Qual é o preço “justo” do petróleo? Essa pergunta condiciona decisões importantes de investimento mundo afora, inclusive no Brasil. Preço “justo” não existe, não é conceito relevante, já que ninguém adquire nada por “justiça”, e sim, por percepção da relativa escassez do bem – e o petróleo não é exceção.
Mas a escassez do produto nem sempre é por oferta e demanda, mas fabricada em reuniões dos supridores de maior vulto, no caso o poderoso cartel da Opep, comandado pela Arábia Saudita.
Além deles, há outra força em torno dos mercados futuros do petróleo, ditando a tendência dos preços. São fundos de hedge e de commodities, que apostam na variação de cotações futuras.
Por trás, estão grandes corretoras e bancos, com muita munição decorrente de suas reservas ociosas de caixa, dispostos a apostar pesadamente, fazendo o pêndulo da especulação atingir uma diástole muito mais ampla do que na ausência de tais interesses.
O barril do petróleo se aproxima de novo da marca de US$ 110. Obama está preocupado com a repercussão dessa alta nas bombas de gasolina que abastecem a imensa e beberrona frota de seus eleitores em novembro.
É, presumivelmente, o mais sensível “issue” eleitoral para o democrata, que passou a adular os produtores domésticos com mimos e visitas, como a que está fazendo esta semana em Cushing, Oklahoma, principal entroncamento dos oleodutos cruzando a América.
Mas, os preços não param de subir e alguns assessores do presidente insistem que ele disponibilize parte da reserva estratégica do país, a fim de acalmar a ascensão dos preços.
Contudo, não há escassez natural do produto. O mundo está semirrecessivo em 2012 e não houve quebra expressiva de suprimentos, exceto de uma fonte, o Irã, cuja oferta está coagida pelos americanos em função da punição decidida por um grupo expressivo de países, alinhados com os Estados Unidos, contra a expansão do programa nuclear iraniano.
A pressão americana corre mundo e chega até à China, notória opositora às sanções que, no entanto, reduziu também suas compras do Irã. Os mercados futuros apostam numa eventual falta fabricada do produto, decorrente do corte forçado da oferta do Irã.
Há, sobretudo, especulação sobre o agravamento das tensões políticas na região, algo que está longe de ser improvável.
No Brasil, mal sentimos o efeito da especulação mundial em torno do petróleo porque o preço do combustível está sendo administrado pela Petrobras, por determinação política.
Com isso, o preço na bomba não se mexe, prejudicando a empresa e acionistas, embora subam os custos de produção, inclusive do sucedâneo nacional – o etanol – que deixa de ser uma alternativa lucrativa, decepcionando os produtores nacionais e estrangeiros que andaram investindo muitos bilhões.
Outro efeito potencial importante é o atraso na incorporação do efeito do combustível mais caro na cadeia produtiva interna.
Quando ocorrer, poderá adiar projeções do Banco Central sobre a projetada curva descendente de juros. Pode até estourar a meta de inflação. No momento, os especuladores mundiais empilham o maior volume jamais visto de contratos futuros “longos”, isto é, o mercado é fortemente altista e aposta na reedição do pico de 2008. A conclusão parece óbvia…
Fonte: Brasil Econômico, 23/03/2012
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