A turbulência causada pela crise do novo Coronavírus trouxe, entre várias outras questões, um debate ideológico que estava aparentemente superado: qual o papel do liberalismo econômico para a sociedade? Em entrevista ao Instituto Millenium, o professor de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Écio Costa, falou sobre a importância de um regime de liberdade econômica para o progresso do país em vários sentidos, inclusive um que pode ser visto no dia a dia: as constantes revoluções tecnológicas às quais estamos submetidos atualmente.
O economista lembrou que, com a liberdade econômica e sem o intervencionismo estatal, há competitividade. Por outro lado, a demanda do consumidor por novos produtos; e a oferta, por parte das empresas, faz com que os itens sejam aprimorados. “As pessoas que propõem produtos e serviços querem estar satisfeitas com o bem que está sendo adquirido. Se esse bem ou serviço tem uma tecnologia melhor, que vai trazer satisfação, com um preço menor, isso é a adoção completa da inovação tecnológica”, disse.
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A pandemia mostrou a importância desse avanço da tecnologia. O cenário de isolamento social que proibiu encontros e aglomerações foi amenizado, em parte, pela possibilidade de ligações e videochamadas em alta qualidade, por meio de redes móveis de telefonia celular, tanto entre grupos de amigos quanto no trabalho. Trabalho, aliás, que, em muitas funções, pode ser feito de casa também, graças à tecnologia – algo impensável há duas décadas. “Esse movimento é disruptivo. Em um mundo de livre mercado, quando se adota o capitalismo, há facilidade para trocar um produto por outro, e as empresas precisam estar sempre inovando, trazendo soluções que vão acarretar em benefícios para a sociedade”, disse.
Écio Costa destacou um exemplo, sentido por muitos brasileiros, de como a liberdade econômica e o avanço tecnológico podem caminhar lado a lado, trazendo soluções práticas que beneficiam o consumidor na ponta: a chegada de aplicativos de transporte individual, que geraram competitividade, melhor serviço e preço mais baixo em um segmento onde, até então, não havia disputa. “Quando o Uber chegou ao Brasil, o que se viu foi uma ação violenta por parte dos taxistas nas principais vias das cidades brasileiras, dificultando a circulação das pessoas e pressionando a classe política. Este foi um exemplo de como as duas modalidades podem coexistir; por outro lado, de como o intervencionismo pode atrasar ou inviabilizar a adoção dessas plataformas”, destacou.
A defesa da livre iniciativa
De acordo com Écio Costa, à medida que se defendem as liberdades individuais e a livre iniciativa na economia, o país pode se desenvolver economicamente, gerando inclusive benefícios sociais. O economista lembra, no entanto, as dificuldades de se implantar uma agenda liberal no Brasil – algo que sempre acaba esbarrando na pressão de corporações e enfrenta resistências em setores da sociedade. “Vivemos sempre essa cultura onde o Estado deveria resolver o problema de todos. Só que o Estado não tem capacidade fiscal para atender toda a população. Essa cultura estatizante, onde trabalhar e viver às custas estatais são cultuados como um exemplo a ser seguido, não se vê em outros países”, disse.
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O professor da Universidade Federal de Pernambuco ainda lembrou que o principal norte de uma economia liberal é o mercado reagir à determinação dos preços. “Nessa interação, há o equilíbrio de preços. Desde que não haja distorções ou ineficiências, há uma situação que é considerada a melhor possível”, disse.