Alvos de operações das tropas federais que desembarcaram no estado para combater o crime organizado, os bairros de Acari, Barros Filho, Costa Barros, Parque Colúmbia e Pavuna integram a área mais violenta da Região Metropolitana do Rio. A conclusão é de uma pesquisa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp), da Fundação Getulio Vargas (FGV), em parceria com o aplicativo Fogo Cruzado. De julho de 2016 a junho deste ano, ocorreram, na região, 235 casos de letalidade violenta (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e autos de resistência), 1.755 roubos de veículos e 190 notificações de disparos de arma de fogo.
A pesquisa levou em consideração os dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), da Secretaria de Segurança, e os relatos de tiroteios que chegam ao Fogo Cruzado. Para as autoras do levantamento — a socióloga Maria Isabel Couto, da FGV, e a jornalista Cecília Oliveira, uma das criadoras do aplicativo —, o aumento da violência no estado está ligado à crise fiscal. O trabalho destaca que o fracasso econômico “levou à deterioração das condições de trabalho dos PMs, principais responsáveis pelo policiamento ostensivo”.
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— Eu não tenho dúvida de que a crise influenciou diretamente o cenário do primeiro semestre deste ano, no qual a capital, que era a área mais bem-sucedida em manter os indicadores de violência sob controle, aparece com índices em rápido crescimento — explicou Maria Isabel.
Falta de ações sociais pesou
O trabalho ressalta que a concentração de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na capital, sem a devida implantação de serviços sociais, contribuiu “para o espalhamento da mancha criminal e para a fragilização hoje observada nas unidades”.
— Com as UPPs, a violência na capital do Rio ficou controlada. Com isso, ela se espalhou para outras cidades. O Fogo Cruzado acaba trazendo para dentro do estudo um dado muito novo, que são os tiroteios frequentes com que passamos a conviver — frisa Maria Isabel.
De acordo com o aplicativo, 72% dos disparos de arma de fogo ou tiroteios registrados aconteceram na capital e 14%, nas cidades da Baixada. Em um ano, foram 5.345 relatos de disparos de arma de fogo no estado, uma média de 14 por dia. No período, houve 1.425 feridos a tiros e 1.349 pessoas mortas.
A pesquisa analisou os dados de áreas delimitadas por delegacias. Além da região da 39ª DP (Pavuna), a insegurança também é grave nos bairros sob a responsabilidade da 59ª DP (Caxias), 34ª DP (Bangu), 54ª DP (Belford Roxo), 64ª DP (São João do Meriti ) e 74ª DP (Alcântara, em São Gonçalo).
Confrontos tiraram alunos da escola em 64 dias
Além de ser apontada pelo estudo como a região mais violenta da Região Metropolitana, a área coberta pela 39ª DP (Pavuna) — onde ficam os complexos do Chapadão e da Pedreira — registra outros dados alarmantes. Os alunos das 46 unidades de ensino que ficam ali já perderam cerca de um terço do ano letivo de 2017 devido a operações policiais e confrontos. No total, foram 64 dias fora das salas de aula. Em março, Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, foi atingida por tiros de fuzil dentro da Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza, em Acari. Dois PMs respondem pela morte da adolescente.
E não é só a violência que preocupa. Os moradores de Acari, Barros Filho, Costa Barros, Parque Colúmbia e Pavuna têm baixa expectativa de vida, entre 64 a 69 anos, e renda per capita mensal, que varia de R$ 175 a R$ 286. Como resultado, os bairros figuram nas últimas posições do ranking municipal de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Para efeito de comparação, na Gávea, bairro com maior IDH da capital, a expectativa de vida é de 80 anos, e a renda per capita mensal, de R$ 2.139.
Desde o início do ano, militares da Força Nacional de Segurança reforçam a segurança nos acessos do Chapadão e da Pedreira, favelas controladas pelo tráfico e para onde é levada grande parte das cargas roubadas no estado. As ações das quadrilhas são facilitadas pela proximidade das comunidades de importantes corredores viários, como Via Dutra e Avenida Brasil.
Para a socióloga Maria Isabel Couto, da FGV, o uso das Forças Armadas no combate à violência é apenas um paliativo. Os militares, segundo ela, não estão preparados para a violência urbana:
— Não temos visto os indicadores de violência diminuírem com a presença das Forças Armadas no Rio. Nem os indicadores, nem os tiroteios.
A pesquisa mostra ainda que, entre janeiro e junho de 2016, foram 18.907 roubos de veículos na Região Metropolitana, o que equivale a 96,3% de todos os casos no estado. Já no primeiro semestre deste ano, o número subiu para 26.669, ou 96,8% do total do estado.
Fonte: “Extra”
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