Por Adriano Pires e Abel Holtz
Se, por um lado, nos jactamos quase que diariamente do crescimento econômico do nosso país, às vezes temos recaídas quanto a restrições muitas vezes equivocadas sobre este ou aquele aspecto do nosso desenvolvimento.
Os demais países do grupo denominado Brics parecem ter muito claro que o seu desenvolvimento não pode estar atrelado a interesses econômicos de outros. Assim, no campo da energia, utilizam todas as fontes disponíveis sem pudores. E, entre os Brics,o único que pode produzir energia de um caleidoscópio de fontes é o Brasil. Tanto a China como a Índia e a África do Sul produzem a energia que consomem com uma participação térmica predominante,inclusive com o uso do carvão. É claro que têm compromissoscomo controle das emissões de gases do efeito estufa,mas continuamautilizar as fontes térmicas, incluindo a nuclear, sem preconceitos.
No Brasil, estamos vivendo uma situação de críticas à expansão da geração termoelétrica de forma açodada. Sempre que tivemos problemas de suprimento, por causa de condições hidrológicas desfavoráveis, tivemos na geração térmica a garantia do suprimento. Assim, parece-nos inadequado alguém criticar a expansão termoelétrica pelo fato de fornecer segurança ao sistema e ser utilizada amplamente no mundo, sobretudo por nossos amigos do Brics. É uma crítica descabida. O que se fala em termos de emissão de CO2 chega a ser risível, quando é constatável que as emissões no caso brasileiro ocorrem, sobretudo, pela queima de nossas florestas.
Ao olharmos o futuro da matriz de geração no Brasil, é preciso ter em vista três fatores: o econômico-financeiro, incluindo a construção das linhas de transmissão; a maximização da confiabilidade; e o controle dos impactos ambientais. O planejamento hoje não é adequado pois prioriza, quase exclusivamente, o fator ambiental sobre os demais.
Da mesma forma como ocorreu em alguns países, a matriz de geração do sistema brasileiro não poderá delegar à eólica a responsabilidade de vir a ser a geração de base, porque, apesar da sua eficiência, ela está sujeita à falta de controle e previsibilidade dos ventos; nem à energia da biomassa, que é sazonal. Quando os reservatórios estão em 70%, a confiabilidade eletro energética do sistema fica esquecida, mas a realidade é que precisamos de geração térmica, temos gás abundante e é preciso apenas melhorar a logística. A geração a gás é uma realidade no sistema nacional.
Atualmente, presenciamos um movimento legítimo dos empreendedores em geração térmica com o uso do carvão–claro, com tecnologias modernas, que podem incluir até a captura do CO2 – para participar na oferta de energia em leilões competitivos com as demais fontes. Não tem sentido dificultar a geração a carvão por uma questão emocional. Existe um decreto que foi colocado com as limitações admissíveis para a emissão de CO2. A expansão da geração térmica com o uso do carvão e com o gás natural não vai impactar o meio ambiente de forma alarmante, como alguns querem que acreditemos. Além disso, devemos ressaltar que a contribuição atual de carvão e gás na nossa matriz energética é irrisória, portanto uma elevação nesse montante não teria grande impacto em termos de emissão de CO2.
Deve-seressaltar,ainda, que o carvão é o energético mais abundante do mundo. Olhando pelo lado do carvão nacional, temos riquezas na Região Sul do País, onde poderíamos gerar empregos e desenvolvimento. Além disso, temos problemas certamente muito sérios de confiabilidade no sistema Sul. Hoje, se tivermos desligamento em cascata na rede de 500kV, que abastece o Sul, teremos sérios problemas para suprir aquela região.
O Brasil tem uma enorme diversidade de fontes primárias de energia – fato que nos diferencia dos demais países emergentes. Portanto, devemos nos colocar de forma soberana nas decisões do uso de todas as fontes energéticas disponíveis e considerar que a geração térmica tem um papel fundamental na matriz elétrica brasileira.
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