Melhora nas notas da Prova Brasil mostra possíveis caminhos para evolução da educação no país
Um estudo inédito da Fundação Lemann mostra alguns possíveis caminhos para melhorar o aprendizado de português e matemática em colégios que atendem a alunos de baixa renda familiar. Baseada no cruzamento de dados da Prova Brasil, a pesquisa lista 215 escolas públicas que tiveram evolução no nível de proficiência das duas disciplinas entre 2007 e 2011.
Denominadas grupo tratamento, essas 215 unidades escolares tiveram seus resultados comparados aos do grupo controle de até outros 3 mil colégios com características similares (Ideb semelhante em 2007, mesmo nível socieconômico, localização e número de matriculados próximos), mas que não atingiram alto desempenho em 2011.
O estudo é complementar à pesquisa “Excelência com Equidade”, centrada em seis escolas em 2012, alvo de reportagens especiais de “O Globo” no mesmo ano. Segundo a pesquisa, alguns fatores explicam a evolução no nível de proficiência, como ambiente e clima escolares favoráveis, condições de funcionamento de equipamentos e instalações, oportunidades de aprendizado, condições de trabalho dos professores e coesão intraescolar.
Ernesto Martins Faria, coordenador de projetos da Fundação Lemann, explica que nesse último tópico é avaliado se o ensino que a escola oferece aos alunos é muito influenciado pela troca de ideias entre os professores, se os docentes coordenam o conteúdo das disciplinas entre as diferentes séries e se o diretor e demais membros da equipe colaboram para fazer a escola funcionar bem.
— O estudo qualitativo já apontou a importância de um fluxo aberto e transparente de comunicação e de um bom ambiente escolar — explica Faria. — Como a educação é um processo contínuo, e as salas de aula são muito heterogêneas (os alunos aprendem de diferentes formas), a coordenação entre os educadores e a troca de experiências é fundamental.
Colégios do Rio são municipais
Das 215 escolas com excelência e equidade, 109 ficam em Minas, 31 no Paraná, 21 em São Paulo, 18 no Ceará e oito no Rio. O mapa completo com os detalhes de cada escola por estado pode ser acessado em www.qedu.org.br. Faria chama a atenção também para um efeito das redes de ensino estaduais e municipais em alguns locais, como em Minas, que concentra mais que o dobro das escolas da pesquisa:
— Há, de fato, um impacto da rede de ensino, pois vemos muitas escolas estaduais que passaram pelos critérios — pondera. — Mas várias são municipais de redes bem pequenas, então algumas que passaram pelos critérios conseguiram devido a ações que estão mais no controle da escola. Já o bom resultado do Ceará está ligado à boa articulação da rede estadual com as redes municipais do estado.
Todas as oito escolas do Rio são municipais e estão concentradas na capital. No Ciep Presidente Agostinho Neto, no Humaitá, é a diretora Marcia Nunes que recebe no portão os cerca de 500 alunos, da educação infantil ao 5º ano. Chegando pela manhã, eles vêm de comunidades carentes como Rocinha, Vidigal, Santa Marta, Tabajara e até da Baixada Fluminense. Entre 2007 e 2011, o nível de aprendizado considerado adequado no 5º ano pulou de 29% para 79% em português, e de 24% para 87% em matemática.
Logo na entrada, a diretora adverte dois meninos de que não quer mais nenhuma situação de briga entre eles, ao que respondem com um abraço. A ausência de violência é um dos fatores que influenciam o ambiente escolar.
O clima parece mesmo familiar. Às quintas-feiras, a biblioteca é aberta aos pais, que assistem à mesma aula que a professora Amália Araújo dá às crianças, seja com narração de histórias ou rodas de leitura. Lá, funciona também um cineclube e uma oficina de origami. Mãe de dois alunos da escola, Eline dos Santos compareceu à atividade na última quinta.
— Sempre que posso, participo, para saber o que eles estão aprendendo. Meus filhos adoram, e eu também — diz Eline.
Aulas de alimentação saudável
Também há problemas. A fechadura da porta da biblioteca é colada com durex devido a um arrombamento que terminou com o furto de um monitor. Em outro ambiente, uma professora faz referência a goteiras. Mas há laboratório de informática com agente inclusivo, as salas são equipadas com datashow e TVs, e alguns professores usam microfone para dar aula.
Na área externa, um parquinho com a vista para o Cristo e uma mini-horta conferem clima bucólico e ajudam no aprendizado. A professora Magda Alves, que já ensinou na prática alunos do 4º e do 5º anos a metragem de canteiros e polinização, agora planta novas sementes junto com as crianças da educação infantil.
— Estamos ensinando o alfabeto e plantamos primeiro alface. Noutro dia, colhemos aipim. Cada turma planta um tempero, como alecrim, depois colhe, e incluímos na merenda. Também trabalhamos a boa alimentação — explica Magda.
Para a diretora Marcia Nunes, mais do que atingir metas em avaliações, o objetivo é que os alunos tenham a chance de aprender com equidade.
— Os professores trocam material, dão sugestões para tentar manter uma unidade entre as turmas, de forma que os alunos avancem sem discrepância.
Fonte: O Globo
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