Essa pergunta tinha saído do radar nos últimos anos, dadas as boas condições macroeconômicas da economia brasileira. Mas recentemente alguns artigos têm sido escritos colocando em dúvida a sustentabilidade da forte apreciação que temos tido desde 2004.
Na visão de Francisco Lopes, pecamos pelo ajuste inacabado da macroeconomia, que permitiu termos taxas de juros ainda muito elevadas.
Nossas reservas internacionais, assim, seriam como reflexo de uma bolha causada pelo excesso de juros e que em algum momento em 2013 ou 2014 essa bolha de ativos estouraria.
Já segundo Affonso Celso Pastore, o passivo externo líquido está se avolumando de tal forma que poderá ficar insustentável nos próximos anos, gerando um ajuste endógeno que viria pela depreciação do câmbio.
Esse tipo de dúvida é mais do que pertinente, mas, num sistema flexível como o nosso, alguma mudança mais sistemática da condução doméstica da política econômica teria de acontecer para uma inflexão do câmbio.
No final, não sabemos se podemos ainda acumular muito mais reservas, mesmo com maior custo fiscal, ou qual seria o limite do passivo externo líquido que podemos atingir. Isso tudo poderia levar os investidores a pensar que o país poderia levar mais tempo nessa situação.
O que garante isso são condições futuras do mercado externo e interno inexistentes hoje no mundo. Nenhum país tem, ao mesmo tempo, um mercado externo forte para três macrocommodities: agropecuária, mineração e petróleo.
É verdade que o petróleo ainda é uma promessa, mas que está andando de qualquer maneira e deve começar a trazer aumento de exportação na próxima década, não nesta. Ao mesmo tempo um mercado interno ainda crescente, com uma classe média em desenvolvimento e um crédito sob qualquer critério muito baixo, principalmente o imobiliário.
O investidor internacional olha esse horizonte e vê que nenhum país do mundo tem algo semelhante.
Mesmo a China não chega a tanto porque tem um consumo interno que ainda se desenvolve e uma dependência muito grande de exportações, além de incertezas políticas. E as exportações de manufaturados já começam a sofrer forte competição de outros asiáticos.
Isso quer dizer que a taxa de câmbio irá apreciar para sempre? Em outras palavras, segue a profecia de um economista que dizia que nosso câmbio segue uma contagem regressiva e um dia chegará a 1 real para 1 dólar? Também não é assim, mas uma mudança de trajetória pode levar mais tempo.
Apesar das boas condições domésticas, houve uma piora sensível da qualidade do gerenciamento econômico nos últimos anos que sinaliza que o horizonte real está descasando do horizonte macro.
A inflação ficará sistematicamente acima da meta nos próximos anos, a política fiscal está em franca deterioração e 2012 promete uma piora importante nos números e não há sinais claros de reformas importantes sendo feitas, nem de mudanças significativas na infraestrutura. No final, talvez ainda sejamos o país do futuro que não é sério, misturando de Gaulle com Zweig.
Fonte: Brasil Econômico, 27/06/2011
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