A frase acima não funcionou ao gosto de quem a pronunciou nem mesmo no conto de fadas. Um belo dia o espelho disse para a Madrasta que a Branca de Neve era a mais bonita, e deu origem à tragédia.
A imprensa nada mais é do que o espelho de uma nação. Vou melhorar isso: as notícias que a imprensa publica nada mais são do que o reflexo no espelho do que é uma nação. Pronto, melhorou.
Enquanto estas notícias – boas ou más – serviram ao PT – na situação ou na oposição – o espelho dizia o que convinha aos ouvidos de seus partidários, sindicalistas, movimentos sociais, blogueiros, jornalistas a soldo, enfim, a todo o universo que cerca o Partido dos Trabalhadores e assim a imprensa livre era não só desejável, como estimulada.
Mas como diz o ditado popular “hoje sou eu, amanhã é você” e o PT que era pedra virou vidraça. Lula, que sempre confraternizou com jornalistas quando era oposicionista, resolveu só tratar com eles através de discursos após chegar ao poder. Poucas foram suas entrevistas coletivas. Tirando isso, uma ou outra aparição em programas pré-arrumados e só.
O PT amigo dos jornalistas na oposição – que municiava e pegava munição contra adversários – virou o PT do “controle social da mídia” quando chegou ao governo, seja lá que diabos um “controle social da mídia” possa ser.
O “partido da ética” mostrou na prática que era apenas mais um partido como qualquer outro. Decepção para alguns, constatação imperdoável para quem já se considerou o dono desta ética, coisa mais do que normal para o comissariado do partido, que levou ao pé da letra o princípio de que “não dá para fazer política sem botar a mão na m*”, como disse o histórico petista Paulo Betti, numa defesa apaixonada do que foi a relação do governo Lula com o Congresso Nacional de Collor, Sarney e Renan Calheiros, entre outros.
Ao fim de quase oito anos de poder, o PT apresentou ao Brasil a apropriação de méritos alheios, o Mensalão, os aloprados, as quebras de sigilo fiscal de adversários, o aparelhamento do estado, o nepotismo, a transformação da Casa Civil em balcão de negócios, mas o único problema que o partido enxerga nisso tudo é a imprensa, que noticiou os seus malfeitos.
Nota-se que o problema do PT não é com as práticas nocivas ao país que alguns de seus políticos adotam, e sim com o fato disso ser descoberto e tornado público. Se fosse jogado para debaixo do tapete ou sufocado dentro do armário, para virar um esqueleto do cadáver que já foi um dia a tal “ética” da qual o partido se apoderara, estaria tudo bem.
A falta de punição interna para Antônio Palocci e José Dirceu – que inclusive fazem parte do alto mandarinato do partido – é a prova de que o PT não tem problema com os desvios que pratica e sim com o fato de ser pego por eles de vez em quando.
E é claro, sobre quem mais poderia cair a responsabilidade senão sobre o pobre espelho, a imprensa? É “golpismo” denunciar corrupção. É “querer ganhar no tapetão” falar sobre o envelope fechado – verdadeiro atentado ao país – que eles apresentam como candidata a presidência. É “coisa de elite” desejar que o dinheiro pago em impostos não vá parar no bolso de pelegos, ONGs, blogueiros e toda sorte de miliciano ideológico que o partido sustenta para manter seu naco de poder. Percebem a inversão de valores?
No final das contas, é culpa da mídia – pobre espelho – se quando eles olham seu reflexo vêem algo feio de doer. Mais fácil quebrar o espelho do que consertar a feiúra.
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