O Globo: A presidente disse que o custo Brasil não é mais questão financeira, mas de infraestrutura. É isso?
Erik Camarano: Qualquer receita que envolva solução mágica para um só tema não resolverá o problema de competitividade. Mas ela tem razão em apontar prioridade, pois a solução logística demora. Pagamos 15% do valor da carga em frete. Nos EUA, são 6%, e no Canadá, 7%. Os demais problemas são: a baixa produtividade, sobretudo por problemas com educação; a questão tributária; a legislação trabalhista anacrônica; e, por último, mas não por ordem de importância, a questão previdenciária.
O Globo: De quanto precisamos para elevar a competitividade logística?
Camarano: Pelo atraso que tivemos por causa da ausência ou baixo volume de investimentos, com falta de coordenação, há um enorme gargalo, e sua solução vai demandar algo como R$ 560 bilhões em um horizonte de cinco a seis anos. As concessões previstas demonstram que o governo acordou e está se movimentando na direção correta. Nossa preocupação é que há dificuldade de implementação.
O Globo: Entre elas, embates entre Executivo e Legislativo?
Camarano: Uma articulação política ainda precisa ser feita, porque é difícil identificar uma agenda comum para o crescimento mais acelerado. O país sofre por não ter feito nos últimos 20 anos planejamento de longo prazo. O fato de o Brasil não ter consenso entre Executivo, Legislativo, empresas e academia para uma agenda comum de desenvolvimento é uma das razões para esse embate, que acaba concentrado em questões pontuais.
O Globo: Sem agenda comum, ficam interesses específicos?
Camarano: Exatamente. Você nunca sabe se a defesa de um parlamentar está relacionada a um setor ou se é uma questão eleitoral. A gente fica sujeito a um embate cujos termos não são o de uma agenda de desenvolvimento. A crítica de Garotinho chama atenção, mas é extremamente infeliz, porque revela o nível do debate.
Fonte: O Globo
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