“Não posso me dar o luxo de ser otimista. No Líbano, somos treinados para a decepção.” É de forma cética, mas sem perder o sorriso, que a escritora Joumana Haddad olha para a Primavera Árabe e para o papel da mulher no período pós-revolucionário. Em sua opinião, as ditaduras serão seguidas por outra forma de opressão, o extremismo religioso, e somente após isso os árabes conseguirão romper um círculo vicioso e se libertar. “As pessoas não vão compreender o quanto o extremismo religioso é terrível até sentirem a pressão de viver sob ele”, disse a autora de “Eu matei Sherazade” (Editora Record), durante sua visita ao Rio. Criadora da revista erótica “Jasad” e editora do jornal libanês “An-Nahar”, Joumana acredita que a mulher árabe tem parte da responsabilidade por sua condição e compara “aceitar ser tratada como um pedaço de carne” a usar a burca.
Leia na íntegra a entrevista abaixo publicada pelo jornal “O Globo”
O GLOBO: Muitas mulheres estão participando da Primavera Árabe. Esse movimento pode trazer mais direitos para elas?
JOUMANA HADDAD: Sempre me pergunto por que isso (a Primavera Árabe) demorou tanto. Estou feliz em ver as mulheres nas ruas, mas sou cética. Na Tunísia e no Egito, todas essas mulheres que saíram às ruas praticamente desapareceram na pós-revolução, no momento de formar as novas estruturas. Há muita conversa sobre mudanças e democracia, mas nada sobre o papel da mulher, direitos, igualdade. Não há credibilidade ao se falar em democracia sem se falar nos direitos da mulher. O que temo é que, no mundo árabe, estamos acostumados a escolher entre dois monstros. O monstro das ditaduras está caindo. Mas o outro monstro, o extremismo religioso, está mostrando o seu rosto mais e mais a cada dia. E ele também é muito perigoso. Mas acho que esse é um passo necessário para o mundo árabe atravessar. Ver que o extremismo é tão terrível quanto as ditaduras, para só então começar a pensar no futuro e realmente lutar por liberdade. Então, acho que é muito cedo para dizer se algo vai mudar no mundo árabe. Não estou otimista.
O GLOBO: Essa situação poderia levar a um regime fundamentalista?
JOUMANA: Sim, sim. Acho que isso vai acontecer. Não sou analista política, mas vejo a direção que a coisa vai tomando em Tunísia, Egito, Líbia. Não estou dizendo que as ditaduras deveriam ter permanecido. Digo que o que vem depois delas é outra forma de opressão. E espero que depois dela acabe esse purgatório. As pessoas não vão compreender o quanto o extremismo religioso é terrível até sentirem a pressão de viver sob ele.
O GLOBO: No seu livro, a senhora fala da multiplicação do obscurantismo no mundo árabe… Como ele se apresenta?
JOUMANA: Onde eu vou vejo uma queda, o mundo árabe está aos pedaços. Quando comparo o que era o mundo e a cultura árabes mil anos atrás, só posso pensar que estamos retrocedendo, que os obscurantistas estão se multiplicando como fungos. É visível a olho nu. O que eu via nas ruas do Cairo dez anos atrás não é o que vejo agora. Estive no Cairo uma semana antes do início da revolução e não vi nas ruas uma só mulher que não estivesse com os cabelos cobertos. Quem sai assim (aponta para os próprios cabelos soltos) é assediada e sujeita a muitas formas de violência. Há essa tendência por todos os lados. Isso não me deixa esperançosa. Não posso me dar o luxo de ser otimista. Eu venho do Líbano. No Líbano, somos treinados para a decepção. Acho que mais decepções nos esperam no mundo árabe antes de conseguirmos romper esse círculo vicioso.
O GLOBO: A senhora se mostra furiosa diante da possibilidade de ser vista como uma mulher oprimida apenas por ser árabe, mas é a situação da maioria, não?
JOUMANA: Sim, porque quando se diz mulher árabe qual a primeira imagem que vem à mente? Véu, opressão, vítima. Isso existe e é a maioria. Quero dizer que há uma minoria que é diferente, que está lutando para conseguir uma vida melhor para ela e para as outras, e que merece ser vista e ouvida. Porque se lhe dermos voz e ferramentas, ela terá uma grande chance de mudar a vida das demais.
O GLOBO: Na festa literária de Pernambuco, na qual esteve antes de vir ao Rio, a senhora disse que as mulheres são tão culpadas quanto os homens por sua condição. Por quê?
JOUMANA: Não se trata de culpar a vítima, mas de dar responsabilidade. Muitas vezes, preferem dizer: “Sou uma vítima, não sou dona do meu destino.” E se rendem. Eu acredito na responsabilidade, e com a responsabilidade vem o poder. Se acredito que parte é minha escolha, posso tentar mudar. As mulheres na Arábia Saudita dizem: “O que podemos fazer? Sequer podemos dirigir um carro.” Mas elas têm um poder muito grande: a maternidade. Por que não educam filhos e filhas para romperem esse círculo vicioso? Dizem que a mulher é livre no Líbano porque pode dançar, vestir o que quiser. Mas se lermos as leis libanesas, vamos nos sentir humilhadas. São leis medievais que tratam a mulher como cidadã de segunda classe. Se uma libanesa se casar com um estrangeiro, não pode dar sua nacionalidade aos filhos, ao contrário do homem. Não há lei para proteger a libanesa da violência doméstica. Apenas recentemente cancelaram as leis de crimes de honra. Num divórcio, a mulher sempre perde a guarda dos filhos.
O GLOBO: É fácil para um ocidental ver uma mulher de burca e dizer: aí está uma pessoa oprimida. Para a senhora, é fácil detectar a opressão à mulher no Ocidente, por exemplo no Brasil?
JOUMANA: Claro. Vi muitas mulheres oprimidas aqui. Mulheres que aceitam ser tratadas como um pedaço de carne. Isso não é diferente da burca. É o mesmo. Num caso, o sistema patriarcal obriga a mulher a anular sua presença com o véu. No outro, os mesmos valores patriarcais forçam as mulheres, às vezes de forma inconsciente, a aceitarem ser tratadas como um acessório de sedução para satisfazer os olhares, em vez de ver sua verdadeira identidade e seguir suas ambições e sonhos, em vez de apenas negociar com os homens como Sherazade, e foi por isso que eu a matei.
A nobre escritora compara a situação das mulheres árabes com as brasileiras dizendo que elas aceitam ser tratadas como um pedaço de carne e isso é ainda pior que a burca, segundo ela. Isso é papo de gente religiosa que vive em conflito com a carne – impura – e o espírito – puro. Patriarcalismo hoje no brasil? Não sei se ela é mais ignorante ou é mais burra.
A escritora tem razão ao comparar duas formas diferentes de opressão entre a mulher brasileira e a libanesa. No Brasil basta levantar dados nas Delegacias da Mulher para saber da real condição da mulher brasileira.
A Primavera Árabe poderá ser o caminho utilizado pela Irmandade Muçulmana, para, através do extremismo religioso chegar ao jihad mundial como é seu desejo. A escritora tem razão em se preocupar.
antonio, ela nao tem nada de ignorante nem de burra.
ignorante e quem acha que um pais com mulher file, mulher maça, com mulheres peladas de todas as formas é igualitário.
mulher como objeto sexual da pior especie.
a mulher tem que ser gostosa e o homem pode ser barrigudo, ne?
Concordo com o Antonio.
Não acho que a escritoria é burra,mas ela provavelmente não conhece a sociedade brasileira para opinar em relação a uma suposta opressão do genereo feminimo por causa de algumas mulheres aceitarem ser tratadas como objeto.
Do mesmo modo que existem as mulheres frutas,existe uma quantidade infinitamente superior que se sobressai através de mao de obra qualificada,conhecimento e diversas outras formas! Diferença de genero existe sim, mas patriarcalismo…