O Brasil ganhou três unicórnios que deram o que falar nos últimos anos – 99, PagSeguro e Nubank. Porém, nosso próximo negócio de um bilhão de dólares talvez surja bem longe dos holofotes.
Não seria a primeira vez no mundo. O exemplo mais notável do sucesso sem muito alarde é a gigante Microsoft: o negócio avaliado em mais de 700 bilhões de dólares alcançou o sucesso sendo a engrenagem de diversas empresas, das pequenas às gigantes.
Quem aposta na tese é o investidor Carlos Wizard Martins. O criador da rede de idiomas Wizard lidera hoje negócios conhecidos, que passam por setores como beleza, escolas de futebol, idiomas, fast food e produtos naturais.
No portfólio também há um investimento antigo e curioso na startup Hub Prepaid, que hoje se chama Hub Fintech. O negócio, que começou em 2012 como uma empresa de cartões para vale-presentes, já recebeu 150 milhões de reais de Wizard.
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A Hub Fintech se transformou em uma provedora de soluções e tecnologias para meios de pagamento, atendendo desde negócios como a gigante Magazine Luiza até o inovador Social Bank (lançado pelo próprio Wizard, diga-se de passagem).
A Hub Fintech possui hoje um valuation de 1,5 bilhão de reais – e acredita que entrará para o grupo dos unicórnios brasileiros em poucos anos.
Dos vale-presentes à fintech
Em 2012, a então Hub Prepaid era focada em vale-presentes. O negócio atuava tanto no B2B, com premiações e gratificações aos funcionários de empresas, quanto no B2C, com um site pelo qual usuários poderiam emitir vale-presentes de Dia dos Namorados e Natal.
O grande diferencial do empreendimento é, ainda hoje, cuidar de toda a cadeia de produção. No caso dos vale-presentes, isso significa desde produzir o plástico até desenvolver o software por trás da realização do pagamento.
Para Alexandre Brito, CEO da Hub Fintech, foi essa independência que atraiu o interesse do empresário Carlos Wizard logo no começo da empresa. “O Carlos diz que gosta de investir em empresas que possam fazer a diferença”, resume o executivo.
“O investimento na Hub Fintech foi o primeiro que fiz na área. Foi uma iniciativa de meu filho Charles e do empreendedor Rodrigo Borges”, conta Carlos Wizard por e-mail a EXAME.
Além de Wizard, o empreendimento atraiu o interesse de empresas públicas e startups nascentes, especialmente após obter aprovações para efetuar serviços financeiros junto ao Banco Central, em 2014.
A Caixa Econômica Federal pediu cartões pré-pagos para programas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e para a linha de crédito de materiais de construção ConstruCard.
Enquanto isso, a então tímida 99 tinha um grande custo ao fazer transferências diárias aos seus motoristas, por meio de serviços como DOC e TED. Com a Hub Fintech centralizando o recebimento dos pagamentos e distribuindo-os aos motoristas, a 99 hoje só precisa fazer um DOC, direto para a empresa.
Com tais experiências, a Hub Fintech viu que o mercado B2B apresentava mais oportunidades e deixou de atender os clientes finais. “A gente quer ser um grande coadjuvante para as empresas. Ninguém precisa saber que eu estou ajudando por trás”, diz Brito.
Em linhas gerais, a Hub Fintech se tornou uma empresa que, dominando toda a cadeia de produção, entrega soluções tecnológicas de meios de pagamento a empresas por meio de softwares com padrões já estabelecidos (as conhecidas APIs).
O empreendimento se distanciou de uma empresa apenas de vale-presentes e se transformou em uma fintech – o que incluiu a mudança de nome e uma reorganização recente de áreas. Além das soluções na área de vale-presentes, chamada Hub Benefícios, surgiram áreas como a Paypaxx, focada em contas digitais e gestão de despesas e recebíveis, e a Hub Risk, focada em análise antifraude.
O fundador do negócio, Rodrigo Borges, juntou-se a Wizard no final do ano passado para inaugurar o Social Bank, espécie de “Uber do dinheiro”. Quem desenvolveu toda sua tecnologia de meios de pagamento, logicamente, foi a própria Hub Fintech.
Os clientes da Hub Fintech são tão diversos quanto seus serviços. Ainda que o foco sempre esteja em grandes empresas, os contratantes vão de startups de mobilidade, como 99 e Uber, até varejistas, como Magazine Luiza. Outro tipo de cliente é o de empresas com vocação financeira, como o Mercado Pago (do Mercado Livre).
Algo comum em todos esses negócios é o funcionamento análogo ao marketplace, conectando ofertantes a seus compradores. Os serviços financeiros e de soluções para marketplaces correspondem a 85% do volume transacionado pela Hub Prepaid, com 50 empresas. Enquanto isso, os 15% restantes estão nos benefícios e gratificações, que atendem 4 mil negócios.
Enquanto isso, a Hub Risk é uma área de suporte a essas soluções, conectando-se a mais de 20 bureaus de crédito para fazer análises e garantir a segurança dos meios de pagamento. Esse é um diferencial em relação à concorrência, segundo Brito, que não costuma possuir um sistema antifraude desenvolvido internamente.
A Hub Fintech possui 250 funcionários hoje, sendo que a maioria está na área de atendimento, com 150 membros, e de desenvolvimento, com 60 membros. O negócio atingiu seu ponto de equilíbrio entre receitas (contando aí os investimentos de Wizard) e despesas em dezembro do ano passado.
A expectativa para 2018 é dobrar o volume financeiro visto em 2017, de 6 bilhões de reais. Isso inclui expandir suas operações para outros países da América Latina, como Argentina e México.
Sonhos com unicórnios
Segundo Brito, a Hub Fintech recebeu uma proposta de aquisição de participação minoritária, recusada por Carlos Wizard. Nessa negociação, o valuation da empresa foi estimado em 1 bilhão de reais. Segundo Wizard, hoje o negócio já está avaliado em 1,5 bilhão de reais pelo mercado.
Isso significa que quase metade do caminho para ser um unicórnio – startup avaliada em 1 bilhão de dólares – já foi percorrido.
“Eu vim para cá porque acho que é possível [ser um unicórnio]. Acredito que conseguiremos em três anos”, estima o CEO da Hub Fintech. “É uma forte candidata a ser, em breve, mais uma startup unicórnio brasileira. Tenho orgulho de ter apostado nesse projeto inovador”, completa Wizard por e-mail.
Apenas depois desse valuation é que uma oferta pública inicial de ações, ou IPO, na Bolsa de Nova York entrará para os planos do negócio. “A família [Wizard] é muito líquida, com bastante capacidade de investimento, então existe um plano de fazer nosso IPO, mas sem nenhuma pressa. É algo que temos em mente em um plano de cinco anos”, diz Brito.
Enquanto a estreia no mercado de ações não ocorre, a Hub Fintech continua uma empresa longe dos holofotes – mas no meio da ação.
Fonte: “Exame”