Não podemos mais ser escravos de incompetentes, desonestos e oportunistas
A atual instabilidade global é o reflexo de uma profunda transformação da macroestrutura do poder geopolítico, caracterizada pelo surgir de novos players, métodos e práticas de participação pública. Sim, em pouco tempo, grande parte da elite dirigente mundial estará condenada ao ostracismo; a velocidade da transformação será impressionante e sepultará as cabeças que ficarem na inércia do comodismo. Aqueles que se adequarem ao agudo impacto das radicais inovações político-comportamentais seguirão participando do jogo, mas sem a influência de outrora. Isso porque as pautas estáticas de dominação e massificação cultural estão rompidas pelo incontrolável fluxo de informações entre os cambiantes pontos de conexão da atual sociedade em rede.
Mobilidade, inteligência, versatilidade e conectividade, eis as palavras-chaves do modelo econômico que está surgindo. A ideia de aprendermos uma habilidade específica e desempenharmos um ofício até a aposentadoria está definitivamente superada. Aliás, antes de querer parar, o profissional do século 21 quer uma atividade que lhe dê prazer de trabalhar até os seus últimos dias da existência. Chega daquela visão atrasada de ver o trabalho como um martírio diário; o futuro será daqueles que progredirem na vida com responsabilidade, divertimento e consciência cívica.
Como os ciclos negociais serão cada vez mais rápidos e dinâmicos, teremos que desenvolver aptidões humanas abertas, inclusivas e maleáveis. Aquele velho modelo de nossos pais de ter um emprego para a vida inteira está sendo geneticamente substituído pela pulsante possibilidade de êxito em vários campos de negócios, concorrentes ou subsequentes. Ou seja, a realização profissional deixa de estar enclausurada a padrões fixos, libertando a inteligência humana para relações colaborativas sem fronteiras geográficas.
Em países atrasados como o Brasil, precisamos mudar – urgentemente – a mentalidade que governa nossas vidas. Em vez de querermos ser empregados ou depender do Estado, temos que querer ser empreendedores e donos do nosso próprio nariz. Em outras palavras, o patrimonialismo estatal brasileiro, que também beneficia muitos empresários amigos do rei, além de implodir as contas públicas, impede a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento nacional.
Por exemplo, nosso arcabouço sindical-trabalhista é um fator de inibição do crescimento econômico, impedindo a plena integração de nossa cadeia produtiva. Tal fato, além de prejudicar nossa competitividade global, bloqueia a entrada de uma infinita gama de novos negócios, privando o trabalhador brasileiro de participar ativamente do mundo laboral-tecnológico. Portanto, os sindicatos e algumas estruturas estatais – que, no passado, tiveram um importante papel na implementação de direitos sociais – devem readequar verticalmente suas premissas, discursos e posturas.
Os novos modelos de sucesso mundo afora são essencialmente colaborativos, fazendo da soma interligada de inteligências o maior fator de geração de valor agregado, com consequente inclusão social. Nesse contexto em pulsante transformação, os governos e os agentes diplomáticos são elementos estratégicos de inserção do Brasil nas cadeias produtivas globais, devendo abrir consistentes canais de intercâmbio humano, econômico e cultural.
Por assim ser, com a inata criatividade e solidariedade de nosso povo, estamos habilitados a sonhar grande neste futuro desafiador que está para chegar. Para tanto, precisamos de novas lideranças agregadoras e o fim da classe política extrativista que pensa o mundo com diâmetro do próprio umbigo. Não podemos mais ser escravos de incompetentes, desonestos e oportunistas.
No final, a pergunta é uma só: até quando seremos reféns das forças do atraso que insistem em governar o Brasil?
Fonte: “Estado de Minas”, 25/07/2017
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