Em 2016, a régua que mede a exigência da governança corporativa dentro das empresas subiu e tornou inaceitável o “jeitinho brasileiro” na condução dos negócios. A grave crise econômica que abalou a capacidade das companhias em investir ou honrar seus compromissos financeiros, aliada às investigações que revelaram dezenas de casos de corrupção ao longo do ano fizeram com que o governo, as instituições do setor e as próprias companhias editassem novas leis e códigos que definitivamente introduzissem boas práticas nas empresas, baseadas na transparência, ética e eficiência.
Apesar de as novas regras representarem avanços, especialistas alertam que as mudanças necessárias para otimizar os valores de uma organização só irão ocorrer quando os gestores repensarem qual é o real conceito de sucesso de uma companhia. E um dos primeiros passos para essa transformação é investir em profissionais cada vez mais qualificados e abertos a mudanças para assumir cargos do alto escalão. Segundo especialistas, o país já passa por uma transição importante, mas as consequências positivas só serão notadas no médio e longo prazo.
Alexandre Di Miceli, professor da FECAP e sócio da Direzione Consultoria, explica que a implantação de novas regras é importante, mas não é o suficiente para mudar o cenário da governança no Brasil. Para ele, a reforma do Novo Mercado e os lançamentos do Código Brasileiro de Governança das Companhias Abertas e do código de autorregulação dos fundos de pensão são tentativas de fortalecer o mercado de capitais e recuperar a reputação de empresas envolvidas em escândalos.
O especialista destaca, entretanto, que “governança não se baixa por decreto”, e que somente mudar as regras e os mecanismos de controles é insuficiente.”É preciso maturidade para reinventar a empresa aqui no Brasil, e isso ainda está longe. As companhias precisam parar de visar o lucro a todo custo e se adequar às exigências do século XXI”, afirma.
Mesmo com as críticas, a Lei das Estatais foi apontada pelo professor como uma das medidas que ajudou a elevar os padrões de governança no país. Como consequência, a lei provocou uma “corrida” das maiores empresas públicas para se adequar às novas regras. Após sua promulgação em junho, a Petrobrás, a maior estatal brasileira e envolvida em escândalos de corrupção investigados na Operação Lava Jato, e Eletrobrás, por exemplo, passaram a exigir dez anos de experiências dos profissionais que alcançam cargos de direção. As estatais também implementaram medidas para otimizar os controles internos e blindar as companhias de indicações políticas.
Na opinião de Heloísa Bedicks, superintendente geral do IBGC, 2016 foi o ano da “essência versus aparência”, já que as companhias começaram a colocar em prática o que antes só ficava no papel. “Estamos voltando aos princípios básicos da governança corporativa, com mais transparência e prestação de contas. E também estamos observando que o bom exemplo da conduta ética está vindo de cima, o que é positivo”, explica.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”.
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