia. Mas todo o poder vai para a capital, em todos os países. A exceção é a Suíça. Normalmente, o governo falha mais do que o mercado. E o governo compele as pessoas a fazer coisas. Com o governo, não há competição, mas monopólio. Vale lembrar que não há anjos no governo. Em vez disso, egoísmo e ganância, que também aparecem no mundo dos negócios. A questão é que esses ingredientes no governo fazem mais estragos do que nas empresas. No mar, as cidades podem testar alternativas de gestão. Como cada grupo teria uma diferente idéia de governo, várias modelos seriam tentados. E em vez de debater e escrever livros, teríamos mais experimentos. Na minha cidade, eu buscarei menos intervenção. Comunistas serão bem vindos para começar uma vida no oceanos. Assim como capitalistas. Então, vamos ver se estou certo ou errado. Aí, quem sabe, até me mudo.
Muitas pessoas querem um governo forte…
Tudo bem. Mas é mais fácil de convencer as pessoas com exemplos reais do que argumentações. Eu acho que o sistema não funciona direito porque o governo é grande. No oceano, as cidades podem tentar coisas novas e poderão consertar o governo, o que vai estimular, inclusive, as demais economias. Se muita gente for para o oceano, o governo daqui vai tentar melhorar para evitar essa evasão. É uma nova maneira de competição. Se muita gente sair de Porto Alegre, por exemplo, e for morar nas cidades flutuantes, o governo vai querer saber o que tem por lá e onde pode melhorar.
Mas é um projeto viável economicamente?
O investimento inicial é de R$ 5 mil por metro quadrado, que não é tão alto assim para o custo de uma cidade. Mas os custos vão baixar. E quando ficar mais barato, poderemos ter fábricas e pessoas vindo de todas as partes do mundo. Tem um estudo feito em todos os países que perguntavam quantos mudariam para um outro país em busca de outra vida melhor: um décimo se mudaria. Um dos objetivos da cidades no oceano é colocar uma competição entre as cidades. Se as cidades fossem geridas por homens de negócios, haveria mais competitividade. Hoje, fazemos as leis e depois checamos se funcionam.
Essas cidades não podem virar redutos de iguais?
Há várias propostas e uma dessas ideias é de uma cidade gay. Vários grupos poderiam querer ficar juntos, sim. Mas outros grupos gostariam de estar juntos, como os religiosos.
E onde fica a democracia?
Democracia funciona bem melhor em pequenos grupos. Com menos gente, a democracia pode funcionar bem melhor. No mar, será possível dar mais voz a cada um. Num país com 200 milhões de habitantes, seu voto não tem importância. Então, o indivíduo se preocupa mais com o que vai fazer para o jantar do que em escolher o melhor político. Estamos falando de 200 milhões de pessoas. Mas, se passamos para uma cidade no oceano com mil habitantes, seu voto realmente importa e suas ideias podem ser realmente ouvidas.
Quem protegeria o seu novo sistema?
O governo. Não quero fazer uma cidade sem governo. Vamos tentar fazer outras novas formas de governo. Eu preferia com menos intervenção. Mas outras pessoas podem querer mais intervenção. Há várias respostas para essa pergunta. O que quero é ver na prática o modelo que funcionará. Na minha cidade, eu gostaria de menos intervenção. Mas pode haver outra com mais intervenção. Veremos o que dará certo.
A crise global mostrou que a intervenção do governo pode salvar as economias, não?
Há outras perspectivas sobre a crise, como a que acredita que os governos causaram boa parte dos problemas. Ao comprar bancos, governos podem ter tirado suas economias da crise ou podem ter feito as coisas ficarem até piores. Parte da razão da crise global é que os sistemas financeiros dos países são grandes e similares. No oceano, a idéia é que existam diferentes tipo de governo, diferentes tipo de bancos e moedas. Aliás, os libertários acreditam que diferentes tipos de bancos e moedas teriam evitado a crise. Alguns acreditam que a crise foi gerada por bancos centrais. Eu não sei. Mas, se tivermos cidades sem bancos centrais, podemos ver se eles se salvam quando a crise vier. Hoje, todos os países são tão parecidos, todos têm bancos centrais. Não sabemos a resposta porque não estamos tentando coisas diferentes. Talvez, no oceano pode não ter crise, ou talvez possa ser até pior. Mas o que será possível é testar no mundo real, em vez de ficar argumentando. É ciência pura.
Como distribuir renda, por exemplo?
Em diferentes cidades, podemos testar diferentes formas de distribuir renda. E, assim, as pessoas podem ver o que pode fazer bem para a cidade. Se a tarefa de distribuir renda fosse feita por anjos, seria bem feito e o mundo seria melhor. Mas, como é feito pelo governo, até existe o plano de distribuir para o pobre. Porém, quando os economistas olham o programa do governo, acontece em geral o contrário. E mesmo quando o país consegue fazer essa distribuição, há perda de valor. Se há R$ 100 para cada pobre, ele só vai receber R$ 20. Isso acontece porque o governo não pega e dá o dinheiro. Em vez disso, faz diferentes programas e cria leis: o governo quer o controle. Só que estudos mostram que quanto maiores os gastos do governo, mais devagar o país cresce. Com mais gastos, o país fica rico de forma mais lenta. Isso dá um belo gráfico. Eu pessoalmente acho que isso não funciona.
Você concorda com a proposta de seu avô, de ter um imposto de renda negativo?
Sim, mas isso é muito difícil. A começar, as pessoas não entenderam o que meu avô dizia. Ele queria desenhar uma boa lei para uma situação que ele não queria que existisse. Ele preferia não ter uma imposto de renda negativo. Mas essa seria uma boa maneira de fazer uma redistribuição de renda. Imposto de renda negativo é pagamento direito na mão do pobre, o que é bem melhor do que dar a eles comida, casa. Dê dinheiro e os pobres podem decidir o que vão fazer.
Que críticas você faz ao atual sistema financeiro dos países?
Quanto maior a dependência do país no bom funcionamento de poucos e grandes bancos, pior. É por isso que é bom ter bancos menores. E, assim, ter um sistema mais descentralizado: se alguns bancos falirem, tudo bem, pois não vão arruinar a economia. Em vez disso, há poucos e grandes bancos e um sistema de regulação que permite, por exemplo, que um compre o outro. Toda crise é diferente. E os agentes reguladores fazem novas leis sobre crises passadas. É os bancos sempre fazem seu caminho dentro dessas leis. É preciso descentralizar o sistema com bancos menores. Mas os governos puxam para a centralização.
No Brasil, algumas medidas para conter a crise incluíram corte de tributos. Fizemos certo?
Para estimular a economia, nada como cortar impostos. Derrubar taxas foi uma saída melhor do que nos Estados Unidos, que deu muito dinheiro aos bancos.
Se você quer estimular a economia, cortar impostos é uma maneira inteligente. Reduzir taxas é bom em qualquer momento, a qualquer hora.
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/04/16/por-um-recomeco-em-pleno-mar-916362109.asp
O matemático Patri Friedman, neto de Milton Friedman – um dos mais importantes economistas do século XX, Prêmio Nobel de 1976 e maior influência do neoliberalismo – defende um recomeço da sociedade. Na verdade, vários recomeços, comentou o libertário, de 33 anos, que esteve no Brasil para participar de um seminário a convite do Instituto Millenium. Mas já que não há mais terras livres a serem exploradas, defende cidades flutuantes no oceano. Nelas, cada grupo experimentaria o seu modelo econômico ideal. No dele, o governo teria um papel menor e o sistema financeiro seria descentralizado. Em suas previsões, seu projeto, ainda sem local definido, estaria pronto em 2015 e receberia 50 pessoas. Ele diz que estudos apontam que um décimo da população mundial está disposta a deixar o seu país para tentar o bem-estar em outro lugar. Será?
Como seriam essas cidades no mar?
O objetivo é deixar as pessoas tentarem novas idéias de como viver em sociedade. Tudo numa escala menor e no mar. Seria um recomeço, muito baseado em tecnologia. E seria um pequeno grupo de pessoas vivendo junto, tentando algo novo. É bom lembrar que a maioria das idéias quase nunca sai de grandes empresas, mas de pequenas empresas, de pequenos grupos. Um exemplo: o iPod. A Apple não fez o primeiro aparelho portátil de música. Um pequeno grupo o fez, e, então, eles viram que isso funcionava e decidiram fazer uma versão melhor. Mas a idéia original era de um pequeno grupo. O importante é que as cidades comecem pequenas, para que surjam ideias.
Viver no mar é perigoso, não? Espera muitos adeptos?
Nossas previsões apontam que, em 2015, teremos a primeira cidade, com 50 pessoas. Seria uma primeira comunidade, que pode chegar a ser grande. Quem não se importa com os perigos poderá ir. Mas muitos não vão querer viver nesses experimentos. A maioria prefere viver como está, num mundo grande, onde se sente segura com o atual sistema. Sobre os perigos do oceano? Plataformas e cruzeiros são bons exemplo de sucesso. É apenas uma questão de dinheiro. As ondas encarecem o problema. Tsunamis não são problemas no oceano, apenas quando chegam na costa é que são grandes. Mas furacões, sim, são problemas. Vamos ter que fazer construções que sejam grandes o suficiente. Tudo bem, com tecnologia, tudo pode funcionar.
Seria um recomeço?
Seriam vários recomeços e de uma forma opcional. Não é uma revolução, quando as pessoas são forçadas a recomeçar. Você se juntará ao recomeço se quiser. Ninguém é forçado a nada. Nós queremos vários recomeços. Vocês pode iniar algo realmente diferente, se começa num lugar vazio. O Velho Mundo descobriu o Novo Mundo para começar novas sociedades. Agora, não há mais lugar para os pioneiros. Toda a terra já está ocupada. Vamos fazer um novo espaço para ser descoberto.
Você acha que os modelos atuais estão errados?
Os modelos não funcionam muito bem. Por isso, estamos tentando coisas novas. Mas não quero forçar ninguém a tentar minhas idéias. Quero encontrar um grupo, que não concorde com o modelo de hoje e tenha uma idéia de um sistema melhor.
Você é contra o governo, como uma instituição?
Não sou contra governo. Mas sou contra os modelos atuais de governo. Os governo são grandes, quando comparados às empresas. Não seria tanto problema, se os poderes locais tivessem mais autonomia. Mas todo o poder vai para a capital, em todos os países. A exceção é a Suíça. Normalmente, o governo falha mais do que o mercado. E o governo compele as pessoas a fazer coisas. Com o governo, não há competição, mas monopólio. Vale lembrar que não há anjos no governo. Em vez disso, egoísmo e ganância, que também aparecem no mundo dos negócios. A questão é que esses ingredientes no governo fazem mais estragos do que nas empresas. No mar, as cidades podem testar alternativas de gestão. Como cada grupo teria uma diferente idéia de governo, várias modelos seriam tentados. E em vez de debater e escrever livros, teríamos mais experimentos. Na minha cidade, eu buscarei menos intervenção. Comunistas serão bem vindos para começar uma vida no oceanos. Assim como capitalistas. Então, vamos ver se estou certo ou errado. Aí, quem sabe, até me mudo.
Muitas pessoas querem um governo forte…
Tudo bem. Mas é mais fácil de convencer as pessoas com exemplos reais do que argumentações. Eu acho que o sistema não funciona direito porque o governo é grande. No oceano, as cidades podem tentar coisas novas e poderão consertar o governo, o que vai estimular, inclusive, as demais economias. Se muita gente for para o oceano, o governo daqui vai tentar melhorar para evitar essa evasão. É uma nova maneira de competição. Se muita gente sair de Porto Alegre, por exemplo, e for morar nas cidades flutuantes, o governo vai querer saber o que tem por lá e onde pode melhorar.
Mas é um projeto viável economicamente?
O investimento inicial é de R$ 5 mil por metro quadrado, que não é tão alto assim para o custo de uma cidade. Mas os custos vão baixar. E quando ficar mais barato, poderemos ter fábricas e pessoas vindo de todas as partes do mundo. Tem um estudo feito em todos os países que perguntavam quantos mudariam para um outro país em busca de outra vida melhor: um décimo se mudaria. Um dos objetivos da cidades no oceano é colocar uma competição entre as cidades. Se as cidades fossem geridas por homens de negócios, haveria mais competitividade. Hoje, fazemos as leis e depois checamos se funcionam.
Essas cidades não podem virar redutos de iguais?
Há várias propostas e uma dessas ideias é de uma cidade gay. Vários grupos poderiam querer ficar juntos, sim. Mas outros grupos gostariam de estar juntos, como os religiosos.
E onde fica a democracia?
Democracia funciona bem melhor em pequenos grupos. Com menos gente, a democracia pode funcionar bem melhor. No mar, será possível dar mais voz a cada um. Num país com 200 milhões de habitantes, seu voto não tem importância. Então, o indivíduo se preocupa mais com o que vai fazer para o jantar do que em escolher o melhor político. Estamos falando de 200 milhões de pessoas. Mas, se passamos para uma cidade no oceano com mil habitantes, seu voto realmente importa e suas ideias podem ser realmente ouvidas.
Quem protegeria o seu novo sistema?
O governo. Não quero fazer uma cidade sem governo. Vamos tentar fazer outras novas formas de governo. Eu preferia com menos intervenção. Mas outras pessoas podem querer mais intervenção. Há várias respostas para essa pergunta. O que quero é ver na prática o modelo que funcionará. Na minha cidade, eu gostaria de menos intervenção. Mas pode haver outra com mais intervenção. Veremos o que dará certo.
A crise global mostrou que a intervenção do governo pode salvar as economias, não?
Há outras perspectivas sobre a crise, como a que acredita que os governos causaram boa parte dos problemas. Ao comprar bancos, governos podem ter tirado suas economias da crise ou podem ter feito as coisas ficarem até piores. Parte da razão da crise global é que os sistemas financeiros dos países são grandes e similares. No oceano, a idéia é que existam diferentes tipo de governo, diferentes tipo de bancos e moedas. Aliás, os libertários acreditam que diferentes tipos de bancos e moedas teriam evitado a crise. Alguns acreditam que a crise foi gerada por bancos centrais. Eu não sei. Mas, se tivermos cidades sem bancos centrais, podemos ver se eles se salvam quando a crise vier. Hoje, todos os países são tão parecidos, todos têm bancos centrais. Não sabemos a resposta porque não estamos tentando coisas diferentes. Talvez, no oceano pode não ter crise, ou talvez possa ser até pior. Mas o que será possível é testar no mundo real, em vez de ficar argumentando. É ciência pura.
Como distribuir renda, por exemplo?
Em diferentes cidades, podemos testar diferentes formas de distribuir renda. E, assim, as pessoas podem ver o que pode fazer bem para a cidade. Se a tarefa de distribuir renda fosse feita por anjos, seria bem feito e o mundo seria melhor. Mas, como é feito pelo governo, até existe o plano de distribuir para o pobre. Porém, quando os economistas olham o programa do governo, acontece em geral o contrário. E mesmo quando o país consegue fazer essa distribuição, há perda de valor. Se há R$ 100 para cada pobre, ele só vai receber R$ 20. Isso acontece porque o governo não pega e dá o dinheiro. Em vez disso, faz diferentes programas e cria leis: o governo quer o controle. Só que estudos mostram que quanto maiores os gastos do governo, mais devagar o país cresce. Com mais gastos, o país fica rico de forma mais lenta. Isso dá um belo gráfico. Eu pessoalmente acho que isso não funciona.
Você concorda com a proposta de seu avô, de ter um imposto de renda negativo?
Sim, mas isso é muito difícil. A começar, as pessoas não entenderam o que meu avô dizia. Ele queria desenhar uma boa lei para uma situação que ele não queria que existisse. Ele preferia não ter uma imposto de renda negativo. Mas essa seria uma boa maneira de fazer uma redistribuição de renda. Imposto de renda negativo é pagamento direito na mão do pobre, o que é bem melhor do que dar a eles comida, casa. Dê dinheiro e os pobres podem decidir o que vão fazer.
Que críticas você faz ao atual sistema financeiro dos países?
Quanto maior a dependência do país no bom funcionamento de poucos e grandes bancos, pior. É por isso que é bom ter bancos menores. E, assim, ter um sistema mais descentralizado: se alguns bancos falirem, tudo bem, pois não vão arruinar a economia. Em vez disso, há poucos e grandes bancos e um sistema de regulação que permite, por exemplo, que um compre o outro. Toda crise é diferente. E os agentes reguladores fazem novas leis sobre crises passadas. É os bancos sempre fazem seu caminho dentro dessas leis. É preciso descentralizar o sistema com bancos menores. Mas os governos puxam para a centralização.
No Brasil, algumas medidas para conter a crise incluíram corte de tributos. Fizemos certo?
Para estimular a economia, nada como cortar impostos. Derrubar taxas foi uma saída melhor do que nos Estados Unidos, que deu muito dinheiro aos bancos.
Se você quer estimular a economia, cortar impostos é uma maneira inteligente. Reduzir taxas é bom em qualquer momento, a qualquer hora.
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/04/16/por-um-recomeco-em-pleno-mar-916362109.asp
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