As preocupações com o cenário internacional voltam às manchetes do noticiário econômico. Não se vislumbra uma crise econômica global, mas sim um ciclo econômico mundial ainda mais modesto do que se imaginava. Certamente o potencial de crescimento do mundo encolhe por conta da queda do investimento dos últimos anos, além de questões demográficas em países importantes, como a China. Ao mesmo tempo, faltam instrumentos de política econômica para atenuar o quadro. E o problema do baixo crescimento é que de tempos em tempos surgem temores de crise e recessão. Precisamos nos acostumar a isso.
As preocupações com a China e o ceticismo dos analistas em relação aos seus números de crescimento do PIB, bem como da Índia; as sinalizações de mais estímulos monetários na Zona do Euro; o anúncio de taxa de juros negativa no Japão; e as críticas de analistas à elevação da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em dezembro passado são exemplos de focos de tensão.
A desaceleração da China está ainda em curso. Os mais pessimistas acreditam que o país caminha para um potencial de crescimento de 3%. Qualquer que seja o número, o fato é que trata-se de um ajuste que não se completou. Alguns países emergentes de peso, como o Brasil, também sofrem com desequilíbrios internos que fazem crescer o bolo de fatores que enfraquecem o dinamismo mundial.
Exercícios econométricos indicam que, cada vez mais, o desempenho de emergentes afeta a dinâmica das economias avançadas. Importante lembrar que as economias emergentes têm hoje uma participação no PIB mundial superior à das economias avançadas, pelo conceito de paridade do poder de compra: 52% e 48%, respectivamente, segundo o FMI. Assim, a perda de fôlego dos emergentes afeta a recuperação dos países avançados. Não há descasamento.
Certamente o baixo dinamismo do comércio mundial, que sofre particularmente com a fraqueza das importações de emergentes – também impactadas pela depreciação de suas moedas -, é variável central neste quadro. Se no ciclo mundial passado o comércio mundial crescia em um ritmo de 7% ao ano em média, agora cresce menos de 3%. Esse é o grande diferencial deste ciclo econômico mundial em relação ao passado. Um quadro particularmente difícil para o Brasil, que não tem conseguido avançar na agenda de acordos comerciais.
Este ciclo mundial mais modesto já não está em seus estágios iniciais, uma vez que há menos divergência entre a direção do crescimento dos países, pois a maioria relevante dá sinais de desaceleração. No entanto, seria precipitado afirmar que já estamos em fase mais avançada, com alguma luz no fim do túnel.
Por este aspecto, apesar das revisões recentes para baixo da projeção de crescimento do PIB mundial, parece otimista a visão do FMI que o crescimento em 2016, projetado em 3,6%, será mais elevado do que o de 2015, cuja estimativa é de 3,1%. O risco de decepção é grande.
As consequências sobre preços de commodities são óbvias. Poderá haver mais quedas adiante. Não é coincidência a elevada correlação entre preços de commodities e a evolução das importações de China. Ambos no campo negativo.
Analisando o preço relativo de commodities em relação a inflação ao consumidor americana (núcleo), nota-se que não há nada de excepcional nos atuais níveis, que estão, grosso modo, em linha com a média histórica e ainda acima das mínimas. O mesmo vale para o preço do petróleo. Haveria, portanto, mais espaço para quedas de preços, enquanto que a perspectiva de recuperação parece bastante distante.
Enfim, é importante que o Brasil se ajuste a essa realidade. Não convém contar com melhora do ambiente externo. Sem ajustes, aumentará ainda mais o isolamento do Brasil no cenário global. O país vai paulatinamente deixando de ser relevante no espectro dos investidores. Em um mundo mais competitivo para atrair fluxos estrangeiros – e a vizinha Argentina entrou de novo no jogo ao sinalizar a volta da racionalidade na gestão da política econômica – é bom o Brasil se cuidar.
Fonte: O Estado de S.Paulo, 29/01/2016.
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