Combater as fake news sobre as eleições é a mais difícil de todas as missões assumidas pela secretária-geral do Tribunal Superior Eleitoral, Aline Osório, entrevistada neste episódio do A Malu Ta ON.
Esta foi a única tarefa que a advogada de 33 anos reconheceu não ser capaz de cumprir na conversa com a jornalista Malu Gaspar. “Em 2018 se propagandeou que as fake news eram uma guerra que se poderia vencer. Eu não tenho essa ilusão. A produção de notícias falsas e a disseminação em larga escala nas redes sociais é um fenômeno que veio para ficar“.
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A função da crítica
O fato de o próprio presidente da República difundir notícias falsas sobre as eleições todo dia – a última, nesta sexta-feira, foi dizer que “sem eleições limpas não haverá eleições” e chamar de imbecil o chefe de Aline, presidente do TSE Luis Roberto Barroso – indica que o fenômeno tende a crescer cada vez mais.
Mas, para Aline, tirar conteúdo das redes nem sempre é a melhor forma de combater a desinformação. “Essa deveria ser a última alternativa”, diz ela.
Por outro lado, deixar a onda de informação mentirosa crescer pode dar margem para que a notícia verdadeira não chegue a quem precisa. “As pessoas passam a não ter acesso a informação e notícias verídicas e de qualidade, inclusive sobre as eleições”, disse.
Neste episódio do A Malu Tá ON, ela conta que, apesar de Jair Bolsonaro insistir que houve fraude nas eleições de 2018, ninguém pediu a recontagem dos votos, nem dados para a rechecagem.
“As entidades podem pedir depois das eleições todos os arquivos que foram usados nas eleições, para verificar. Se os partidos que questionam o resultado tivessem interesse em conferir, sabemos que o fundo partidário tem dinheiro suficiente para contratar especialistas para isso. E nas eleições de 2018 não houve pedido. Isso poderia ter sido feito”, ela diz. “Ninguém fez”.
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Crítica do voto impresso defendido arduamente pelo bolsonarismo, Aline afirma que a contagem em papel não vai sanar a insatisfação sobre as eleições, já que sua principal causa é o ambiente político polarizado no Brasil. Pior: pode acabar alimentando o descrédito sobre as eleições e sobre a confiabilidade na nossa democracia.
“É ingênuo achar que a implantação do voto impresso vai calar algum discurso de fraude”, afirma. “Quantos candidatos derrotados vão pedir recontagem e vão querer questionar o resultado e na Justiça? As eleições ao final vão ser decididas por juízes, não pelos cidadãos. A política vai se tornar uma grande guerra de liminares e não de propostas e disputa legítima de candidatos”. Confira a matéria na íntegra!
Fonte: “O Globo”, 10/07/2021
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil