Vocês sabiam que a categoria racial “negro” não existe oficialmente? Nem sequer para o IBGE? No sistema atual, utilizam-se cinco possibilidades: branco, preto, amarelo, pardo e indígena. Então, o que isto significa?
Negro, no Brasil, é a junção das pessoas que se declaram pretas com as pessoas que se declaram pardas, para fins de divulgação das estatísticas. Ora, e quem são os “pardos”? São todos os brasileiros misturados e que se originaram da miscigenação entre brancos e pretos. Para onde foram os mamelucos? E os cafuzos? Esses não têm espaço.
Todos são obrigados a serem pardos! Mas se “pardo” é a mistura de brancos e pretos, por que eles são contabilizados como “negros”, em vez de “quase brancos” (já que possuem ascendentes dos dois grupos)? Porque os arautos da racialização querem nos tornar um país bicolor, aos moldes dos Estados Unidos! Eles lastimam o fato de nos reconhecermos miscigenados e entendem isso como retrocesso, em vez de reproduzirmos o ideal birracial dos EUA. Pensam como colônia e refutam a identidade nacional. Querem a formação de identidades bipolares (branca e preta) e recusam a identidade brasileira.
Um dos grandes problemas para os teóricos racialistas é a dificuldade que o brasileiro tem de se reconhecer pardo. Ninguém quer ser pardo. Todo mundo quer ser moreno.
Pesquisa divulgada em julho de 2011 pelo IBGE afirma que a esmagadora maioria dos que foram identificados como pardos prefere se utilizar do termo moreno. Por que, então, existe tanta resistência à adoção do termo moreno? Ora, se adotássemos moreno, em vez de pardo, este grupo representaria a esmagadora maioria, e, assim, ficaria difícil pleitear oportunidades para grupos outrora minoritários: a causa perderia legitimidade.
Por outro lado, as estatísticas relativas às condições sociais também melhorariam substancialmente. Isto porque, em muitos casos, apenas os dados sociais relativos aos pretos — que compõem 7% da população — são divulgados. Por exemplo, quando se utiliza da afirmação de que apenas 8% dos pretos estão no curso superior, olvidando-se, oportunamente, a categoria dos pardos, que representam 32% dos estudantes universitários do país.
Esta tormentosa questão, tipicamente brasileira, nunca comoveu os pesquisadores americanos. Elucidativo é o fato de que os principais livros que abordam a questão das ações afirmativas nos EUA passam ao largo do problema que tanto nos atormenta: defina quem é negro no Brasil? Pode-se dizer que é, no mínimo, curiosa a observação de brasilianistas americanos sobre o critério multirracial brasileiro, classificando- o como confuso. Nesse sentido, confira-se com Thomas Skidmore, quando afirma: “O sistema classificatório multirracial empregado pelos brasileiros costuma confundir e desorientar visitantes estrangeiros, inclusive sociólogos e antropólogos profissionais.”
A observação se torna curiosa porque a regra da ancestralidade, da uma gota de sangue, para eles, parece ser de uma nitidez cristalina. Assim, classificar uma pessoa loura, de olhos azuis e pele claríssima como preta parece ser a coisa mais óbvia e inteligível do mundo! Este foi o caso do Walter White, que não só era louro dos olhos azuis, mas foi por 25 anos presidente da maior organização a favor dos negros nos EUA. Eu sou brasileira e não quero ter que pensar sobre mim mesma a partir de minha cor. Sou muito mais do que isso!
Fonte: O Globo, 09/08/2011
Vale ressaltar que pode ser confuso o que os estudiosos acham do sistema no Brasil em função de cor de pele.Somos miscigenação em todos os sentidos.
Houve a escravidão por cem anos, e eles, os “negros”, seja lá de que forma que se pinte a cor, foi quem sofreram por nós,e na verdade,nunca, nem eles, nem nós, estamos libertos.
Assim não fosse o “branco” de olhos azuis, não seria Presidente de uma oraganização em defesa dos “negros”.
Minha pele é branca.
Não sou a favor de cotas.
Concordo plenamente, a Roberta Kaufmann é muito mais que sua cor!!
Adorei 🙂
Ótimo artigo! Acho que está na hora de pararmos de pensar o Brasil como um país com cidadãos divididos entre classes e raças e aceitarmos que somos todos brasileiros com os mesmos direitos e deveres (ou pelo menos esse seria o ideal).
Aqueles que defendem a igualdade estão trocando o socialismo pelo “racialismo”. Um contrassenso. Parabéns Roberta!
Os olhos da procuradora Roberta Menezes,somente ver aquilo que apropriado para ela.Será que nunca leu os relatórios da Onu,sobre a violencia no Brasil,onde as maiorias dos mortos são negros?Estou falando no período de 1979-2003,76% deles eram negros.Somente não vale dizer que a Onu é petistas.
Doutora Roberta,as cotas é um fato e todos os argumentos contrários a lei caíram por agua abaixo.Falta mais sabedoria e um debate rico em torno do tema.
Sou a favor das cotas como indenização.
Pena é ver a reação de voces contrários as cotas em dizer que todos os favoráveis a lei são racialista.
Poderiamos ampliar o debate e discutir como acabar com o racismo e não vim mais com essas conversas tolas e mentirosas.
Todos nós sabemos que somos mestiços e isso não impediu as diferanças entre ambos os grupos.Não impediu a exclusão da maioria negra e a total miséria em que vive sua população.
Parece que as pessoas estão inquietas desde que começamos a contar a nossa historia.
indenizaçao para quem, fabio?
a escravidao é uma chaga, uma vergonha internacional.
mas nao se pode culpar no presente pessoas que nao sao nem descendentes daqueles que cometeram crimes no passado.
entao, vamos mandar a conta para portugal, inglaterra, áfrica (todos sabem que os mercadores árabes já negociavam escravos africanos vendidos por pessoas da própria regiao) e para a pequena elite que negociava africanos no brasil no século XIX.
o que nao é correto, senhor fabio, e nao tem argumento convincente, é uma pessoa que tirou 5 em uma prova entrar no lugar de outra que tirou 7. e neste quadro nao me importa a cor da pele da pessoa.
uma pessoa nao pode ser prejudicada ou beneficiada
pela cor da pele.
sob nenhuma argumentaçao.
nao misture as coisas, fabio.
todos têm o direito de contar a sua história.
ninguém diz que a escravidao nao foi cruel e absurda.
Caro Fábio,
Os números não mentem. Mas a interpretação que é dada aos números sim.
A ONU, o IPEA, o IBGE e todos os Institutos do mundo podem fazer coletas de dados no Brasil.
Eu não acho que esses números sejam uma mentira.
Mas é manipulação a interpretação conferida aos números.
Dizer que “80% dos negros no Brasil não têm acesso a esgoto” é prova de racismo é de uma estupidez tremenda.
Os negros possuem os piores indicadores sociais porque a maioria é POBRE,infelizmente.
É preciso fazer políticas públicas destinadas aos pobres, de todas as cores. E combater o racismo na esfera penal, com todo o rigor possível.
Não se combatem preconceito e discriminação criando políticas públicas baseadas na raça.
NÃO EXISTE RACISMO BOM, NEM RACISMO POLITICAMENTE CORRETO. TODO RACISMO É PERVERSO E DEVE SER EVITADO.
Sou contra cotas, creio que tem que acabar com isso de discriminar, discriminando.
O fato que a dra.pautada em estudos, passou é que não existe a cor “negra”, os fatos mostram que sim.Não sou hipócrita,tenho filhos, e então eles são disicriminados pois não entram em “sistemas de cotas”, é discriminção, me solidarizo com a dor da escravidão qualquer que seja, a dos negros pode ter sido a pior.
A inteligência, ou não, não provém de cor.Idenização passa a ser humilhação, é relembrar.É…
Ampliar o debate? Para mim, estreita é a ideia de que todos tem de chegar na linha de chegada juntos, em vez de terem o mesmo início. Parece que todos que são a favor das cotas querem criar algum sistema para “nivelar” a sociedade. O governo deveria combater isso ao oferecer uma educação melhor para todos desde a alfabetização, não quando as pessoas vão para a universidade, ignorando a meritocracia e usando um método racista de escolha. Negros, brancos, ou mestiços, todos somos brasileiros.
É, Dona Roberta Fragoso, parece que a aula que o Zulu Araujo te deu no forum sobre as cotas não surtiu efeito. Vai ter que pedir reforço.
Por razões de geografia, eu moro no Brasil e meus filhos nos EUA. Nasceram metade lá e metade cá. Entre os loiros e olhos azuis há uma linda morena, filha adotiva, 23 anos, simplesmente encantadora! Ah! Como eu vibro quando leio o que a Dra. Roberta publica! São filhos extraordinários, os três jovens, e a mais bela morena sobre a face da terra! Viva!!!
O negro de hoje sofre as consequências da escravidão enfrentando o preconceito. Institucionalizada ou não, aprende-se desde muito cedo o que é discriminação racial por aqui. Não se trata, portanto, de mandar a conta para outros países. O negro participou e participa da construção do país e continua sendo minoria na hora de receber a contrapartida do Estado. Essa igualdade neoliberal se contrapõe totalmente ao princípio de equidade e mantem as desigualdades ao invés de tentar eliminá-las.
Cotas raciais, eis um ótimo pretexto para posar de benemérito quando, especiosamente, desvia o foco da degradande educação nacional. É como elogiar um malfeitor.