Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje, compre já! Era o slogan de uma rede varejista nos anos 60, que nunca me saiu da cabeça. Mas aprendi ao longo de minha vida que é o contrário: não se deve fazer hoje o que podemos fazer (melhor) amanhã. Não é um elogio do atraso e da procrastinação, mas a necessidade de tempo para refletir e melhorar suas escolhas. Quanta besteira se faz por decisões precipitadas, no calor da hora, no trabalho e na vida? Quantas decisões erradas, que, se fossem adiadas, não seriam tomadas?
Vivemos na era da instantaneidade, respostas têm que ser imediatas, a voracidade por novas informações, ainda que falsas ou duvidosas, é insaciável, alimentando reações em cadeia. Os julgamentos são sumários, as condenações, imediatas, movidas não só a fanatismo, ignorância, ódio e rancor — mas a pressa e urgência.
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A reação furiosa que se tem ao ler uma notícia hoje, dois dias depois será mais serena e racional — que é a melhor forma de defender seu ponto de vista.
Xingamentos são como ejaculações precoces de ódio, e não atingem mais ninguém. O que é filho da puta? Viado? Corno? São como rosnados e grunhidos, não significam mais nada além de raiva animal. Podem ser substituídos por emojis, que são mais práticos. A preferencia nacional pelos xingamentos de “viado” e “corno” é sintomática, reflete nossa homofobia e machismo, em todos os sexos, raças e classes.
O imediatismo combinado com o exibicionismo pode ter consequências desastrosas, principalmente para políticos e artistas. A ânsia de aparecer leva a atitudes temerárias e a situações constrangedoras que os expõem ao ridículo nas redes sociais.
Não por acaso, o Twitter é o meio de expressão favorito da besta que habita Donald Trump, reagindo instantaneamente com seu vocabulário de criança de 8 anos em 128 caracteres. Se escrevesse a mensagem, relesse no dia seguinte, e só então a publicasse, talvez economizasse micos.
Será que responder na lata é melhor, mais efetivo, do que ter um tempo para pensar? Se confirmar a sua escolha, o tempo lhe dará mais convicção; se não, ainda haverá tempo para mudar.
Fonte: “O Globo”, 19/01/2018
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