*Gabriel Pellon
Hoje em dia existem especialistas para todos os temas imagináveis. Há pessoas que passaram anos estudando determinado assunto, se debruçaram sobre centenas, talvez milhares, de livros técnicos que descascam todas as perspectivas possíveis de um tema.
Mas há cada vez mais uma falta de pessoas que efetivamente tiveram participação prática naquilo que estudaram.
Juízes decidem vidas de pessoas de contextos completamente diferentes de seus próprios. Especialistas de segurança pública opinam sobre a segurança nas ruas, olhando para elas de prédios altos, sem qualquer fundamento que não seus estudos teóricos. Diversas políticas públicas de assistência social são elaboradas por pessoas que nunca precisaram de qualquer benefício social do governo. O conhecimento, e portanto a legitimidade para emitir opiniões, parece cada vez mais se concentrar no topo, em indivíduos laureados e do meio acadêmico.
Tal fato não significa, no entanto, que as decisões e opiniões de pessoas com mais formação técnica se refletem em mais verdade.
Como defende o economista liberal Thomas Sowell, há a existência de certo tipo de conhecimento que não se adquire por estudos e livros, mas sim por informações e experiências que são adquiridas através de contextos específicos: conhecimento consequencial. Um povo, em seu exercício de autodeterminação e liberdade, sabe, na maioria das vezes, o que é melhor para si do que governantes, elaboradores de leis e políticas públicas, que nunca sentiram na pele a experiência das próprias pessoas para as quais serve. O conhecimento humano não existe em uma hierarquia vertical, não sendo determinado tipo de conhecimento mais prestigioso ou digno de respeito que outros. Existe uma tendência, como bem apontada por Milton Friedman, dos ganhadores do prêmio Nobel de acharem que, após ganho o prêmio, terem capacidade de opinar e saber a verdade sobre todos os temas humanos. Cargos e premiações não se refletem obrigatoriamente em melhores opiniões e sabedoria.
Há diversos exemplos na história que corroboram essa afirmação. O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), por exemplo, é depósito compulsório que deve todo mês ser depositado pelos patrões de trabalhadores de carteira assinada, sob regime CLT. Os valores desse depósito só podem, posteriormente, serem levantados em hipóteses específicas e previstas em lei. Esses valores se refletem como custo para o patrão, que é obrigado a contabilizar no salário do empregado esse depósito compulsório, que vai para conta sob custódia do governo. Com que fundamento, em algum momento da história brasileira, pensou nosso Estado manejar melhor o dinheiro do trabalhador do que ele próprio? A elite política brasileira decidiu, nos anos 90, que esse dinheiro, que era para ser do trabalhador, seria melhor manejado pelo governo. Essa decisão afetou para sempre a economia de milhões da força de trabalho do país, interferindo na liberdade de escolha do povo. Há, inclusive, diante dos péssimos entraves trabalhistas no Brasil, uma crescente onda de pejotização dos trabalhadores, que inclusive é criticada por especialistas. Mais uma vez, a decisão própria e natural do povo é criticada por especialistas do tema que nunca foram afetados por ele.
A liberdade de escolha é fundamental para o desenvolvimento e maturação de um povo. Não é através de interferências indevidas, de iatrogenias permeadas de boas intenções, que os problemas do país serão resolvidos. Talvez, com uma cultura que premiasse cada vez mais a liberdade e a independência, nosso país avançasse como deveria.
Gabriel Pellon é estudante de direito do 10º semestre no Mackenzie, trabalha como analista em um fundo de investimento em direitos creditórios em profundo contato com o mercado financeiro e o mundo jurídico.